Reunião teria sido concluída sem um consenso entre os participantes
O documento final da 4ª Cúpula das Américas registra o impasse na discussão sobre a Área de Livre Comércio das Américas (Alca). Os 34 países do continente – à exceção de Cuba – ficaram divididos em dois grupos.
De um lado, 29 países defendendo um cronograma para sua implementação, e de outro, o Mercosul e a Venezuela preferindo esperar as negociações na Organização Mundial do Comércio (OMC), em dezembro, para avançar no diálogo. "Houve acordo com desacordo", afirmou o vice-ministro das Relações Exteriores da Argentina, Jorge Taiana.
Taiana e o ministro das Relações Exteriores do país, Rafael Bielsa, foram encarregados de explicar à imprensa o documento final, acertado oito horas após a volta do presidente Luís Inácio Lula da Silva ao Brasil e seis horas depois do embarque do presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, à capital brasileira. Bush e Lula reúnem-se neste fim de semana em Brasília.
"Vejam o tamanho do PIB (Produto Interno Bruto) dos que estão de acordo e o dos que não estão de acordo com a Alca", disse Bielsa. O chanceler fazia referência, específica, ao Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e Venezuela, ricos em agricultura, íitens da indústria e petróleo.
E, sem dizer nomes, citava países como o Peru e o Equador, que, no entendimento de diplomatas brasileiros, poderiam ter sua economias fortalecidas a partir do acordo com os Estados Unidos, além do México e do Canadá, por exemplo.
Tensão
No segundo e último dia da 4ª Cúpula das Américas, no balneário de Mar del Plata, a reunião foi marcada, segundo a imprensa argentina, por horas de tensão. Chegou-se a pensar que não haveria uma declaração final, já que a discórdia dominou as discussões durante todo o dia.
O presidente Bush teria dito, ainda de acordo com a imprensa local, que seria "preocupante" não haver uma declaração final assinada por todos os países. Às 14h, marcou-se entrevista coletiva para o anúncio das conclusões do encontro.
Mas a declaração final foi adiada, sem horário exato, e somente quatro horas mais tarde, Bielsa e Taiana falaram para um auditório lotado sobre o "acordo com desacordo".
Foram tantas as perguntas sobre a Alca que o ministro argentino disse: "A Alca não é uma palavra religiosa. Não é dessas palavras proibidas como beusebu ou satanás. Mas vamos negociar para definir o que beneficie a nossos povos".
Mercosul
Mais tarde, numa outra entrevista, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, o mais resistente a qualquer discussão sobre a Alca e que chegou a dizer que ela estava sendo "enterrada" na Cúpula de Mar del Plata, afirmou: "Fomos cinco mosqueteiros, com os joelhos na terra, brigando no debate sobre essa integração".
Chávez admitiu assim, segundo diplomatas, que unia-se ao Mercosul – bloco ao qual já pediu a adesão da Venezuela, como membro integral, com status de sócio pleno. Mas o líder da Venezuela voltou a criticar o presidente americano, dizendo: "George W. Bush foi derrotado. Voces não viram a cara dele quando foi embora?", afirmou.
O presidente venezuelano lembrou que o governo americano pretendia que fossem marcadas as datas para as próximas reuniões para se discutir a Alca, mas isso nao ocorreu.
Após dois dias de reuniões dos chefes de Estado e de governo e depois de cinco dias de intensas discussões entre os negociadores dos 34 países, o documento final inclui parágrafos referentes à Alca – divididos em três pontos, que incluem a sugestão do presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, de uma nova reunião dos negociadores, ainda sem data marcada, para avaliar as discussões sobre o livre comércio no continente.
O mesmo documento inclui declaracões de solidariedade ao Haiti, referências à importância da manutencão da governabilidade na Bolívia, e o destaque para a importância da geracão de trabalho.
A criação de emprego, segundo o vice-chanceler argentino, é a parte mais extensa e detalhada do documento final. Nela, ressalta-se, por exemplo, a importância do crescimento com igualdade social, a necessidade de apoio às pequenas e médias empresas e a geração de postos de trabalho como forma de combater a pobreza.
Um texto conciliador, já que também existiam diferençaas neste item, com os governos dos países desenvolvidos defendendo maior flexibilização das leis trabalhistas e o Mercosul sugerindo maior cautela e proteção ao trabalhador. A próxima reunião da Cúpula das Américas será em 2006 em Trinidad e Tobago.