Outras férias

Por Roberta Dalbuquerque

Férias

Cancelamos as passagens do janeiro pernambucano. Ponto. Agora, em janeiro mesmo, completamos - as meninas e eu - um ano sem encontrar a minha mãe, meu pai, minha irmã e as crianças dela, os
tios, os primos e o mar de Boa Viagem.

A casa inteira já se preparava para as férias. Na semana passada chegaram pelo correio o biquíni da
Lalá e o maiô da Sofi. E sim, é péssimo comprar roupa de banho online, mas já nos faltava coragem
de ir até uma loja física para prová-los. Os do ano passado não servem mais. Assim como já não
cabem os shorts e as camisetinhas de verão. Cresceram. Percebemos o quanto na hora de fazer as
malas. Quase um ano sem sair para pegar sol.

Nas malas havia também o desejo do calor de Recife. Esse que a gente sente na pele suada desde o
primeiro segundo em que se sai do banho, até aquele outro que só é possível experimentar quando
estamos diante - fisicamente - dos nossos. Havia a certeza da mesa de café da manhã ocupada até
quase a hora do almoço. Mesa posta, tanto para o café quanto para o almoço, com a louça nova que
mainha adora tirar do armário quando a gente chega. Havia o rodízio de quartos combinado entre
as crianças, o cardápio que a minha mãe escreve no caderninho desde que a gente é pequena. Tem
que ter isso, que fulano adora, e aquilo outro, que beltrano tá com vontade. A ida à casa dos doces
para comer surpresa de uva, e à casa de tia Lena, claro, mais doce do que qualquer surpresa.
Haveria o abraço em Poly e a tão esperada convivência com Celina, minha sobrinha nova que só vi
uma única vez.

Mas como vocês sabem, longas horas à mesa, aglomerações, visitas e abraços não são
recomendados. Janeiro não se anuncia bem no nosso país. As horas de avião e aeroporto

comprometeriam qualquer exame negativo que pudéssemos levar embaixo do braço. Teve choro,
tentativas mil de fazer dar certo e agonia na troca intensa de mensagens que antecederam a
decisão. Mas teve também senso de responsabilidade, teve cuidado. Nenhum motivo pode ser
considerado bom para cancelar o encontro. Mas alguns são grandes o suficiente. Ano que vem, a
essa altura, escreverei pra vocês com meus pés na areia da praia. E há de ser um texto menos duro,
prometo tentar. Boas festas queridos.