Com desemprego em baixa, mercado para brasileiros melhora nos EUA

Por Arlaine Castro

Como funciona o mercado americano

Natural de Salvador, Augusto Alagia, que já foi empresário no Brasil e em 2016 resolveu abrir a "The Captain Painter" - uma empresa de pintura residencial e comercial em Fort Lauderdale. Hoje, empregando em torno de 15 brasileiros e outros 12 funcionários americanos e latinos, ele conta que só depois de dois anos foi entender de verdade como funciona o mercado de "business" americano, está com vagas abertas para brasileiros que moram ou possam trabalhar legalmente no país e planeja expandir ainda mais o negócio. "O mercado americano é muito competitivo, porém, profissional e sólido. É um mercado com baixo desemprego, onde as pessoas crescem e investem porque o ambiente de negócios possibilita isso. Você consegue se planejar. Para se destacar no mercado americano o segredo é a dedicação e trabalho duro, principalmente nos primeiros anos", destaca. Diferente das incertezas do mercado no Brasil, o empresário aponta que o mercado é bom, há valorização para o empreendedor e alta competição que traz a necessidade de sempre pensar além. 'Se você não trabalhar duro, não conquista. Criar um diferencial, pensar além, ser único - tudo isso inclui o processo de empreender nos EUA. Aqui o criador de empregos é muito valorizado", salienta Alagia que busca por profissionais para ocupar vagas de gerente (trainee), pintores, ajudantes e vendas. Brasileiro "arregaça as mangas" e tem fácil adaptação A facilidade de adaptação é uma característica positiva dos trabalhadores brasileiros apontada por Alagia. "Os comprometidos com o trabalho vêm com vontade de crescer e melhorar de vida por meio do trabalho. Se adaptam melhor, conseguem passar por diferentes funções, departamentos e conseguem ser multitarefa", destaca. 90% dos brasileiros escolhem a Flórida para empreender, aponta pesquisa Outro ponto positivo dos brasileiros é não ter medo de "arregaçar as mangas" para trabalhar. Muitos inclusive com formação superior e que no Brasil eram arquitetos, advogados ou engenheiros, hoje são pintores e enxergam esse potencial da construção civil de rentabilidade e crescimento. Ter a vontade de aprender o inglês faz toda a diferença e poucos brasileiros conseguem passar esse obstáculo porque, segundo o empresário, requer também de dedicação e visão de crescimento pessoal. "Muitos não têm o inglês suficiente bom e isso atrapalha até mesmo para crescer dentro da empresa", explica. Com visão para ampliar a atuação na área imobiliária e desenvolver os próprios profissionais, está em fase de criação a "The Captain Studios" - uma empresa voltada para geração de conteúdo e crescimento profissional, com foco, inclusive, para a comunidade brasileira. [caption id="attachment_191030" align="alignleft" width="379"] A empresária Tayse Dantas pretende abrir outras lojas até 2020. Foto: arquivo.[/caption]

Calçados do Brasil para brasileiros

Há apenas dois meses em Deerfield Beach e com seis funcionários - a maioria brasileiros - a Maré Shoes veio para preencher uma lacuna no mercado americano para o público conterrâneo. Por vinte anos trabalhando com venda de calçados no Brasil, a empresária Tayse Dantas conta que resolveu ingressar no mercado da Flórida após perceber a falta sentida por brasileiros que moram nos EUA mas não gostam dos modelos tradicionalmente vendidos nas lojas. "Eles não se adaptavam com calçados daqui que geralmente são importados da China e não calçam bem. Reclamavam que era muito duro, que machucava o pé, etc. Percebi então essa necessidade do próprio consumidor brasileiro ter um produto que conhece e gosta aqui. Eles compravam quando iam ao Brasil ou pediam para algum amigo ou familiar trazer", detalha.

Um mercado desafiador

Com a loja estrategicamente localizada e com todo um planejamento anterior, mesmo assim Dantas diz que o mercado americano é desafiador. "É um mercado maduro, extremamente competitivo e que exige qualificação. Não é tão fácil como todos pensam e ainda tem a questão do dólar estar bem mais valorizado que o real. Exige um capital alto. Tudo o que você vai investir aqui, você tira do real e tem que multiplicar para o dólar", afirma Dantas aconselhando quem pensa em fazer um investimento no momento. Além disso, a empresária cita também como desafio o fato de introduzir no mercado um produto desconhecido dos americanos -"o que requer todo um trabalho de explicar sobre as marcas que eles não conhecem, os produtos, a qualidade dele, para que adquiram confiança e autorizem a entrada, a comercialização e se tornem consumidores desse produto", explica. Por outro lado, completa a empresária, por causa do dólar alto e o real mais desvalorizado, comprar a mercadoria ou matéria-prima no Brasil e trazer para cá é onde se ganha. A loja vai ganhar em breve outras filiais. "Pretendemos abrir umas cinco lojas e a próxima será no Boynton Mall daqui uns 15 dias. Além dessa, para o ano que vem, a projeção é abrir outras três lojas. Até o final de 2020 esperamos poder empregar em torno de 25 brasileiros na rede", finaliza. *Greenfield investment - é um tipo de investimento direto estrangeiro (IED) no qual uma empresa-mãe cria uma subsidiária em um país diferente, construindo suas operações desde o início. Leia também Brasileiros levam sorrisos e alegria a hospitais e asilos da Flórida