Como amar de forma inteligente

Por Adriana Tanese Nogueira

Como muitos já devem ter observado, amor e inteligência nem sempre combinam. Em termos gerais, há atitudes e comportamentos no campo dos relacionamentos (de qualquer tipo) que, por assim dizer, saem pela culatra. Começamos com entender o que é amar de forma não inteligente. O amor tolo nos prejudica ou até mesmo prejudica a outra pessoa. Todos concordamos que amor deve ser alguma coisa que faz bem, quando o amor faz mal é porque tem algo errado. Mas há muitos tipos de bem. E aí está o problema. Para um viciado, “bem” é o que alimenta seu vício... não é? Assim, é preciso compreender algumas questões psicológicas para que o amor seja inteligente. Esclarecemos que o amor é uma força transformadora, portanto em sua natureza estão incluídos desafios e dificuldades, todos voltados para o nosso amadurecimento psicológico e espiritual. Por esta razão, o amor positivo é aquele que favorece a evolução de consciência de cada um dos envolvidos. Como sabemos, isso não é sempre agradável e fácil, de modo que... Muitas vezes, se faz o amor coincidir com agradar o outro, dando-lhe o que nos pede para que “tudo fique tranquilo”. Esta “paz” alcançada, porém, não fortalece de verdade o vínculo e não faz nenhum dos dois crescer como pessoas. Se algum vínculo fortaleceu é o da dependência e do vício, dos hábitos nocivo, sacrifícios inúteis e prejudiciais, portanto tristezas e desânimo. Vou dar um exemplo que qualquer adulto poderá entender. Eu amo meu filho, ele tem cinco anos e gosta muito de balas. Logo, quando entramos numa loja de doces ele quer balas, muitas balas. Quem ama gosta de ver o amado contente... o que eu vou fazer? Vou lhe dar balas? Dou uma, ele quer muitas outras. Vou dar? Todo adulto sabe que há coisas que uma criança pede, e que ela pode adorar, mas que nós precisamos, se quisermos ser responsáveis, controlar, conter, dizer não. Porque amamos a criança colocamos um limite ao seu querer. Dinâmicas desse tipo ocorrem diariamente entre adultos, mas nos encontramos na dificuldade de reconhecer o que é certo fazer porque estamos confusos diante dos valores e enfraquecidos em nossa autoestima. No caso de uma criança nós sabemos que comer muitas balas dá dor de barriga, estraga os dentes e prejudica a refeição que vai nutrir. Quando se trata de coisas mais sutis, ou seja, psicológicas, nos encontramos no mato sem cachorro. Amor, medo de perder, vontade de agradar e a pressão do outro se misturam. Como se orientar? Assim como no caso da criança, precisamos nos perguntar: o que é um relacionamento saudável? É aquela relação baseada no vínculo profundo de respeito, consideração e parceria. Para isso é preciso de abertura mental e disponibilidade para acolher a diferença que o outro nos traz. Também é preciso manter a independência recíproca para que cada um possa contribuir para o crescimento da relação ele próprio crescendo como pessoa. Por isso, quando o outro me pede alguma coisa, ou mostra que quer alguma coisa, ou mesmo me cobra alguma coisa, eu preciso me perguntar: Isso vai nos fazer crescer como pessoas e no relacionamento? Vai aumentar minha autoestima e a admiração que tenho por ele/ela? Se o que o outro me pede me faz sentir melhor inferior, estúpida ou enfraquecida, tem algo errado. Se amar o outro do jeito que ele quer me faz sentir pior comigo mesma, mais impotente, fraca, mais perdida na vida, eu não estou amando de forma inteligente. Portanto, amar inteligentemente é também saber dizer não e não só ao pedido do outro, mas à nossa necessidade autosabotadora de dizer sempre sim.