A redução na venda de cafés no Starbucks e de roupas no Wal-Mart são sinais da letargia nos hábitos de consumo dos norte-americanos, outrora tão gastadores.
“Não sei se os consumidores gastadores morreram, mas certamente estão na UTI”, disse Carl Steidtmann, economista-chefe da Deloitte Services LP.
A crise do mercado habitacional entra agora no segundo ano, o preço da energia continua elevado e os alimentos também encareceram, e por isso o consumo pode na verdade ser um empecilho à economia dos EUA.
“Atualmente o consumidor representa cerca de 70% do crescimento do PIB”, disse Steidtmann. “Se isso deixar de ser um fator que favorece o crescimento para se tornar um que prejudica o crescimento, isso poderia claramente ser um fator que levaria à recessão.”
A rede de supermercados Wal-Mart anunciou um lucro abaixo do esperado no segundo trimestre e um crescimento nas lojas dos EUA de apenas 1,9 % (excluindo lojas novas).
“Não é segredo que muitos clientes estão ficando sem dinheiro no fim do mês”, disse Lee Scott, executivo-chefe do Wal-Mart, maior rede de varejo do mundo, com mais de 127 milhões de clientes por semana nos EUA.
Segundo ele, os consumidores estão gastando mais em itens com baixa margem de lucro, como alimentos, e rejeitando roupas, por exemplo, que dão lucro maior.
Além disso, os economistas tendem a descontar o impacto sazonal dos alimentos em seus cálculos de inflação, mas o aumento chega do mesmo jeito ao bolso dos consumidores.
Em julho, o America’’s Research Group fez uma pesquisa que mostrou que 65 % dos entrevistados haviam notado um aumento significativo nos preços do seu supermercado habitual, o que os levou a gastar pelo menos $8 a $20 a mais, por semana, segundo Britt Beemer, presidente do instituto. Em fevereiro e março, 53% haviam notado o aumento, e o gasto adicional havia sido de $6 a $12.
De acordo com Beemer, os preços dos alimentos estão tolhendo o consumo habitual da época de volta às aulas, especialmente no item roupas.
A Sears Holdings informou que seu faturamento nos EUA (excluindo lojas novas) caiu 4,3 % no segundo trimestre. No Kmart, as vendas caíram 3,8 %.
Já a Home Depot sofreu reflexos da crise no mercado imobiliário e divulgou uma queda de 15 % no seu lucro do segundo trimestre. Além disso, o faturamento do trimestre apresentou queda pela primeira vez em quatro anos.
Até itens mais banais do cotidiano norte-americano, como os cafés do Starbucks, estão sendo afetados. No mês passado, o executivo-chefe da rede, Jim Donald, disse que o encarecimento de matérias-primas, como gasolina e leite, está influindo no preço final e afastando clientes.
Os gastos dos consumidores, força-motriz da economia norte-americana, se desaceleraram nos últimos meses, embora tenham se mostrado notavelmente resistentes a uma série de aumentos da gasolina e à primeira fase da crise imobiliária.
No segundo trimestre, o consumo cresceu apenas 1,3 % em comparação ao ano anterior, abaixo dos 3,7 % do primeiro trimestre.
David Rosenberg, economista da Merrill Lynch, lembra que as vendas de automóveis já tiveram sete meses consecutivos de queda, que os gastos dos consumidores em termos reais ficaram estagnados no período fevereiro-julho.

