Como lidar com o amor passional

Por Adriana Tanese Nogueira

pair-418697_960_720
"Os especialistas em romance dizem que para um casamento feliz há de haver mais do que amor passional. Para uma relação duradoura, eles insistem, deve haver um genuíno gostar um do outro. O que, em meu livro, é uma boa definição para amizade." Marilyn Monroe A paixão é uma experiência interior, subjetiva e única do ser arrebatados por um sentimento de amor e desejo por outra pessoa. A paixão leva à entrega e à uma forma de “cegueira” que muita gente gosta de viver. A paixão envolve, toma e eletriza. A paixão dá vida e pode se tornar o sentido da vida. A paixão entusiasma, no sentido originário da palavra: nos torna “cheios de deus”! Entusiasmo é uma palavra que vem do grego antigo e significa “cheio de deus”. Para os gregos havia muitos deuses, como sabemos. Quando, por assim dizer o deus da guerra, Ares, te tomava você se tornava um valente guerreiro sem medo, forte e audaz. Quando a deusa do amor, Afrodite, te tomava, charme, sensualidade e delicada sensibilidade emanavam de você e envolviam todos à sua volta. Na paixão somos tomados pelo desejo, um desejo mais forte do eu e, muitas vezes, mais forte do que o bom senso. Mas, até que ponto amar é sensato? Amor é transcender os próprios limites, é por si só uma afronta ao poderio do ego. Quando amamos nos abrimos ao outro, saímos no modo de sobrevivência “antes eu e depois os outros”. Quando amamos apaixonadamente derrubamos todas as defesas, as nossas, e nos atiramos na direção do outro. Uma hora, sabemos, teremos que fazer as contas com as consequências ou simplesmente com outros aspectos do real que não levamos em consideração no transe do amor passional. Recobramos a razão, voltamos à lucidez e precisamos então entender: O que foi que fizemos? Onde foi que nos metemos? Sobretudo, precisamos entender: O que significa isso na minha vida? Falhar em passar por este processo de autoconhecimento corresponde a aprofundar o transe e se afundar na obsessão pelo outro. Saímos do amor e da paixão e escorregamos na patologia. A linha de separação é fina, é fácil perder-se. O amor passional é tão intenso quão importante e profunda é a mensagem que está carregando, a lição a ser aprendida. É possível que após o aprendizado os dois nada mais tenham a dizer um para o outro. Pode também acontecer que as chamas da paixão deem lugar para um amor gostoso e duradouro. Depende de quem está no “controle” da paixão, se quem está vivendo aquele amor passional tem maturidade para fazer dele as fundamentas de uma grande construção. E quando isso não acontece? Vivemos enredados e atordoados. Vivemos perseguidos pela imagem do outro. Mesmo quando temos uma relação com este outro, nunca nos sentimos seguros. A paixão vira paranoia. O desejo impetuoso se faz obsessão. Toda pessoa obcecada está tomada por outro “deus”: pela neurose e loucura que pode levar a atos desumanos. O desejo pelo outro é sempre um trampolim evolutivo para crescermos como indivíduos. O outro é uma peça importante do nosso quebra-cabeça. Se falharmos ao compreender isso ficaremos dependentes do outro e presos nele com repercussões que já nada têm a ver com o amor. Amor passional é como uma ventania que vem para despertar algo em nós. Em nós através do outro. Não é nunca só o outro. O sujeito da história somos nós. Quando delegamos ao outro o comando perdemos o amor e escorregamos no delírio.