Crise uzbeque põe EUA numa corda bamba diplomática

Por Gazeta Admininstrator

Os americanos passaram a sofrer vez mais pressões por causa da sua política em relação ao Uzbequistão desde que o governo reprimiu protestos na semana passada, matando, estima-se, centenas de pessoas.

Washington tem sido consistente nas suas críticas ao histórico de direitos humanos no país, mas também tem se apoiado na ajuda do presidente Islam Karimov à sua guerra contra o terrorismo.

O governo americano tem uma grande base militar no Uzbequistão que é vista pelo Pentágono como importante para projetar a sua influência na região.

Washington também mantém um olho nas reservas uzbeques de gás e petróleo.

Portanto, embora preocupados com a violência no Uzbequistão, os Estados Unidos têm tentado evitar assumir uma posição em público. Mas esta atitude está se tornando insustentável.

Críticas privadas

Nesta segunda-feira, o Departamento de Estado expressou a sua condenação mais forte da violência até agora, dizendo estar "profundamente incomodado" com as informações de que a polícia disparou contra manifestantes desarmados e fazendo um apelo para que a Cruz Vermelha tenha acesso às áreas afetadas.

Mas o porta-voz do Departamento, Richard Boucher, também repreendeu os manifestantes que invadiram prédios do governo e reiterou preocupações com o extremismo islâmico.

A política de Washington para o Uzbequistão tem sido fazer críticas privadas ao governo pelos abusos dos direitos humanos no país.

Agora, no entanto, o governo americano tem sido muito criticado por não fazer mais contra o regime uzbeque.

Em 2004, Washington deu US$ 50,6 milhões em assistência financeira ao Uzbequistão que foram aplicados em segurança e fiscalização.

O congressista republicano Dana Rohrabacher, encarregado das relações com o presidente Karimov, destacou em entrevista à BBC a importância da ajuda do governo uzbeque nas operações militares americanas no Afeganistão, mas também admitiu que a política americana para o país poderia ter sido mais dura.

"Durante a Segunda Guerra Mundial nós tivemos que lidar com Joe (Joseph) Stalin. Nós assumimos que ele era nosso aliado contra Adolf Hitler."

"Mas talvez nós deveríamos ter sido um pouco mais duros (com Karimov)", disse.

Já a vice-diretora da organização de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch, Rachel Denber, diz que os Estados Unidos têm uma "política esquizofrênica" para o país.

"De um lado você tem o Departamento de Estado procurando exercer pressão sobre o governo uzbeque e usando todos os meios para exercer pressão", disse Denber à BBC.

"Do outro lado, você tem o Departamento de Defesa querendo dar carta branca para o governo."

Washington cortou parte da ajuda ao governo de Karimov por causa do seu histórico de direitos humanos.

Mas o diretor do Institute for Global Engagement, Chris Seiple, vê na atual crise uma oportunidade, mais do que um problema para os Estados Unidos.

"Esta crise pode trazer uma nova fase do nosso relacionamento. Nós podemos dizer ao presidente Karimov, você tem uma escolha: trabalhe conosco e se comprometa com as reformas ou nós não estaremos lá no longo prazo."

"Os benefícios de ter a nossa base no Uzbequistão são taticamente importantes, mas estrategicamente insignificantes."

Já para o ex-embaixador americano no Uzbequistão, Joseph Pressel, os Estados Unidos precisam encontrar um equilíbrio entre a questão dos direitos humanos, que ele diz ser "parte fundamental" da política externa americana, com os outros interesses envolvidos.

"Qualquer governo americano precisa balancear a série de problemas que nós temos --o desejo de assegurar os direitos humanos, e no caso do Uzbequistão de produzir reforma política e econômica também-- com a cooperação militar que nós temos."