Crianças de todo o mundo são tratadas em Fort Lauderdale

Por Gazeta Admininstrator

Por: Atilano Muradas.

O brasileiro Leonardo de Oliveira chegou à América, em 1984 e, passados alguns anos, realizou o sonho de muitas crianças: se tornou piloto de aviões. Entretanto, o destino tinha outros desafios tão altos quanto voar pela Continental Connection, pois mudou completamente a rota profissional de Leonardo, anos depois, após ele se casar com a norte-americana Eileen de Oliveira.

Em 12 de abril de 2003, Leonardo e Eileen tiveram trigêmeos prematuros. Samuel, Lucas e Luíza nasceram com 27 semanas e meia de gestação e 1 quilo cada um. Com 20 dias, Luíza faleceu. Lucas teve uma hemorragia cerebral e o médico neonatal disse que ele seria um “vegetal”. Samuel teria possíveis seqüelas, mas seria normal. O casal ficou abalado, mas decidiu confiar em Deus e buscar tratamentos.

No início, a fisioterapeuta ia até a casa de Leonardo. Samuel logo foi dispensado das seções, mas Lucas que, segundo a terapeuta, tinha potencial para melhorar, necessitava de bastante terapia. Orientado pela fisioterapeuta, Lucas foi para uma terapia intensiva, justamente onde é hoje a Clínica Therapies 4 Kids. Na época, a clínica tinha outro nome.
Logo na primeira semana de terapias intensivas Lucas engatinhou e, no final de três semanas, ele “deu dezenove passos”, conta o pai, emocionado.

Devido ao sucesso das terapias, Leonardo e Eileen estavam empolgados e dispostos a continuarem o tratamento. Nesse ínterim, receberam a triste notícia que a clínica estava fechando. Entretanto, movidos pela coragem própria dos pais, compraram todo o equipamento da clínica decididos a continuar o tratamento em casa.

Inicialmente, guardaram o equipamento em casa, mas, na semana seguinte, negociaram com o dono do prédio onde funcionava a clínica antiga e a reativaram. Assim surgiu a Therapies 4 Kids.

Histórias que emocionam
A Therapies 4 Kids é uma clínica de terapia intensiva acrescida de outras ferramentas para incrementar o tratamento dos pacientes. O seu principal objetivo é fazer tratamento fisioterapêutico usando uma técnica chamada Suittherapy. Nela, é colocado na criança um macacão que proporciona suporte visando ajudá-la a aprender a caminhar. Os problemas tratados na clínica são: Pediatria, Pós-derrame, Autismo, Problemas do sistema nervoso, Paralisia Cerebral, Atraso no desenvolvimento físico, Traumatismo Craniano, Síndrome de West, Reabilitação de fraturas, Distúrbios motores e sensoriais.

O trabalho de reabilitar pacientes especiais é demorado, custoso, e exige dos pais e dos profissionais de saúde uma grande carga de fé, persistência e entusias-mo. Quem anda pela clínica Therapies 4 Kids verá nas paredes as fotos de centenas de crianças que passaram pelas mãos cari-nhosas dos terapeutas. Leonardo mostra cada uma e conta histórias fantásticas que encheriam, por certo, muitas páginas.

“Giuseppe, 13 anos, veio da Itália com a mãe e com a avó, estava numa cadeira de rodas, e pesava cerca de 80 quilos. Ele teve uma paralisia cerebral que não lhe atingiu a parte mental, somente a física. Pepe, como é chamado, não conseguia caminhar porque os pés eram tortos para fora. Depois de quatro meses na clínica, fazendo fisioterapia e terapia ocupacional, usando o macacão especial, ele estava com o peso ideal para a sua idade e já cami-nhava usando muletas. A vida dele mudou completamente”, contou Leonardo.

Leonardo viaja constantemente aos países europeus e do Oriente Médio visitando pacientes e médicos. Por isso, a clínica já atendeu, nestes cinco anos de existência, mais de 500 crianças de todos os continentes, e os profissionais da clínica parecem se lembrar de cada uma delas, pois contam histórias incríveis, uma atrás de outra.

O italiano, Riccardo Pio, de 5 anos, portador de uma síndrome raríssima chamada Síndrome de West, está em tratamento na Therapies 4 kids, desde novembro de 2007, e pretende ficar por mais 2 anos. “Meu filho não fazia muita coisa, mas, desde que iniciou as terapias, já diminuímos o uso de medicamentos, ele segura o pescoço melhor, sorri e interage conosco muito mais. Esperamos ver Riccardino sentar-se e comer via oral, nos próximos anos. Este é meu grande sonho”, diz Giulia Turchio, mãe de Riccardo Pio.

Outro que mora longe é Alfonso. Ele é de Damascus, Síria, e teve meningite aos 9 meses de vida. Ele não senta e não tem controle do pescoço. Seus pais têm boa condição financeira, por isso estão sempre investindo em terapias concentradas na melhora da condição muscular de seu filho. O sucesso do tratamento tem sido tão grande para Alfonso que os pais compraram uma casa perto da clínica e levam o menino diariamente às terapias.

Myrthe, de três anos, veio da Holanda. Ela nasceu completamente normal, mas antes de completar um ano, teve um vírus muito raro no coração que ocasionou uma parada cardíaca. Como faltou oxigênio no cérebro, quando ela voltou da parada cardíaca, estava em coma. Ao sair do coma, ficou totalmente paralisada, sem controle do corpo. Leonardo conta que a mãe foi à televisão holandesa e conseguiu arrecadar 150 mil dólares em doações e passou um ano tratando da menina na clínica.

Haja vista serem crianças de vários países, a língua escolhida para a comunicação é o Inglês. Segundo o fisioterapeuta da clínica, Braz Paiva, que é brasileiro, em geral, alguém da família ou, até mesmo a criança, fala Inglês, pois, na Malásia, na Arábia Saudita, na Europa, o Inglês é muito difundido. “Muitas vezes, os terapeutas acabam aprendendo frases da língua das crianças e, por outro lado, em dois ou três meses, essas crianças já aprendem a se comunicar em Inglês”, conta Braz.

Alguns dos pais que vêm tratar seus filhos também se empenham para aprender novos exercícios e praticá-los quando voltam aos seus países. Santiago, 15 anos, é venezuelano e tem as pernas e mãos muito fracas. Os pais, além de trazê-lo para o tratamento, têm se empenhado para assimilar novos conhecimentos e levá-los para a terapeuta que acompanha Santiago em seu País.

Um aspecto que tem atraído também muitos pacientes é o turístico, pois as clínicas são localizadas em Fort Lauderdale, Miami e Margate. Ou seja, os pais vêm para fazer o tratamento do filho e aproveitam para passear e descansar.

A nova-iorquina Ava, cujo pai é um bombeiro de New York, demonstrou problemas assim que nasceu. Por isso, já foi alvo de cuidados especiais imediatamente. Hoje, ela já tem comunicação, pode se sentar e tem controle da cabeça, ações que não tinha quando chegou à clínica. “Para quem tem uma criança normal, isso pode parecer um rendimento muito pequeno, mas, para aqueles que têm filhos deficientes, é um avanço que lhes permite até mesmo sair para jantar, ir ao teatro, sem preocupações maiores. O fato de a criança saber chupar um líquido com um canudinho é um avanço conside-
rável”, explica Leonardo.

Os médicos, em geral, incentivam a terapia realizada pela Therapies 4 Kids, pois, entendem que ela só tem a acrescentar ao tratamento. “Pediatras, neurologistas, neurocirurgiões, sempre que são indagados a respeito das terapias que fazemos, respondem, mesmo que céticos, que ‘uma terapia a mais é sempre bom e vai contribuir para o desenvolvimento da criança’”, conta Eileen. Segundo ela, uma médica fisiatra americana, Dra. Lucy Cohen, tem mandado, constantemente, pacientes para a clínica porque observou resultados significativos nos pacientes que receberam terapias.

Custo dos tratamentos
Nos Estados Unidos existem apenas 10 clínicas como esta, mas nem todas estão ativas. O principal diferencial da Therapies 4 Kids é que ela reúne em seu tratamento um maior número de atividades para os pacientes. Todos os tratamentos são particulares. Os pais do paciente ou um convênio é que cobrem os custos. Normalmente, os seguros só garantem 26 seções de terapias por ano para os seus segurados, um número irrisório para um tratamento. “26 seções de terapia é praticamente o que utilizamos em uma semana de tratamento. Alguns seguros, entretanto, têm reembolsado as terapias que realmente foram necessárias”, informa Leonardo.

“Independente das empresas de seguros ou da situação imigratória, existem muitas formas de se conseguir fundos para o tratamento. Leonardo conta que exis-
tem ONGs e empresas que ajudam pais em todo o mundo a fazerem o tratamento de seus filhos. Não é fácil conseguir todos os recursos para o tratamento, mas, com a nossa ajuda, ensinando, explicando como conseguir os fundos, enviando pedidos de Vistos e cartas de necessidade médica, muitos pacientes têm vindo tratar conosco”, informa Leonardo. A clínica, inclusive, tem em suas dependências uma representante da Bright Steps Forward (www.brightstepsforward.org), uma ONG capacitada para orientar pais de pacientes especiais a conseguirem recursos para o tratamento de seus filhos.

A próxima atividade da Therapies 4Kids será no dia 8 de agosto, em Miami, quando haverá um cocktail de abertura da nova unidade (351 Le Jeune North, Suíte 408, Miami, FL 33126), entre 4pm e 7pm.