CRBE: a realidade além das ansiedades, fantasias e egolatria - Editorial

Por Carlos Borges

Líderes das comunidades brasileiras pelo mundo estariam, nas próximas semanas, se preparando para o que seria a realização da 4ª edição do Congresso Brasileiro no Mundo, previsto para a semana de 3 a 6 de outubro, em Brasília, mas adiado para o primeiro semestre de 2012.

Como tem sido frequente na recentíssima história do CRBE – Conselho de Representantes Brasileiros no Exterior – e da própria iniciativa Brasileiros no Mundo, o adiamento do evento serviu de combustível para toda a sorte de especulações.

Essa iniciativa ainda “engatinha” no universo de conhecimento e envolvimento dos 3 milhões de imigrantes brasileiros no exterior. Ainda é um projeto embrionário, em fase de autodefinição, mas que representa inquestionavelmente a primeira “voz” dos emigrantes brasileiros. Como em qualquer processo democrático, a existência e o formato do CRBE são atacados por alguns, motivados por razões que vão do desconhecimento de causa aos interesses pessoais não contemplados.

Ao largo dos que “malham por malhar” ou “malham maldosamente intencionados”, é tempo de refletir sobre esses 9 meses – sim, apenas 9 meses – de existência do CRBE.Ajuda-me o fato de que além de conhecer pessoalmente e ter conversado com a maioria dos conselheiros titulares eleitos. Também contribui, creio, para essa análise, o fato de estarmos tendo experiência “in loco” com as comunidades brasileiras na Europa, Japão, Estados Unidos e Canadá.

A voz corrente na maioria é que uma instituição como o CRBE é necessária e bem- vinda. Acompanha essa constatação, uma queixa generalizada: a grande maioria dos brasileiros que vive no exterior nunca ouviu falar do CRBE e os que sim, têm alguma noção do que é essa iniciativa, sabem muito pouco a respeito de sua natureza, suas possibilidades e limites.

Não poderia ser de outra forma. O desafio de tornar conhecido o conceito do CRBE – um trabalho voluntário, não remunerado, necessariamente atrelado à ação do Itamaraty e contido dentro das leis e regimentos dos tratados internacionais e binacionais – não deve ser subestimado.

Um dos mais complexos dilemas no trato das questões dos migrantes brasileiros é justamente a comunicação. Jornais, revistas e televisão cobrem boa parte dessas populações, e têm, especialmente os jornais, revistas, sites e web tvs dedicado às comunidades, em maior ou menor intensidade, dado cobertura às Conferências Brasileiros no Mundo e à trajetória do CRBE.

Falta um investimento maior do governo na massificação dessas mensagens, muito além dos espaços editoriais, mas sim com publicidade institucional constante. A representação dos brasileiros que vivem no exterior é uma questão de cidadania, um direito inalienável e que só a partir da criação da Subsecretaria do Itamaraty para os Brasileiros no Exterior e da implementação da iniciativa “Brasileiros no Mundo”, passou a ter alguma visibilidade dentro do governo.

Até o governo Lula, brasileiro que saía do Brasil era discriminado acentuadamente pelos próprios compatriotas, em um misto de sentimentos de inveja e desdém, por razões que a alma humana bem conhece. Enfim, o próprio brasileiro que vive fora do país, assumia essa condição e apenas alguns sonhavam com o justo e necessário exercício de seus direitos.

Enfrentando oposição dos que querem simplesmente bagunçar e de quem não aceita mudanças, avanços e mais ainda, rejeita a ideia de que todo brasileiro é cidadão, esteja onde estiver, a iniciativa “Brasileiros no Mundo” e o CRBE seguiram em frente.

Com os erros e acertos de uma iniciativa totalmente nova em um Brasil ainda desacostumado a entender a universalidade dos direitos do cidadão e mais ainda, não compreendendo que cada brasileiro no exterior, queira ou não, é um singular embaixador de sua terra, sua gente, sua cultura e sua nação.

Agora vamos falar da primeira “turma” do CRBE. Um grupo mais heterogêneo, impossível, o que, em tese, é muito positivo.

Como seria natural, das centenas de pessoas que se candidataram nas primeiras eleições, no ano passado, muitos não tinham absolutamente nenhuma história de trabalho em favor da comunidade e nenhum qualificativo além do desejo de, quem sabe, alcançar um cargo ou um título na esperança de se favorecer com isso.

Sorte nossa que boa parte dos eleitos são pessoas ligadas, algumas de maneira exemplar, a atividades que só ajudam e engrandecem o nome do Brasil e a causa dos brasileiros no exterior. Mas, como em todo “parlamento” na humanidade, há os que estão ali descobrindo que não têm nada a ver com uma proposta da qual nada entendem e com uma proposta que não se ajusta a seus projetos pessoais.

Outros, ao perceberem que o CRBE não sera um “cabide de emprego”, já estão de certa forma “saindo de cena”. Está claro que para integrar o CRBE de uma forma eficaz, é preciso ter uma alta dose de patriotismo e entrega pessoal.

Não é um cargo essencialmente político, porque não tem finalidade política, partidarismos ou compensações materiais. Não lida com verbas que possam ser “politicamente distribuídas” ou simplesmente “embolsadas”. É para os que acreditam em servir sem esperar nada em troca, a não ser a satisfação de servir ao povo brasileiro, ao nosso país.

A consciência de que esta é a natureza e o perfil adequado aos conselheiros, fará com que os setores “oportunístico”, “folclórico” e “egocêntrico” se sintam cada vez menos interessados em se candidatar.

O processo de depuração é necessariamente lento. Há muita gente apostando na impaciência e no imediatismo para forçar a implosão do CRBE. Se por acaso essa turma ganhar força, quem mais perde somos nós, imigrantes brasileiros. Pensem nisso!