De garoto a homem: desafios e armadilhas

Por Adriana Tanese Nogueira

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Havia uma vez um jovem bem intencionado. Ele cresceu vendo as brigas entre os pais. Sentia-se mal. Quando grande, quis ser um homem diferente de seu pai... Ah, se a boa vontade fosse suficiente! Quem quer se diferenciar dos modelos aprendidos em casa há de encarar alguns dragões com mente lúcida e sangue frio. Primeiro dragão: o patriarca O pai há de ser assassinado e convertido em banquete, só assim salvamos o papai que amamos e superamos o tirano que detestamos. O banquete é a metáfora da superação da autoridade paterna com incorporação do alimento espiritual, intelectual e emocional para nosso crescimento pessoal. Para matar o pai não basta reconhecer sua falhas e assimilar suas qualidades. A figura paterna é quem dá a legitimidade, é o alvará que reconhece direitos, o principal sendo o direito à existência nesse mundo. Portanto, o pai só está devidamento morto quando filho se autorizar sem ranços e sem outros sentidos, assumindo a autoridade (e responsabilidade) sobre sua vida. Segundo dragão: o medo O jovem que quer virar adulto há de encarar o medo. Medo de errar e medo de brigar. Não se muda o mundo na risada e na brincadeira. Mundo e vida são coisas sérias. O respeito a si próprio é coisa seríssima. O homem adulto sabe aguentar o tranco. Mesmo tremendo como uma folha, ele encara a autoridade autoritária e dá legitimidade às próprias escolhas. Aguente o medo e mate esse dragão. Terceiro dragão: a matriarca A matriarca não esbraveja, mas nem por isso é inimigo menos insidioso. A matriaca controla pelo “amor”, um amor que pode estar encharcado de vitimismo. A passividade da matriarca, sua aparente inocência e “bondade” amarram o jovem guerreiro com laços mais poderosos do que o medo do patriarca. Inteligência emocional é aqui mais importante do que matemática e gramática. As armas da matriarca são visíveis no que ela faz seus filhos sentirem e agirem sem precisar dizer nada. Quarto dragão: a culpa Ao se opor à autoridade, surge a culpa. Desapontar os outros pode, muitas vezes, ser inevitável. Ser si mesmo significa ser diferente: nos tempos, nas necessidades, nas prioridades. Quanto mais o patriarca for autoritário e quanto mais a matriarca for manipuladora, maior será o sentimento de culpa que provoca em seu filho. O jovem terá que vencer a culpa por “desapontá-los”. Quinto dragão: o orgulho Crescer não é fácil. No sistema patriarcal, o jovem está acostumado a um modelo de relacionamento bully-turma. Na família, o bully é o patriarca, lá fora o sistema, os professores, a polícia, um dos amigos ou o próprio jovem na tentativa de se afirmar. No patriacado, qualquer dificuldade pessoal é entedida como fraqueza e punida com a exclusão e o deboche. Os homens vivem se ridicularizando o tempo todo. O que parece  uma brincadeira é, na verdade, um comportamento de dominação. Quem supera a prova é um f*ão do grupo. Assim, para o jovem em seu caminho rumo a si mesmo terá de enfrentar um dragão que se insediou em seu peito: o orgulho. Orgulho que impede de reconher suas fraquezas, que nada mais são que naturais e inevitáveis falhas na construção de uma personalidade que não recebeu todos os nutrientes necessários. Portanto, a culpa é ilusória.

Tornar-se homem é uma tarefa difícil. O patriarcado não empodera o homem, o submete fazendo-o se sentir inadequado e incompetente quando não é o “herói” aplaudido pelas massas. Daí muitos homens terem uma dificuldade gigantesca em aceitar críticas, pois estão acostumados a viver num contexto de dominação. Criticar é para eles escrachar e não refletir juntos para evoluirmos juntos, rumo a uma realidade mais harmoniosa e pacífica, mais feliz para todos.