Como conhecer de fato as pessoas? - Editorial

Por Marisa Arruda Barbosa

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O mês de agosto viu duas tragédias muito parecidas acontecerem com brasileiras na Flórida, como poderão ver na matéria de capa, na página 23 desta edição. Rosa Hirsch e Jorgete Acarie foram assassinadas a tiros por seus namorados – no caso de Jorgete era um ex-namorado -, respectivamente nos dias 10 e 26 de agosto.

Embora não tenhamos detalhes sobre o relacionamento de Rosa, há muitas informações disponíveis sobre a batalha de Jorgete tentando conseguir proteção contra as constantes ameaças de seu ex-namorado e pai de seu filho, de pouco mais de dois anos, que inclusive presenciou o crime.

O que nos perguntamos aqui, quando vemos crimes desse tipo ou mesmo casos de “roommates” surpresos ao descobrirem que a pessoa com quem moravam era procurada no Brasil, é: como saber de fato quem é a pessoa com a qual nos relacionamos ou temos algum tipo de vínculo? Esse é um problema que todos estão suscetíveis a passar, mais ainda em outros países.

Estar em um país estrangeiro é, muitas vezes, mais nebuloso ainda. Fica um pouco mais fácil saber das referências de uma pessoa que venha do mesmo país, mas não que isso garanta algo. Já quando temos contato com um americano de outro estado, já que a Flórida é um estado que abriga pessoas do mundo e do país todo, “saber com quem andamos” é algo mais difícil ainda, e constitui um exercício de montar partes de um grande quebra-cabeças.

As estatísticas sobre violência doméstica assustam em um país em que as autoridades policiais parecem ser tão eficientes: três mulheres morrem por dia em casos relacionados à violência doméstica. E acredito que isso seja algo que a mulher imigrante fica ainda mais vulnerável, ainda mais quando isso envolve promessas relacionadas à regularização da situação imigratória, dado o medo da deportação.

Por falar em imigrantes vulneráveis, a página 29 desta edição traz a história triste de alguns imigrantes em deportação que têm que escolher entre deixar os filhos sozinhos nos EUA ou levarem de volta a um país violento. Nos dois casos, os filhos de imigrantes indocumentados, mesmo sendo cidadãos do país, ficam vulneráveis à escolha dos pais. Este é um problema crescente já que, nos últimos anos, o número de deportações bateu recortes. Um em cada cinco deportados é pai de cidadãos americanos.

Nessa edição o leitor verá também uma matéria interessante não só sobre o brasileiro festejando o nosso Dia da Independência, mas também sobre as autoridades americanas celebrando esta importante data junto com os brasileiros (veja matéria na página 22).

Já não é novidade o interesse econômico que o sul da Flórida tem por brasileiros, nem o quanto as autoridades locais precisam do nosso envolvimento para participação em investigações de crimes, motivo pelo qual foi realizado este ano o primeiro Brazilian Citizen’s Academy, conforme reportamos aqui. A novidade, no entanto, é a realização, pela primeira vez, de eventos oficiais (em Pompano Beach e Boca Raton) para celebrar o 7 de Setembro, o que significa, para os governantes, a concretização de um projeto de estreitamento de laços com a comunidade brasileira imigrante.