Consumidores (psicologicamente) conscientes

Por Adriana Tanese Nogueira

Quando você tem ou quer ter consciência do que come, irá prestar atenção à origem do produto, à sua composição, apresentação e validade, certo? Evitará coisas que sabe fazer mal. Fará escolhas baseadas no que seu corpo precisa e fará essa escolha tanto usando conhecimentos genéricos (precisamos de x de proteínas, x de carboidratos, etc.) quanto no conhecimento de seu corpo, do momento que está vivendo, das necessidades específicas de seu agora. Parece óbvio, não?

O corpo é um organismo maravilhoso, capaz de se recuperar de muitos ataques e agressões. Quando bem tratado, poderá reagir de forma rápida e saudável quando comer coisas que sabe que não deveria, pois sua dieta habitual o tornou forte o suficiente para reagir bem ao que não faz tão bem. Se, porém, comer porcaria for o normal, o equilíbrio original do corpo, com o tempo, se perde por estar sendo atacado constantemente por produtos tóxicos.

A mesmíssima coisa ocorre no plano psicoemocional. Há “alimentos” que nos fazem bem, que nos fortalecem como pessoas e alimentos que nos prejudicam, enfraquecem. Esses “alimentos” são: pessoas, lugares, trabalhos, pensamentos, ambientes sociais, amizades, relacionamentos, hábitos. A lógica é a mesma. E estes também são ingredientes nutricionais para a sáúde geral do organismo vivo que somos nós. Não nos nutrimos somente de comida e de bebida, mas também de atitudes, escolhas, pessoas e ideias.

Quem tem consciência disso, começa a fazer escolhas e a definir o que quer para si. Assim como restringimos o consumo de alimentos pesados e artificiais, que são atraentes por fora, mas danosos quando dentro do corpo, faz-se o mesmo com relações e atitudes, pensamentos e emoções vindos de pessoas e ambientes. A aparência bonita não, necessariamente, corresponde ao conteúdo saudável.

Ao querer cuidar da saúde física, é importante não esquecer daquela psicológica, porque sabemos hoje que as emoções interferem no funcionamento do corpo e todos podemos constatar isso quando temos uma dor de cabeça após uma briga ou a refeição fica parada no estômago quando estamos estressados e apressados.

Hoje em dia, temos “consumidores conscientes” de produtos animais e vegetais. Precisamos agora de “indivíduos psicologicamente conscientes”.

Quando um consumidor consciente evita um produto ou devolve outro porque está estragado, ele contribui para a melhora geral da produção de bens ingeríveis, certo? Da mesma forma, um indivíduo psicologicamente consciente, ao rejeitar certas companhias, escolhas, atitudes e ideias, está contribuindo não somente para com sua saúde mental e emocional, mas também para um mundo humano mais saudável, uma sociedade mais harmoniosa e equilibrada.

É importante, portanto, saber dizer “não” a conversas vazias e entediantes, atitudes denigratórias, comportamentos alheios que nos prejudicam, companhias que não acrescentam, falação vulgar e preconceituosa. Esta orgia psicológica e intelectual produz tensões, ilusões, pensamentos obsessivos e distrações que nos afastam de nosso verdadeiro centro, do que somos de melhor.

É essencial para o nosso bem e aquele do mundo que não permitamos que a pior parte de colegas e amigos domine a relação e a situação. Muitas vezes, estas pessoas não se dão conta do prejuízo que causam, ou seja, não têm consciência do que fazem. Por isso, quem percebe o mal estar que elas geram tem a obrigação de tomar atitudes saudáveis. Há momentos em que a tolerância é intolerável.

Ser “bons” – como escrevi no artigo “Ser Bons, Não Bobos” – há de ser uma escolha sensata. Acatar o que faz mal não é ser bons, é ser tolos. Desta forma, ninguém progride, ninguém cresce e ninguém é realmente feliz. A constante intoxicação mental e psicológica nos deixa grogues e estupidificados. E, com o tempo, vem a famosa depressão.