Criança e tragédia não combinam - Editorial

Por Marisa Arruda Barbosa

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Quando tragédias horrendas acontecem em qualquer parte do mundo envolvendo crianças, a maior dificuldade para os que ficam é conseguir ligar as palavras criança e tragédia. Em dezembro do ano passado, quando um jovem entrou em uma escola chamada Sandy Hook, em Connecticut, matando 26 pessoas, sendo que 20 delas eram crianças, o luto foi mundial. Esta semana, somos invadidos pelo mesmo sentimento com a notícia de que um menino de apenas 13 anos é o principal suspeito de planejar e matar seus pais, sua avó, sua tia-avó, ir à escola como se nada tivesse acontecido e depois se matar, em São Paulo.

É difícil de acreditar, pois parece coisa de filme. Mas, infelizmente, não é. Por isso, cada um deve parar para pensar na educação dos próprios filhos e o que os está alimentando (claro, desde o sentido literal, para que fiquem bem nutridos, assim como jogos, filmes, enfim, seu imaginário).

Ana Cássia Maturano, colunista de “G1” que geralmente escreve sobre educação, vestibular e carreiras, fez algumas reflexões interessantes sobre o caso, e como está mais perto, é válido colocar aqui alguns dos trechos que escreveu. Com a internet, a situação do imaginário do jovem é bastante universal e as tendências podem ser relacionadas ente o Brasil e EUA.

Ana Cássia ressalta que “geralmente há um histórico de abuso emocional, físico e sexual vivido por eles (os filhos que cometem parricídio) até chegarem a este ponto. O que parece não ter sido o caso deste garotinho, se todas as suspeitas se confirmarem (que foi ele o autor do massacre)”, já que ele parecia amado. Isso é tão incomum, disse ela, que nossa tendência é negar situações como essas, que envolvem tragédia e criança. Negamos com teorias de conspiração, ou mesmo culpando a “modernidade” com os jogos, internet e filmes.

Na verdade, não sabemos o que dizer e nem saberemos, já que não sobrou ninguém para contar a história. Afinal, tudo e nada parece ter influenciado Marcelo Pesseghini.

Ele parecia “normal”, mas o que quer dizer isso? Criança amada, família unida, amigos, etc, mas há também um mundo interno da criança, com esse imaginário que a está nutrindo, e que cada pai tem que saber o caminho para acessar.

Mesmo sendo amado aparentemente, Marcelo Pesseghini teria postado em sua página do Facebook, no dia 19 de dezembro do ano passado, uma referência a um famoso caso de massacre ocorrido nos EUA, em 1974. Ele compartilhou uma imagem na qual apareceria um fantasma do famoso caso do Massacre de Amityville, no qual Ronald Joseph “Butch” DeFeo Jr. assassinou os pais, dois irmãos e duas irmãs, um caso bem parecido com o de Marcelo. Na imagem compartilhada pelo jovem Pesseghini, investigadores de causas sobrenaturais teriam flagrado uma imagem que seria o “espírito” de um dos irmãos do assassino. Algo postado no Facebook já poderia ter dado pistas desse imaginário de Marcelo.

O que teria produzido tudo isso? Pais policiais com talvez uma paixão por esse imaginário de crimes? Investigações deverão chegar mais perto nos próximos dias. Mas talvez a lição para cada um com essa tragédia seja prestar mais atenção nos filhos e nos sinais que eles dão de que as coisas não vão nada bem. Saber mais de seus gostos, interesses, de sua vida. Como seu jogo favorito, por exemplo. Marcelo gostava de um game de um matador, mas isso não quer dizer que todo o jovem que gostar do mesmo game irá fazer o mesmo. Claro que a culpa não é do game, como muitos pensam. Em outros casos de assassinato, o jogo é um eco para o que os autores dos crimes sentiam.