De Jimmy Neutron a Hanna Montana; de Ginger a Alex Russo: o que será das novas gerações? - Pais e Filhos

Por Adriana Tanese Nogueira

Jimmy

O Jimmy Neutron era um desenho que foi veiculado pela Nickelodeon entre 2002 e 2006. Minha filha o assistia quando era menor. Ela voltou anos depois a procurá-lo no YouTube e passou uma tarde se divertindo. Aí veio até mim e me disse, “Mãe, você precisa escrever sobre o Jimmy Neutron! Ele não tinha vergonha de ser inteligente! Os programas para crianças mudaram muito!”.

É verdade. De Jimmy Neutron, o menino que é gênio e tem amigos, passamos no mesmo ano a (pasmem!) Hanna Montana, a garota que começou simpatiquinha e terminou por ser uma das personagens mais arrogantes, prepotentes e egoístas do mundo televisivo. Nessa nova fase da mídia infantil, que tanta influência tem sobre as meninas a partir dos 3 anos de idade, o que conta é o bullying e a vantagem pessoal. Escola é secundária e aprender, supérfluo.

Aparentemente, ser inteligentes, aplicados e interessados não está na moda. Os Jimmys da vida viraram “nerds”, definição reducionista dada a quem gosta de estudar por quem foge dos livros. Nos tempos do Jimmy Neutron, ter e apreciar conhecimento não correspondia a ser uma criança esquisita, agora equivale a ser uma pessoa desinteressante. Ser bacana e valorizar o conhecimento não combinam mais.

Para completar a deseducação que a Disney Channel está despejando sobre as novas gerações, a imagem dos pais decaiu para aquela de indivíduos fúteis e muitas vezes em competição com os filhos. De Contado por Ginger - outro desenho da Nickelodeon que foi ao ar entre 1998 e 2003, apresentando uma adolescente normal que escreve um diário, tem problemas com as amigas, se depila, tem uma mãe solteira com a qual conversa e troca ideias - passamos a Os Feiticeiros de Waverly Place que estreou em 2007 trazendo aos palcos Alex Russo (Selena Gomez), espertinha ignorante, magérrima de roupas charmosas, cabelos perfeitos, maquiagem impecável, que tira o sarro de todos, inclusive dos próprios pais e sem o menor escrúpulo. “Consciência” é uma dimensão da vida humana que raramente entra no dia a dia dela e quando, porventura, acontece, é sempre por breves momentos porque, como bem sabemos não é “cool”, não é popular ter consciência. Entramos numa nova era, a de pais bobos e filhos arrogantes que estão no controle.

Os resultados disso, pelo menos aqui, nos Estados Unidos, estão visíveis nas escolas. O nível de superficialidade, fofocagem e manipulação entre meninas é assustador. A ambição existencial de todas é ser cantora, os objetivos a curto prazo é ser popular, isto é arrogantes e altivas, egoístas e insensíveis como suas ídolas. Aos meninos cabe ser partners à altura dessas novas miniestrelas, conformando-se ao papel correspondente que têm elas como protagonistas. E, naturalmente, eles também cantam.

Aliás, cantar é um must. Todos hão de botar para fora toda a voz que tiverem no peito e cantar o hino da Disney Channel, que prega a todos que a melhor coisa do mundo é ser si mesmos, e que todos devemos ser amigos e ajudar a terra, ser ecológicos e respeitar a natureza (apesar do uso que se faz da comida nesses programas onde ela chega a ser usadas como objetos atirados contra os outros, o que é ultrajoso, considerando que ainda há gente no mundo que não tem comida para sobreviver). Nessa esquizofrenia psicocultural, as crianças do mundo real vivem no transe ‘disneyano’, almejando ser como seus ídolos televisivos, enquanto seus pais, afobados para fazer as vontades de seus filhotes queridos, se apressam a gastar seu suado dinheiro para comprar a fantasia da Hanna Montana. Será que a Disney tem razão?