Com surto pelo país, ameaça de sarampo cresce na Flórida

Por Arlaine Castro

Erradicado totalmente nos Estados Unidos há quase 20 anos, o sarampo vem preocupando autoridades de saúde com aumento de casos. Na Flórida, apesar de ter somente um caso até o momento, o ano passado foi o de maior número da doença em um período de oito anos, com um total de 15 moradores com a doença, enquanto de 2013 a 2017, menos de 10 casos foram relatados por ano, segundo o Departamento de Saúde. Segundo os números dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), a alta de casos da doença e o número de pedidos de isenção de vacina aumentaram no mesmo período. De acordo com o CDC, este ano, em uma semana foram 90 casos registrados no país- o maior número para o período - e o número total deste ano já somava 555 até a quarta-feira, 17. Um aumento expressivo considerando que ao longo de 2014, o pior ano da história, foram 667 casos notificados. "Os EUA podem estar caminhando para o pior ano desde que a doença foi erradicada em 2000", informou os Centros de Controle e Prevenção de Doenças na última segunda-feira, 15. Surto de sarampo faz NY declarar emergência e exigir vacina Os estados que reportaram casos aos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) este ano são Arizona, Califórnia, Colorado, Connecticut, Flórida, Geórgia, Illinois, Indiana, Kentucky, Maryland, Massachusetts, Michigan, Missouri, Nevada, Nova Hampshire, Nova Jersey, Nova York, Oregon, Texas e Washington. Destes, cinco estados relataram surtos com cinco ou mais casos ligados a viajantes que vieram de outros países, como Israel, Ucrânia e Filipinas, onde grandes surtos de sarampo estão ocorrendo. Para o médico do sul da Flórida, Dr. Richard Silva, a taxa de vacinação no estado é alta e o maior número de casos é associado a viagens internacionais, mas mesmo assim, Dr. Silva salienta alta ocorrência entre indivíduos não-vacinados. "Mesmo com a vacina, alguns vírus são resistentes, como o sarampo - que é muito contagioso, quase 100% de contágio. Além disso, muitas pessoas não estão sendo vacinadas, então estamos perdendo a imunização geral do país", explica. Isenção de vacinas A Flórida não permite isenções de vacinas por motivos pessoais - apenas médicos ou por motivos religiosos. Em todo o estado, cerca de 11.500 crianças - quase 6% dos 200.000 estudantes - iniciaram o ensino público no jardim de infância neste ano letivo com alguma forma de isenção das vacinas exigidas, conforme apurado junto aos Departamentos de Escolas Públicas e de Saúde do estado. De acordo com a lei estadual, as crianças devem ser vacinadas para frequentar escolas públicas ou privadas, mas há exceções que retiram essa obrigatoriedade, como alergia a alguma vacina com comprovação médica. Já as isenções religiosas exigem apenas a assinatura de um dos pais em um formulário do departamento de saúde do condado. Autoridades de saúde informam caso de sarampo no condado de Broward O número de crianças não vacinadas devido a isenções religiosas quase quadruplicou entre 2011 e 2018, para cerca de 25.000 na Flórida. O maior salto aconteceu nos últimos dois anos, segundo o Departamento de Saúde. Os alunos de escolas públicas de ensino fundamental com isenções religiosas aumentaram em cerca de 35% nos últimos cinco anos, segundo a apuração. Ao contabilizar todas as crianças de até 18 anos, incluindo as de escolas particulares e pré-escolas, entre 2013 e 2018, o total de isenções religiosas na Flórida aumentou de cerca de 12.200 estudantes para cerca de 25.000 - um aumento de cerca de 105% nesse período, de acordo com dados fornecidos pelo Departamento de Saúde da Flórida. O maior salto aconteceu no ano letivo de 2018, quando o estado concedeu mais 5.300 isenções religiosas, quase 25% a mais que em 2017. Para os pediatras veteranos que viram o número de casos de sarampo diminuir ao longo dos anos, a tendência ascendente é alarmante. "O sarampo é como um tubarão que está sempre procurando por um buraco na rede. É uma das doenças mais infecciosas que existe", disse o Dr. Kenneth Alexander, chefe da divisão de doenças infecciosas do Hospital Infantil Nemours, em Orlando, ao Sun Sentinel. Com filhos em idade escolar, Larissa Ferreira faz uso da isenção médica da vacina para eles e entende que "todas as pessoas com doenças autoimunes deveriam ter a isenção. Ferreira exemplifica que um exemplo de doença autoimune muito ignorada é o eczema, "que muitas vezes desenvolve para asma", afirma Ferreira. [caption id="attachment_183560" align="alignright" width="333"] Roberta Walker, cujo filho Kevin, de 6 anos, é vacinado.[/caption] Imunização De acordo com o Departamento de Saúde da Flórida, o objetivo é ter 95% das crianças imunizadas no momento em que entram no jardim de infância, mas nem a metade de seus condados alcançou esse objetivo. “O sarampo pode ser impedido de se espalhar quando uma alta porcentagem da população é vacinada contra ele. Chama-se imunidade de rebanho. Quando as taxas de imunização caem abaixo de 91% a 95%, as chances aumentam para um surto de sarampo”, informa o departamento. Vacinar ou não? Polêmico, o tema vacinação divide opiniões. "Extremamente perigosa para outras crianças que vão estar no mesmo ambiente que outras que não são vacinadas por opção dos pais. Doenças que já haviam sido erradicadas estão reaparecendo por conta dessas decisões", escreveu Elen Lucena ao questionamento do Gazeta News na internet. Outra brasileira pondera sobre a realidade de crianças que não podem ser vacinadas. "Algumas crianças não podem ser vacinadas contra algumas doenças devido a outros problemas de saúde. Neste caso elas podem sim adquirir doença de crianças cujos pais simplesmente se negam a vacinar", salienta Roberta Walker, cujo filho Kevin, de 6 anos, é vacinado. Physicians for Informed Consent Para um grupo de especialistas que contradizem a vacinação, a indústria farmacêutica visa o lucro e questiona como essas doenças são "alardeadas". "A vacina contra sarampo, caxumba e rubéola (MMR) é mais segura que o sarampo?". Este é um dos questionamentos que a Physicians for Informed Consent - primeira organização médica dedicada a salvaguardar o consentimento informado na vacinação, faz. O site physiciansforinformedconsent.org é formado por um grupo de médicos e especialistas que buscam esclarecer sobre a necessidade ou não da vacinação infantil. "É nossa responsabilidade, como médicos, proteger nossos pacientes. Não vamos decepcioná-los. ", diz Shira Miller, M.D., Fundador e Presidente da PIC. Morte de criança não vacinada na FL reacende debate sobre vacinação infantil Afinal, vacina causa autismo? Enquanto os médicos encorajam os pais a vacinarem crianças com duas doses da vacina MMR-conhecida no Brasil como tríplice viral (que protege contra caxumba, sarampo e rubéola)- , um grupo crescente se opõe à vacinação, por acreditar que afeta o desenvolvimento de seus filhos ou que podem levar ao autismo. No entanto, estudos científicos e médicos ainda não confirmaram a ligação entre vacinas - ou qualquer um dos seus ingredientes - e o autismo. Sarampo Contagiosa, a doença é transmitida pelo ar pela respiração, tosse ou espirro e pode se espalhar quatro dias antes do primeiro sintoma aparecer. O departamento estadual de saúde está solicitando o teste do sarampo para qualquer pessoa que apresentar uma combinação de sintomas como febre, tosse, mal-estar, conjuntivite, coriza, perda de apetite e manchas brancas na parte interna das bochechas. Depois de três a cinco dias da infecção do sarampo, surge uma erupção cutânea que geralmente começa ao redor do pescoço e se espalha para o resto do corpo. Não há cura para o sarampo, apenas o tratamento dos sintomas. Na terça-feira, 16, a Organização Mundial da Saúde informou que os casos de sarampo aumentaram globalmente 300% entre janeiro e março, em comparação com 2018. Leia também Falta de vacinação pode causar surtos de doenças nos EUA, aponta pesquisa O aumento de doenças outrora erradicadas e o dilema da vacinação infantil Por que doenças como sarampo e pólio voltam a ameaçar o Brasil Miami confirma caso de sarampo em criança sem vacina