Ao longo dos anos em que está na presidência, Barack Obama tem tido cuidado com as questões que envolvem os direitos civis. Ao mesmo tempo em que ativistas afro-americanos são os maiores apoiadores do primeiro presidente negro dos Estados Unidos, são eles os que mais pressionam e criticam o escasso envolvimento de Obama com a questão dos direitos civis.
Desde que os protestos em Ferguson tiveram início, há alguns meses, Obama tem tido cautela entre a empatia com aqueles indignados com a ação da polícia em algumas áreas, ao mesmo temmpo em que tenta evitar a escalada de um debate racial.
A forma de abordagem do primeiro presidente afro-americano tem desapontado alguns, segundo artigo do “The Tribune Washington Bureau”, publicado esta semana, em particular os jovens que veem os conflitos após a morte de Michael Brown e de Eric Garner, em Nova York, como um divisor de águas.
Ao mesmo tempo, outros não estão surpresos. “Nós não elegemos um líder dos direitos civis, nós elegemos um presidente”, disse o Reverendo Dr. Howard-John Wesley, líder da Alfred Street Baptist Church em Alexandria, e que se reuniu com Obama na semana passada.
Para muitos afro-americanos, os seis anos de Obama na presidência têm sido um exercício em ajustar as expectativas sobre o que ele dirá em questões envolvendo raça. Muitos dos que uma vez pensaram que Obama iria liderar nas discussões, precisaram aceitá-lo como um guia mais distante. Aqueles que esperaram que ele fosse visitar líderes de protestos ou usar uma oratória cativante sobre o tema, não entendem o seu papel e terminam desapontados, disseram alguns críticos, de acordo com o “The Tribune Washington Bureau”.
Uma pesquisa do Pew Research Center, publicada esta semana, mostra que, embora o apoio de afro-americanos a Obama continue alto, a aprovação da forma como ele lida com questões raciais caiu bastante nos últimos meses, de 73% em agosto para 57%.
Assim como em relação à imigração, um dos grandes focos da campanha presidencial de Obama, a Casa Branca trabalha para manter o apoio dos afro-americanos, outro grupo que teve um papel marcante para eleger o presidente. “Eu sei que negros e latinos não estão inventando isso”, disse Obama, na primeira entrevista sobre o caso, que foi ao ar no dia 8, na “BET Networks”. “Mas tenho certeza que há pessoas que querem que eu diga, é isso que eu penso que teria que ser feito se eu estivesse no júri, é isso que eu teria dito, e assim por diante. O que deixa algumas pessoas frustradas é que eu não digo ‘é isso que deveria ter acontecido’, e isso é algo que não posso fazer institucionalmente”.
Se o presidente tivesse exposto mais a sua opinião, histórias como a de quando ele foi confundido com um valet quando esperava na calçada e que lhe deram uma chave de carro ou quando ele foi confundido com um garçom em um evento, poderiam ser usadas em discursos.
Obama contou essas histórias em uma reunião com jovens ativistas na última semana. Um dos organizadores deixou a reunião com a impressão de que os dois não estão vendo da mesma forma o ritmo das mudanças.
“O presidente estava falando de como a mudança é devagar e como devemos ter paciência”, disse James Hayes, um organizador de 24 anos com o Ohio Student Association. “Mas, algumas vezes, momentos como esse, em que um terremoto acontece, podem estar acelerando as mudanças”.