Comentando sobre preconceito linguístico
Fernanda Sevarolli Creston Faria*
A questão da linguagem envolve muito mais que sons, palavras e frases. Envolve a personalidade do indivíduo falante, sua realidade e o local de pertencimento deste enquanto interagente de determinada língua.
Quanto mais o tempo passa, mais as marcas de fala vão se adensando em meio aos falares e regionalismos próprios e sotaques variados.
Prova disso são os regionalismos que marcam o português do Brasil como único e, ao mesmo tempo, diversificado por região. Palavras e usos concernentes a determinado local fazem do português do Brasil uma singularidade de uso que deve ser observada, sendo que este já o é em muitos estudos e pesquisas.
Além disso, quando falamos em regionalismos, marcas e grupos de fala, percebemos uma coisa nova sobre a linguagem que a sociolinguística explica e explora em seus anais, mas a maioria das pessoas ainda ignora e muitos gramáticos ainda criticam: o preconceito linguístico.
Marcos Bagno, linguista conhecido no Brasil, tratou do assunto em um livro específico para o assunto1 e, mesmo após esta publicação, o preconceito ainda floresce de forma agressiva e massiva no país.
Você já ouviu uma pessoa do interior falando? Ou funqueiros conversando? Ou ainda detentos batendo papo? Já percebeu que há particularidades na fala destes e de muitos outros grupos sociais?
Devido a estas particularidades, acontece por partes daqueles “falantes cultos” em muitos momentos o famigerado “preconceito linguístico”, que é tópico de debates por parte de muitos, mantido por outros, explicado e rechaçado por Bagno, de forma inteligente e bem fundamentada em seu livro.
É preciso esclarecer que, como Bagno, acredito nas particularidades de uma língua falada por um país imenso e que carrega em seu escopo a herança de anos de colonização, mudanças e estrangeirismos, além dos regionalismos marcados tanto por influência do coloquial, quanto do formal. Acredito ainda que na construção de uma língua a influência do indivíduo determine sua riqueza de detalhes e propriedades que vão culminar em falares diversos e grupos de fala ainda mais diversos ainda.
Ou seja, a existência da língua total não deve ser suplantada apenas pelo cultivo da norma culta, mas deve ser respeitada por suas singularidades, heranças e marcas locais que a enobrecem dia após dia.
Portanto, quando perceberem alguém criticando o jeito de outrem falar, o sotaque ou uso de determinada palavra ou frase por alguma pessoa, leve em consideração seu local de pertencimento e o objetivo de cada colocação a ser interpretada, que deve ser vista como a língua, que sendo uma em várias, é perfeita em si por ser real e única.
___ 1 BAGNO, Marcos. Preconceito linguístico – o que é, como se faz. 15 ed. Loyola: São Paulo, 2002.
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*Graduada formada em Letras (UFJF), especialista em Práticas de Letramento e Alfabetização (UFSJ), especialista em Planejamento, Implementação e Gestão da EAD (UFF) e mestre em Gestão e Avaliação da Educação Pública (CAED/UFJF). Tutora EAD (Pedagogia/UAB/UFJF) e Coordenadora do Curso de Idiomas Veg – Juiz de Fora/MG.