Copa da África expõe astros e orgulho para a Europa

Por Gazeta Admininstrator

A África exibirá para o mundo e mais especialmente para a Europa a partir de hoje, quando começa a 25ª edição da Copa da África, no Egito, o seu maior orgulho.

Recheada de estrelas do futebol europeu, a tradicional competição de seleções da região desafia o calendário do velho continente, desfalca poderosos patrões da bola e carrega a bandeira contra o racismo, tema cada vez mais atual.

A disputa começa ainda em meio à recente polêmica envolvendo o camaronês Eto'o, maior símbolo hoje de sucesso do futebol africano e de luta contra o racismo em campo. O atacante do Barcelona tem sido vítima de vários insultos racistas e, em vez de demonstrar passividade, tem reagido com veemência aos insultos.

No último fim de semana, no jogo em que o Barcelona venceu por 2 a 1 o Athletic Bilbao no Espanhol, Eto'o deu uma cusparada na direção de Exposito, jogador basco. Javier Clemente, técnico do Athletic Bilbao, disse que cuspir é algo "dos que descem de árvores". Eto'o, como outros atletas negros na Europa, é alvo de bananas e de imitações de macacos.

Artilheiro da liga espanhola com 18 gols, Eto'o já celebrou tento imitando macaco como resposta a provocações e lidera movimento contra o racismo. A Confederação Africana, por meio de seu presidente, o camaronês Issa Hayatou, cobrou que a Europa combata de uma forma mais forte o racismo. Apelou à Fifa e à Uefa sobre a questão, dizendo que os últimos incidentes "obrigam todos a estarem extremamente vigilantes", ainda mais porque em junho começa a Copa na Alemanha.

A Comissão Antiviolência na Espanha exigiu que a federação espanhola julgue o caso mais recente envolvendo Eto'o. Luis Aragones, técnico da seleção espanhola, já recebeu multa de US$ 3.600 (cerca de R$ 8.200) por ter feito comentário racista quando se referiu a Henry, do Arsenal.

Paralelamente ao apelo contra o racismo, a Confederação Africana, que organiza a Copa da África a cada dois anos, tradicionalmente no primeiro semestre, quer que os clubes europeus facilitem a presença de atletas africanos nas seleções mesmo quando as disputam rivalizam com o calendário do velho continente, como agora.

Cerca de 25% dos jogadores que atuarão na Copa da África são de times de bom nível na Europa. Só a França, país que sofreu com violenta onda de protestos em periferias de grandes cidades, forneceu mais de 50 jogadores para a Copa da África. A badalada liga inglesa cedeu mais de 20 atletas.

"Fora da África, as pessoas não imaginam a importância da Copa da África. Para nós, africanos, é o nosso Mundial. Os povos da África acompanham o ritmo da competição. É incrível, tem que vivê-la", diz Roger Milla, lendário ex-jogador da seleção camaronesa.

As 16 seleções são divididas em quatro grupos. Os dois melhores de cada chave vão aos mata-matas. A final será no dia 10 de fevereiro no Cairo. No jogo de abertura, Egito x Líbia, nesta sexta-feira, a África já colocará em jogo a bola da Copa alemã.

O torneio promete ser o mais disputado de todos os tempos no continente, pois todas as melhores seleções da região estão na disputa. As eliminatórias para o Mundial serviram também como qualificatório para a Copa da África --os três melhores times de cada um dos cinco grupos das eliminatórias, além do anfitrião Egito, lutam pelo título continental.

Será a chance de revanche para potências africanas que não conseguiram vaga no Mundial, casos de Camarões, Marrocos, Nigéria, Senegal e Egito. Angola, Costa do Marfim, Gana e Togo, que jogarão o Mundial pela primeira vez neste ano, terão a oportunidade de comprovar força e se preparar em grande estilo para a Copa.

E, para 2010, quando a África do Sul receberá o Mundial, já começou lobby, assumido por Joseph Blatter, presidente da Fifa, para seis países africanos na disputa.