As crianças “vivem como ratos” – o alto preço da guerra em Mossul

Por Arlaine Castro

Após a expulsão do Estado Islâmico nesta semana da cidade de Mossul, no Iraque, vem à tona um dos maiores problemas humanitários: uma cidade em ruínas e milhares de desabrigados. De todas as vítimas, as que mais sofrem são as crianças que têm a infância roubada e em troca ganham uma vida repleta de medo, dor e sofrimento.

Crianças são as maiores vítimas da guerra contra o Estado Islâmico no Iraque. Em missão durante os últimos meses em Mossul, a diretora da ONG britânica Road to Peace, Sally Becker, disse à BBC que “em Mossul, o que se vê agora são crianças vivendo como ratos.”

E não é de assustar. São crianças que vivem sob o risco iminente de violência, desnutrição e morte; órfãs ou não, mas que sofrem com a falta de segurança, educação e saúde.

Vez ou outra são divulgadas notícias de crianças e adolescentes sendo usadas pelo Estado Islâmico para realizarem atentados suicidas. Separadas dos pais desde muito novos e colocados em campos de treino, elas são treinadas inclusive para empunhar armas e ajudar na decapitação de reféns.

Cerca de 200 mil crianças vivem em meio ao conflito, sem água, comida e escola no Iraque, e uma entre nove crianças no mundo, vive atualmente em áreas de conflito segundo a Organização das Nações Unidas. Em maio de 2016, a Unicef - Fundo das Nações Unidas para a Infância (United Nations Children's Fund) lançou uma campanha sobre a dramática situação de cerca de 250 milhões de crianças que vivem em países afetados por conflitos.

Segundo a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres,elogiouo povo e o governo do país e prometeu o apoio das Nações Unidas às comunidades deslocadas e à restauração do Estado de Direito nas áreas liberadas.

Lise Grande, coordenadora humanitária da ONU no Iraque, diz ser um "alívio" que a batalha por Mossul tenha terminado, mas a crise humanitária ainda não cessou. "Muitas pessoas que fugiram perderam tudo. Precisam de abrigo, comida, cuidados médicos, água e equipes de emergência. Os níveis de trauma que estamos vivendo são os mais altos. O que as pessoas vêm passando é quase inimaginável", diz.

Para Becker, estar pessoalmente em lugares como Mossul é ver “a pior batalha, a pior devastação e o pior estado humanitário, porque estão sozinhos e doentes”.

Os três anos de domínio do grupo extremista cobraram seu preço.A ONU pediu $985 milhões de dólares para financiar projetos humanitários na região. Até agora, cerca de 43% foram recebidos, deixando uma lacuna de 562 milhões de dólares, conforme informou a ACNUR.

Desde que a campanha militar para retomar Mossul começou, em 17 de outubro de 2016, cerca de 920 mil civis fugiram de suas casas e cerca de 700 mil pessoas ainda estão deslocadas, quase metade delas vivendo em 19 campos de emergência com extrema necessidade de alimentos, cuidados de saúde, água, saneamento e kits de emergência, explicou a representante da ONU. Com informações das Organização das Nações Unidas e Agência da ONU para Refugiados.