Como reconhecer o invejoso

Por Adriana Tanese Nogueira

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  • O invejoso semeia dúvidas e distorce os fatos, se engaja em conversas que lhe servem como armas para diminuir quem ele inveja.
A inveja nasce do sentimento de inferioridade. Falar da inveja incomoda; ela é um sentimento-tabu. Quem sente inveja raramente é capaz de reconhecê-la, não se dá conta, ou finge que não sabe. A inveja é basicamente um sentimento infantil. O invejoso vive a dor que nasce do fato dele não possuir ou ser aquilo que os outros possuem, ou são. O invejoso, portanto, reconhece um valor e percebe que não o tem. Mas, por outro lado, ele não quer entender ou aceitar as causas da superioridade alheia! Ele não chega a se perguntar o “por quê”. Por que ciclano e fulana são mais? Por que fulano e ciclano têm sucesso? O invejoso não vê, e não quer ver, o trabalho que levou quem é mais a ganhar esse “mais”: o suor, os estudos, os anos, as experiências, o amadurecimento que nasceu também da dor digerida e trabalhada. O invejoso não enxerga nada disso. Ele só vê o resultado final e não gosta que alguém tenha o que ele não tem. Quanto maior a virtude, mais crassa será a inveja que essa virtude irá atrair. Desde a Antiguidade fala-se que a inveja é inimiga da virtude, sendo “virtude” as conquistas morais, psicológicas, espirituais, intelectuais e até materiais que se obtêm a partir do próprio esforço e dedicação. O invejoso não leva em consideração a competência e os méritos alheios. Muito pelo contrário: ele recusa qualquer apreciação e reconhecimento de merecimento. Ele chega a inverter a situação; consegue transformar os méritos do outro em deméritos; a competência em enganação. Ele desrespeita, rebaixa, diminui – tudo isso como se nada fosse. O invejoso é mentiroso e injusto. Ser assim não lhe custa esforço algum porque lhe falta uma imagem definida de si. Ele não sabe bem o que é. Está focado em deprimir quem subiu na escada da vida, sobretudo se for a partir do trabalho duro, da inteligência, talento e assumindo o risco pelas próprias escolhas. O invejoso semeia dúvidas e distorce os fatos, se engaja em conversas que lhe servem como armas para diminuir quem ele inveja. Seu esforço vai na direção de eliminar o valor alheio e assumir o domínio. A internet se tornou um poderoso instrumento para os invejosos, basta navegar um pouco para observar as redes de distorções que confundem a mente semeando mentiras que podem se transformar numa nova “realidade”. O invejoso não perdoa a beleza e a bondade do trabalho bem feito. Não querem enxergar a verdade. Seus olhos estão “costurados”, como escreveu Dante Alighieri em sua Divina Comédia (livro Inferno). O invejoso sente que lhe falta alguma coisa, mas não deseja preencher este vazio. Deseja punir a pessoa que lhe faz perceber (sem querer, pelo próprio valor) esse vazio. É como se o invejoso quisesse assim fazer o outro sofrer junto. Invejar significa, basicamente, querer tirar – tirar do outro o que não se tem. O que move o invejoso não é ganhar um talento e galgar a escada da vida. Ele quer simplesmente tirar. O sucesso alheio lhe é insuportável. Que seja dinheiro, beleza, talento, sucesso profissional, habilidade manual... até a alegria! Reduzir todos à infelicidade que ele sente e que esconde: este é o motor do comportamento do invejoso. Por isso ele é geralmente falso. Por ser a inveja um sentimento tabu, ela é mascarada tão bem que o próprio invejoso mal se percebe. Mas nós o sentimos na pele! O invejoso é sempre alguém próximo: vizinho, amigo, colega. É alguém que vê seu trabalho e sua capacidade – e quer solapá-los.