Os desafios do pós-parto na sociedade atual

Por Adriana Tanese Nogueira

Não há consenso sobre a duração do pós-parto, inclusive cada puérpera pode ter uma percepção diferente. No geral, podemos considerar esse período como sendo o tempo que a mãe precisa para voltar a ter a condição endócrina e nutricional de antes de engravidar. Do ponto de vista psico-sócio-afetivo se trata do período em que mãe e filho encontram-se em estado fusional e, gradativamente, vão tornando-se independentes, a ponto de o filho não necessitar da presença da mãe para ser alimentado. Desafios no que diz respeito à sexualidade: • A reduzida produção de estrogênio torna a vulva e a mucosa vaginal secas, portanto, o órgão genital feminino fica menos receptivo à penetração. • A não-aceitação do próprio corpo, muito diferente do padrão midiático e social (familiares, amigos e até parceiro) impede que a mulher expresse sua sexualidade de maneira satisfatória. • A dificuldade de incorporar o novo papel de mãe (de primeira viagem ou de múltiplos filhos), complicada pela falta de apoio, cansaço, falta de sono, presença de outros filhos, etc. Desafios no que diz respeito à amamentação e considerando que o preconizado pela Organização Mundial de Saúde são seis meses de amamentação exclusiva e sob livre demanda, os desafios da mulher nutriz são: • O sentimento de se sentir capaz de ser nutriz, dotada de "algo bom" para doar (leite), o que está relacionado à sua autoestima. Quando maior, mais fácil será a amamentação. • O conhecimento das técnicas e posições para amamentar. O parto é uma revolução na vida de uma mulher. A experiência em si é extremamente impactante, mais do que se pensa. Corpo, mente e emoções estão em ação para além do controle da consciência. Do ponto de vista psicológico, os desafios aqui são: • Elaborar o parto para que a experiência vivida, corporal, emocional, mental e espiritual, seja assimilada pela consciência, significada e compreendida. Esse movimento ajuda a nova mulher-mãe a se fortalecer, a confiar na sua capacidade de se expressar, dando palavras às emoções mais profundas. • Integrar a maternidade na própria identidade de mulher assim como na rotina e sentido da própria vida. No pós-parto, assim como o bebê vai ganhando um mínimo de independência, a mulher precisa reencontrar sua própria pessoa neste novo contexto, obtendo clareza, força e centramento interno. Quando o pós-parto beira a patologia: • O baby blues é um processo de dupla causa: hormonal e psico-emocional. É caracterizado por melancolia advinda entre outras coisas da dificuldade de se adaptar à nova vida. • A depressão pós-parto, que pode decorrer de um baby blues negligenciado, se apresenta como uma complicação dos problemas do processo puerperal devido à falta de recebimento de apoio e cuidado pela puérpera. Em ambos os casos é importante procurar ajuda especializada. A relação com o pai: • Deseja-se que os homens escapem à cultura patriarcal e participem ativamente dos cuidados de seus filhos, envolvendo-se com a paternidade de uma forma mais abrangente, compartilhando papéis e tarefas com as mães. Como benefício, ganham desenvolvimento pessoal que os torna pais melhores e enriquecem seu próprio mundo afetivo. • Deseja-se também que o sentimento de ciúmes e deslocamento por parte do pai, que se encontra repentinamente numa situação periférica diante da díade mãe-bebê, seja contornado através do companheirismo, compreensão e participação nos cuidados com o bebê e sobretudo nas tarefas de casa. O suporte emocional que o pai dá à mãe repercute positivamente sobre o bebê e a família. O pós-parto não deve ser subestimado: é o momento em que se estabelece o vínculo com o bebê, raiz de todo seu desenvolvimento futuro.