Crise imobiliária afeta brasileiros nos EUA

Por Gazeta Admininstrator

A “bolha imobiliária” no País, que vem causando uma queda generalizada no preço dos imóveis, caiu como uma bomba na comunidade brasileira no país. Estima-se que cerca de 1 milhão de brasileiros, entre legais e ilegais, vivem nos Estados Unidos. Destes, quase 300 mil estão no estado de Massachusetts. Segundo o Centro do Imigrante Brasileiro em Massachusetts, pelo menos 25 mil brasileiros pagam hipoteca - o financiamento imobiliário americano - e muitos estão passando sérias dificuldades e até perdendo os imóveis que compraram.

Segundo Fausto da Rocha, diretor do Centro do Imigrante, quem refinanciou o imóvel para pagar dívidas nos últimos anos - apostando que o mercado imobiliário continuaria aquecido - se deu mal. “Eu mesmo já levei três brasileiros para decretar falência. E outros simplesmente deixaram a casa e as dívidas e voltaram para o Brasil”, ressalta Fausto. “O problema é que muita gente não olhou os juros e as condições antes de comprar o imóvel. Eles foram levados pelo papo dos corretores de imóveis.”

Sentindo na pele
“Eles”, no caso de Fausto, é um eufemismo para “nós”. O diretor do Centro do Imigrante contou ao G1 que terá de quitar as dívidas que tem no cartão de crédito para mostrar que é “bom pagador” e poder refinanciar a casa onde mora pela segunda vez, com juros menores. Ele tem uma dívida de US$ 370 mil do financiamento da casa onde mora com a mulher e três dos seis filhos. Mas, por causa do seu perfil de crédito, visto como de “alto risco”, paga juros de até 12% ao ano na hipoteca - a mesma taxa cobrada por bancos brasileiros para financiamentos do gênero.

Fausto diz ter caído na principal armadilha do crédito norte-americano - refinanciar a dívida da casa própria para pegar dinheiro e quitar outras dívidas. O primeiro refinanciamento da casa onde mora, feito há dois anos, foi feito para pagar dívidas de consumo. Ao refinanciar o imóvel, ele recebeu US$ 70 mil, mas a nova hipoteca se mostrou bem menos vantajosa. A prestação da casa, que era de US$ 1,2 mil, passou para US$ 3,5 mil. E, como o plano que Fausto escolheu prevê o reajuste da prestação, ele poderá ter de pagar, em alguns anos, até US$ 4,3 mil ao mês.

Com o salário que ele recebe no Centro do Imigrante e o trabalho da esposa como faxineira, ele diz que um aumento na prestação está totalmente descartado. “Ou eu pago os cartões de crédito e refinancio o imóvel mais uma vez ou eu perco a casa”, resume Fausto. Se não conseguir reestruturar a dívida, fica com um “mico” na mão. Com o desaquecimento imobiliário, o brasileiro acabou com um financiamento de US$ 370 mil para um imóvel que vale hoje US$ 320 mil.

De acordo com especialistas, a situação de Fausto e de outros brasileiros em dificuldades financeiras nos Estados Unidos reflete o problema da economia norte-americana como um todo: alto consumo, baixa poupança - com dívidas no cartão de crédito e financiamento imobiliário pouco sobra para guardar - e, conseqüentemente, dívidas muito além do orçamento doméstico.

A bolha do mercado imobiliário se formou nos últimos cinco anos, quando linhas de financiamento se multiplicaram até para quem já estava coberto de dívidas. Com uma série de linhas de crédito disponíveis, muita gente acabou refinanciando o imóvel para pagar dívidas, sem necessariamente deixar de usar o cartão de crédito depois disso. Agora, com a redução das opções de financiamento de imóveis, por causa do aumento na inadimplência, a possibilidade de pagar um financiamento contraindo outro desapareceu.

Em outras palavras, “a casa caiu”. Segundo Renato Baumann, diretor da Comissão Econômica para a América Latina (Cepal), órgão ligado à Organização das Nações Unidas (ONU), o que a economia norte-americana corre o risco de viver é o efeito “castelo de cartas”. “Os indivíduos que eram considerados de risco estão deixando de pagar. A pergunta que se faz agora é até que ponto isso afetará a economia como um todo”, explica.

Ou seja: será que, ao não poder mais pagar as dívidas da casa, o americano deixará de ir ao shopping center, freando o consumo da família, o principal motor da economia americana? Nos últimos anos, o consumo esteve tão aquecido que a economia simplesmente não deu conta de produzir tudo o que seus habitantes queriam comprar. Resultado: as importações americanas aumentaram e o consumo de mercadorias chinesas nunca foi tão grande no país. Isso causou um déficit comercial recorde de US$ 763,6 bilhões no ano passado.

Equilíbrio econômico
Foi um acordo econômico informal que deixou a maior economia do mundo feliz. Os países em desenvolvimento vendiam mais para os Estados Unidos e o país compensava seu déficit comercial com a venda de títulos do tesouro americano - tidos como o investimento mais seguro do mundo - de volta para essas nações. A China, o maior exportador do mercado norte-americano, é também o principal comprador de títulos do tesouro norte-americano. Ou seja: o que os EUA compravam em produtos, a China devolvia adquirindo títulos.

Com a possibilidade do desaquecimento nos Estados Unidos e o alto estoque de dólares de países em desenvolvimento, com especial destaque para o US$ 1 trilhão da China, este fino equilíbrio da economia corre risco. Com os norte-americanos consumindo menos, explica o professor Alexandre Biancareli, do Instituto de Economia da Unicamp, as economias de todo o mundo - incluindo a do Brasil - correm o risco de ser afetadas. “Se vender menos para os EUA, a China também comprará menos de outros países”, ressalta.

Por isso, diz o economista, o melhor a fazer é torcer para que a crise seja moderada. Assim, quem sabe, o efeito dominó da bolha imobiliária dos Estados Unidos não afetará também os brasileiros que vivem no Brasil.