Comentando a contação de histórias

Por AOTP

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Sempre gostei de ler e escrever; fiz teatro durante muitos anos de minha vida, motivo pelo qual tenho a oportunidade de ensinar Arte em escolas públicas. Além do teatro, ao longo da caminhada, aprendi novas técnicas e rumos, e a contação de histórias aconteceu em minha vida através do convívio religioso.

Assim que entrei na faculdade, a contação falou mais forte e tomou meu lugar nos longos anos de banco de faculdade.

Primeiramente, o professor da disciplina “Teoria da Literatura” utilizou-se desta facilidade minha e de uma amiga para apresentarmos contos clássicos e envolvermos a turma. Nossa primeira apresentação oficial foi Édipo Rei, em uma montagem para contação de histórias encenada, com jogo de luzes e maquiagem. Fora um marco! Não paramos mais.

Na sequência do curso de Letras, a coordenadora do Departamento de Latim me convidou para mais uma vez contar histórias. O projeto englobou alguns alunos da graduação e o ensino médio noturno de uma escola pública próxima à faculdade.

Em vistitas semanais, escolhíamos um mito, trabalhávamos sua contação e curiosidades e encantávamos os alunos com as novidades de nomes, lugares, coisas antigas que usamos até os dias hoje, etc.

O poder da contação de histórias naqueles dias fez com que os alunos frequentassem a biblioteca, pois antes não o faziam.

A necessidade do falar, do contar é latente principalmente para os estudantes. Portanto, a partir deste meu relato, observo que o momento do contar em sala vai se extinguindo ao longo da caminhada acadêmica do aluno. Percebam:

• Na da educação infantil, a professora explora rodas de conversa, procura conversar com os alunos sobre os acontecimentos de casa, conta histórias, os faz contar;

• Nos anos iniciais do ensino fundamental, a fala é suprimida e restrita ao professor. Os pedidos de silêncio são contundentes, a fala é a todo tempo trocada por redação, exercícios e explanações docentes;

• Nos anos finais do ensino fundamental, as conversas em sala são apenas as paralelas. O professor fala solitário na frente da turma e poucas são as vezes que as dúvidas surgem, portanto, a fala é mais uma vez suprimida;

• No ensino médio a fala não é explorada como ferramenta pedagógica, não ocupa lugar entre os alunos, somente há a conversa paralela e os questionamentos ao mestre são quase nulos;

• Quando e se o aluno chega ao ensino superior, seu pesadelo se inicia nos primeiros momentos. Há mais de uma década sem se apresentar em público, sem contar suas histórias, sem realmente se expor publicamente, começam as apresentações de trabalho, defesa de monografias, teses e o terror toma conta dos alunos. O que mais ouvimos é a célebre frase: “Eu não sei falar em público!”

Pensando neste pequeno panorama, onde de certo temos errado enquanto educadores no que tange ao falar, ao contar, pergunto: por que os pequenos falam tanto e quando vão crescendo vamos, literalmente, “cortando” esta capacidade nata do ser humano? Acredito que seja algo a se refletir para mudar.