Criatividade de gêmeos brasileiros chega às ruas americanas

Por Gazeta News

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Os grafites dos gêmeos paulistanos, Gustavo e Otávio Pandolfo, estão dando o que falar nas ruas de Boston. Críticos da figura enorme de um menino descalço, grafitada no sistema de ventilação do túnel Dewey, no centro de Boston, chamado de “The Giant of Boston”, acreditam que o menino descalço se parece com um terrorista, já que está com o rosto todo, com exceção dos olhos, coberto por uma camiseta. Segundo o site “The Huffington Post”, alguns críticos à obra de 20 metros quadrados se referem ao menino como “um personagem da animação Os Simpsons vestido como terrorista”.

Os Gêmeos, como são conhecidos, estiveram em Boston, em julho, para prestigiar sua primeira exposição individual num museu americano. Em 1º de agosto, o Institute of Contemporary Arts, em Boston, abriu a mostra “Os Gêmeos”, que incluiu a realização de três intervenções urbanas em Boston: o mural The Giant of Boston, uma perua grafitada e a fachada de um hotel. As figuras amarelas e maltrapilhas são recorrentes no trabalho de Os Gêmeos, que buscam denunciar mazelas sociais.

O curador do projeto, Pedro Alonzo, declarou que não acredita que é isso que a maioria das pessoas pensa sobre a obra de arte. Segundo ele, o personagem é apenas um garotinho de pijamas com uma camiseta em volta da cabeça. Alonzo já levou para Boston outro artista controverso, com uma retrospectiva de Shepard Fairey.

A diretora do museu, Jill Medvedov, também discorda que o mural tenha uma imagem negativa. “Esta obra de arte é uma alegre adição a Boston, com tremenda técnica e conhecimento, o que traz energia, além da criatividade brasileira para a cidade”, disse ela ao “Chicago Tribune”.

Até mesmo o prefeito de Boston, Thomas Menino, se opôs às críticas. “Nós não precisamos de gente criticando, dizendo que isso é contra nossa religião ou algo racista, pois não é”, disse.

No dia 7, residentes e visitantes compareceram ao Greenway para apreciar a obra, ao som de uma banda brasileira. A maioria dos presentes elogiou a obra por sua originalidade e beleza. Mesmo assim, muitos ainda se perguntam sobre o significado da obra. “Realmente é algo que salta nos olhos das pessoas e chama atenção, fazendo que se fale e se questione sobre a obra, o que eu acho que é importante”, disse Ben Gebo, fotógrafo que documentou a criação do projeto.

Se nada atrapalhar, os murais devem continuar na cidade até novembro de 2013.

Sobre “Os Gêmeos” O grafite stá presente em grandes centros urbanos de todo o mundo, inclusive ruas de Miami, em bairros como Winwood e o Design District, que atrai, todos os anos, artistas de todo o mundo durante o Art Basel, que ocorre nos primeiros dias de dezembro. Gustavo e Otávio Pandolfo, conhecidos como Os Gêmeos, nascidos em São Paulo em 1974, tem murais pintados em Miami, Nova York, agora Boston e várias cidades do mundo. Mas suas carreiras têm origem nas ruas do centro de São Paulo.

As obras dos Gêmeos mescla o mundo da imaginação, com personagens fantasiosos, e o mundo das contradições socioeconômicas, como se essas mesmas personagens criticassem as discrepâncias da sociedade em todo o mundo.

Os irmãos cresceram na região central de São Paulo, onde se familiarizaram com o grafite desde 1986. A cultura hip hop chegava ao Brasil e os jovens do bairro começaram a colorir suas ideias nos muros da cidade. Naquela época, com apenas 12 anos, Gustavo e Otavio improvisavam e inventavam sua própria linguagem, pintando com tintas de carro, látex, spray e usando bicos de desodorante e perfume para moldar seus traços, já que ainda não existiam acessórios e produtos próprios para a prática.

Em 1993, os irmãos começaram a ver a possibilidade de viver inteiramente do que gostam de fazer. O artista plástico e grafiteiro Barry Mgee (Twist), de São Francisco, visitou São Paulo para realizar uma exposição de arte contemporânea, servindo assim de inspiração aos irmãos. Nesta época, Gustavo e Otavio, que acabavam de completar 19 anos, já haviam começado a desenvolver um estilo próprio e a fazer trabalhos publicitários e decoração em lojas e escritórios com seus grafites. Em 1995, como experimento, realizaram uma exposição conjunta sobre arte de rua no MIS – Museu da Imagem e do Som, em São Paulo, e um ano depois uma pequena mostra de algumas peças e instalações em uma casa na Vila Madalena.

Mas a vida como artistas plásticos com o estilo já quase completamente maduro aconteceu pouco tempo depois, em Munique (Alemanha), a convite de Loomit, grande nome do mundo do Street Art que descobriu a dupla brasileira em uma revista internacional sobre o tema. Com este convite, os irmãos embarcaram em uma viagem sem volta pelo mundo, realizando projetos em parceria com outros artistas e, finalmente em 2003, a primeira exposição solo na galeria Luggage Store , em São Francisco.

Um grande salto veio quando os artistas entraram para a galeria Deitch Projects de Nova York em 2005, onde suas obras tomaram forma dentro do mercado de arte contemporânea. No momento em que ingressaram para o universo das galerias, a dupla pode trazer suas criações para um mundo além das ruas, dando formas tridimensionais em esculturas e instalação. Apenas depois de um ano, já com um nome forte no exterior, Os Gêmeos fizeram sua primeira exposição no Brasil, na Galeria Fortes Vilaça, em São Paulo.