Crase: a dúvida eterna

Por Rodrigo Maia

Começo o texto de hoje com uma pergunta: você sabe o que é a crase?

As primeiras respostas, normalmente, vão direto para aquele acento virado para o lado esquerdo. Aquele mesmo que você coloca, por exemplo, em: “vou à feira”. Contudo, o acento não recebe o nome de crase. O nome adequado, para não gerar confusões, é acento grave.

Você pode até pensar: mas é apenas uma questão de nomenclatura, não é isso que vai mudar o entendimento sobre o assunto.

Então, preste atenção no diálogo que vamos iniciar agora. Veja só. De acordo com os dicionários Aurélio e Michaelis e a gramática da Língua Portuguesa de Evanildo Bechara, crase é a fusão de vogais idênticas; e não o nome do acento.

Usamos o “À” (com acento grave) em DOIS casos:

1. Identificar o fenômeno da crase, fusão do A (preposição) + A (artigo);

2. Identificar locuções adverbiais femininas.

Vou dar exemplos para o entendimento ficar mais fácil.

(1) Eu vou à faculdade. (fusão da preposição “a” + artigo “a”). Neste exemplo, ocorre a crase, pois há a fusão de duas vogais idênticas “A + A”.  E como podemos saber se tem as duas vogais? É simples! Troque o substantivo feminino “faculdade” por um similar no masculino, como “colégio”.

A frase vai ficar: “Eu vou AO colégio”. Perceba que tem preposição mais artigo: “A + O”. Ao voltar para o feminino, teremos: “Eu vou AA faculdade”, ou seja, “Eu vou à faculdade”. Mas você lembra o que escrevi acima? O acento grave também serve para identificar locuções adverbiais femininas? Repare na diferença dos casos. (2) Minha família vai comprar todos os móveis da casa à vista. (locução adverbial feminina “à vista”)

Neste exemplo, não ocorre a crase, mas a locução adverbial feminina. E como podemos saber que não tem o “A + A”? Se você fizer a mesma “prova” que mencionei no exemplo anterior, isto é, trocar por um similar no masculino, verá que não acontece a fusão de preposição mais artigo. Vamos trocar “vista” por “prazo”

“Minha família vai comprar os móveis a prazo”. Repare que não fica AO prazo. Então, não fica, também, AA vista. Ocorre apenas o acento grave para identificar uma locução adverbial feminina; e não uma crase.

Crase não é o nome do acento. Lembra-se?

Portanto, crase é a fusão de duas vogais idênticas, e não o nome do acento. Em Língua Portuguesa, para o uso do acento grave indicador de crase, é necessário ocorrer a fusão da preposição “A” com o artigo “A”.

Eu sei que uma explicação simples, aqui pela coluna, não vai resolver plenamente sua dúvida em relação ao assunto. Com este texto, quero gerar em você uma reflexão sobre a forma de entender a língua.

Quando a gente apenas decora, não há aprendizado.

Você, provavelmente, estava chamando o acento grave de crase. E o problema não é apenas uma “frescura” em relação ao nome. Por meio dos exemplos, percebemos que é uma questão de conceito e entendimento.

Pesquise, estude, faça leituras. Estudar idiomas é uma prática muito saudável para entender a cultura de uma nação. Mais do que saber regras, é importante você ter o conhecimento adequado para usá-lo no momento de falar ou de escrever.

Espero que a explicação tenha sido útil. Quem sabe, a partir de agora, a crase deixe de ser mais uma dúvida da Língua Portuguesa em sua vida. Porém, se ainda é, mande uma mensagem que eu faço outro texto com exemplos sugeridos por você!