Crime tipo exportação

Por Gazeta Admininstrator

Por: Letícia Kfuri
Acostumadas à dinâmica de combate ao crime característica da realidade norte-americana, as autoridades policiais de Massachusetts estão agora tendo que conviver com uma realidade “made in Brazil” que cobre de vergonha e de revolta qualquer trabalhador decente, que escolheu os Estados Unidos para viver: a atuação de marginais brasileiros que se dizem integrantes da organização criminosa carioca que se auto-denomina “Amigos dos Amigos” (Ada).

Como se não bastassem as dificuldades enfrentadas, diariamente, pelos imigrantes brasileiros que tentam ganhar a vida honestamente nos Estados Unidos, agora eles também têm, também, que enfrentar a constrangedora situação de, eventualmente, ser confundidos com bandidos que, lamentavelmente, a polícia carioca não colocou no devido lugar e que, por isso, agora, tentam ditar ordens em terra estrangeira.

Em Massachusetts, seis destes brasileiros foram presos em julho pela polícia local. Com dois deles, os mineiros Marcilei Caetano e Joelson Gomes Fonseca, 24 e 21 anos, foram encontrados anabolizantes e outras drogas sintéticas. Por posse de drogas ilegais, foram presos, mas tiveram fiança fixada em $ 2 mil. Marcilei e o mineiro Diego Felipe Rosa, 18, que também foi detido na operação - por não ter documentação legal -, foram deportados em setembro e estão no Brasil em liberdade. Um outro brasileiro, Joelson Gomes Fonseca, que seria, segundo a polícia, outro integrante da ADA nos EUA, ainda cumpre pena em Massachusetts, por porte de drogas.

Alegando ter ligações com a facção criminosa do Rio, os brasileiros extorquiam, roubavam e vendiam drogas, de acordo com denúncias apresentadas à polícia. Agiam contra imigrantes brasileiros, que, por estarem ilegais nos EUA, não denunciavam os crimes. A ação da gangue causa preocupação à polícia local, que já pediu ajuda ao Departamento de Imigração, e está promovendo seminários com a comunidade local para estimular a apresentação de denúncias. A polícia já identificou pelo menos duas quadrilhas que atuam na região, denominadas de Furacão e Jovem Brazilian Máfia.

Segundo a polícia, as gangues brasileiras surgiram há cerca de cinco anos e se tornaram perigosas e muito violentas. Suas principais atividades são tráfico de drogas, roubo e invasão de propriedades, já que muitos brasileiros não têm conta bancária e guardam dinheiro em casa. Os roubos de residências são comuns e pouco denunciados.

Apesar disso, os integrantes dessas quadrilhas são praticamente invisíveis para a polícia americana: não têm documentos regularizados, usam nomes falsos, não ostentam armas nem andam tatuados. Dessa forma, os bandidos estão praticamente impunes, graças à clandestinidade, comum entre brasileiros nos EUA.

De acordo com a polícia, os integrantes das gangues brasileiras cobram “mensalidades” de compatriotas ilegais, para não denunciá-los à imigração. Os valores chegam a até $500 mensais. “Conheço jovens que têm que sair com esses caras para não serem denunciadas. Homens de idade, com famílias inteiras e vida construída aqui forçados a entregar suas economias. Eles não prestam queixa, não falam com ninguém, vivem tudo em silêncio. Assim, os bandidos agem livremente”, disse Ilton Liboa, diretor da Massachusetts Aliance portuguese Speakers (Maps) a um jornal brasileiro.
O chefe da polícia de Framingham, Steve Carl, diz que não sabe por onde começar a procurar os brasileiros criminosos. “Eles não estão em nosso banco de dados”, disse.

A Interpol, no Brasil, não confirma que o crime organizado do Rio tenha chegado aos EUA, mas também não descarta a hipótese.

O que é a ADA
A facção ADA (Amigo dos Amigos) foi fundada por Ernaldo Pinto de Medeiros, o Uê, e por Celsinho da Vila Vintém por volta de 1998.

Uê foi expulso do Comando Vermelho em 94, após tramar a morte de Orlando Jogador, um dos líderes da principal organização criminosa do Rio de Janeiro.

Principal rival do traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar (ligado ao CV), Uê foi morto em 2002, durante rebelião liderada pelo Comando Vermelho no presídio de Bangu 1.

Com a morte de Uê e a prisão de Celsinho da Vila Vintém, o TC e a ADA se uniram. Dissidentes das duas facções formaram o TCP (Terceiro Comando Puro).