Crianças com TOC têm dificuldades de memória e de funções executivas

Por Gazeta News

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Pesquisa da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) constatou que crianças e adolescentes portadoras de Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) (em inglês, OCD, Obsessive Compulsive Disorder) apresentam comprometimento de alguns circuitos cerebrais em decorrência da doença. Apesar de esse comprometimento ainda não ter se manifestado no comportamento, outros dados do estudo sugerem que existe a possibilidade de esses pacientes, ao atingirem a vida adulta, apresentarem dificuldades ou déficits ligados à memória e ao agrupamento semântico (evocar em sequência de palavras de uma mesma categoria). “Estudos futuros deverão ser feitos para confirmar esta hipótese”, afirma o autor do estudo, o psicólogo Marcelo Camargo Batistuzzo.

A pesquisa foi realizada com 50 crianças e adolescentes entre 7 e 17 anos, de ambos os sexos e mesmo nível socioeconômico, sendo 25 portadoras de TOC e 25 saudáveis. Segundo a pesquisa, pacientes com TOC apresentam dificuldades de memória e de funções executivas, como planejar e executar um determinado comportamento. “Trabalhamos com a hipótese de que esses problemas de memória acontecem porque as pessoas com TOC não conseguem organizar o conteúdo daquilo que devem memorizar durante a codificação dos estímulos”, conta o psicólogo.

Para investigar essa hipótese, Batistuzzo utilizou a ressonância magnética funcional para verificar a ativação cerebral dos 50 participantes do estudo durante testes de memória. Durante o exame, ambos os grupos foram expostos a 32 palavras divididas em duas listas. Na primeira, apareciam imagens de palavras relacionadas (mesma categoria semântica), como flores, roupas ou animais. Já na segunda, as palavras não apresentavam relação entre si. Cada lista continha 16 palavras com duas a cinco sílabas, e todas de substantivos concretos. Dentro da máquina de ressonância magnética, cada participante foi exposto a cada palavra três vezes, durante dois segundos. E, no final, os participantes repetiam as palavras lembradas.

Resultados No que se refere ao número de palavras lembradas, os resultados indicaram que os pacientes com TOC não apresentaram déficits em relação ao grupo controle. Batistuzzo analisou então o índice semântico, que reflete o quanto a criança consegue relacionar palavras em uma mesma categoria. “Quanto maior a categorização das palavras lembradas, maior será o índice semântico e a possibilidade de se evocar uma maior quantidade de palavras”, explica o pesquisador. Os resultados também foram semelhantes nos dois grupos.

As diferenças surgiram quando o pesquisador analisou a correlação entre o índice semântico e o número de palavras lembradas. “No grupo controle a utilização da estratégia foi capaz de prever a quantidade de palavras lembradas de modo que quanto mais categorizam palavra, mais se lembram delas. Isso não foi verificado do grupo de portadores de TOC”, aponta.

Outra diferença foi em relação à idade. Considerando o índice semântico encontrado em cada grupo, nos controles foi verificado que quanto mais velho o participante, maior o nível de categorização, o que não ocorreu no grupo de pacientes. “Essa dificuldade ao longo do desenvolvimento é algo esperado, ou seja, conforme o portador de TOC cresce, ele tem mais tempo de convivência com os sintomas e as dificuldades cognitivas aumentam”.

“Nós ficamos intrigados porque o número de palavras lembradas foi semelhante nos dois grupos. Entretanto, em relação à idade e ao índice semântico, os portadores de TOC não foram mais eficientes. Então, nós interpretamos que essa hipoativação dos circuitos cerebrais estavam comprometidas em decorrência do TOC, apesar de ainda não se manifestarem no comportamento [índice semântico e na variável de palavras lembradas]”, finaliza.

A ideia é repetir o estudo quando os participantes forem adultos.