Denúncias paralisam o Clube Democrata Brasileiro

Por Marisa Arruda Barbosa

Hugo Mendez

Denúncias de que um dos envolvidos no Brazilian American Democratic Club (BADC) estaria cobrando indevidamente para ajudar imigrantes com problemas com a imigração, colocou os membros em uma batalha por sua própria reputação.

Inaugurado em 7 de setembro de 2011, o BADC tinha, como intenção inicial, reeleger Barack Obama e conscientizar os brasileiros que podem votar a se envolverem politicamente, de acordo com Isabel Santos, presidente do clube.

Desde a inauguração, através de eventos locais, o grupo foi se envolvendo com a comunidade. No início desse ano, integravam o grupo, Isabel Flores (presidente), Robin Blanchard (diretora), Hugo Mendez (vice- presidente) e Clarence Shahid Freeman (tesoureiro).

Foi durante eventos do BADC que brasileiros com problemas com a imigração teriam feito um primeiro contato com o clube. Muitos deles disseram ter sido ajudados pelo grupo, mas outros disseram ter dado dinheiro ao tesoureiro Shahid, sob promessas que nem sempre foram cumpridas.

Contatada pelo Gazeta News, Isabel, presidente do partido, fez a seguinte declaração: “O Partido Democrata e o Clube Democrata Brasileiro Americano não têm envolvimento com o recebimento de dinheiro para motivos de imigração. Qualquer atividade praticada por pessoas que possam ser tidas como afiliadas ou que digam estarem agindo em nome do partido, no que tange assuntos de imigração, não o fazem em nome do partido”.

Hugo conta que foi convidado por Isabel para entrar no clube há mais ou menos dois meses para ajudar com a papelada atrasada desde a inauguração. “Parecia que a Isabel estava perdida com a documentação, incluindo o depósito de cheques de membros”, disse Hugo.

Foi então que Isabel o apontou como vice-presidente do clube, segundo Hugo. Shahid, ainda de acordo com Hugo, teria entrado no grupo como tesoureiro, indicado pelo presidente do partido democrata no condado de Palm Beach, Mark Siegel. Shahid tem uma longa história trabalhando como ativista entre várias comunidades no sul da Flórida.

Mas Hugo conta que logo começou a receber reclamações. Ele começou a notar que Shahid estava dando aconselhamento legal sem ser advogado, além de estar cobrando das pessoas por um serviço que todos faziam voluntariamente.

Tanto Isabel como Robin dizem não poderem falar porque não têm uma visão da história toda. “Eu não tenho um panorama da história, e acho que ninguém tem”, disse Robin. “Eu não julgo ninguém”, disse Isabel, completando que o clube está se reestruturando no momento.

Suspeita de fraude

A advogada, cônsul honorária da Guatemala e ativista entre imigrantes latinos, Aileen Josephs, também percebeu que algo estava errado com Shahid, em quem ela confiava e ajudava há muitos anos com aconselhamento legal no trabalho dele como ativista. Aileen conta que, em dezembro, Shahid disse a ela que estava ajudando a comunidade brasileira através do clube.

Por sua vez, Hugo (foto abaixo) conta que recebeu mais ou menos 20 reclamações, na maioria de brasileiros. As pessoas diziam que haviam dado dinheiro a Shahid, mas ele tinha sumido. Ele ligou para Shahid e sua caixa de mensagens estava cheia. Foi então que Hugo começou a desconfiar que tratava-se de uma possível fraude.

Hugo afirma que procurou Isabel e Robin, dizendo que tinham que parar tudo e investigar o caso, pois se tratava da reputação de todos os envolvidos. Hugo conta que então se reuniu com Mark Siegel, mas conta que desde então teve pouco apoio dele. Mark pediu que Robin fizesse uma lista das pessoas que Shahid havia cobrado. De acordo com Hugo, Robin preparou a lista e não mostrou a ele, vice-presidente do clube, entregando diretamente a Mark, em 27 de março.

O Gazeta teve acesso à lista, com 17 pessoas, sendo uma delas uma família. Eles pedem que Shahid devolva o total de $2.200 dólares para reembolso de casos não resolvidos.

Líderes latinos querem Shahid fora do partido

Uma carta foi enviada na última semana a Mark Siegel, reunindo quatro membros do partido democrata, incluindo Hugo Mendez, Peter Camacho, Isidoro Raul Mejia e John Ramos, do partido democrata de Palm Beach. Dadas as denúncias contra Shahid, eles pedem a remoção dele de qualquer posição ligada ao partido. Na carta, o grupo se diz preocupado com a forma que o presidente do partido lidou com a denúncia até o momento.

Casos de brasileiros

Em dezembro, a pedido de Shahid, Aileen Josephs revisou os documentos de uma brasileira, que preferiu não ter seu nome publicado. Tudo que Aileen pode fazer pela jovem foi uma “protection letter”, uma carta de proteção na qual ela anexa o memorando de John Morton, diretor do Immigration and Customs Enforcement (ICE), pedindo discrição caso a pessoa seja parada pela polícia ou imigração, explicando o status da imigrante, que está sem documentos, mas, por exemplo, tem filhos cidadãos americanos. “Isso é algo que faço de graça diariamente”, disse.

Aileen, no entanto, ficou surpresa ao ser informada que a jovem havia pago $750 dólares para Shahid.

A jovem brasileira contou ao Gazeta que conheceu Shahid em um evento do clube democrata no início de novembro. Ao contar seu caso, Shahid disse que poderia ajudá-la através de Aileen.

De acordo com a jovem, eladisse que falou com Aileen, e que custaria $750 dólares, mas pediu que a jovem fizesse o cheque em nome dele e não da advogada, para que ela ficasse “sob a proteção dele”, segundo a brasileira. Aileen então indicou a jovem para sua colega, Cynthia Arevolo, para uma segunda opinião. A jovem diz que foi a partir daí que ele começou a “enrolar”, e não deixava que ela falasse diretamente com a advogada. Ou seja, de acordo com as informações, Shahid havia cobrado da jovem pelos serviços das advogadas, mas elas não haviam cobrado nada e nem se consideravam sua advogada, pois nada poderia ser feito. A jovem enviou um e-mail pedindo a devolução do dinheiro, que ainda não ocorreu.

Outro brasileiro ressalta que foi muito ajudado por outros membros do clube. Ele afirma que pagou $375 a Shahid e conseguiu estender em um ano seu direito de ficar no país. Meio sem saber por que, o brasileiro conta que Robin devolveu seu dinheiro. “Ela é uma pessoa maravilhosa e se sentiu na obrigação de devolver ”, conta. Há ainda outros casos de brasileiros e de uma família colombianas que esperam reembolso.

Resposta de Shahid

O Gazeta News procurou Shahid Freeman pedindo explicações sobre a denúncia. Ele respondeu por e-mail, traduzido abaixo:

“Obrigado pela notícia... Isso é mentira… no entanto, espero que isso aconteça (o processo pedindo sua remoção) porque eu estou processando todas as partes envolvidas que direcionaram essa mentira... Eu nunca trabalhei para o Partido Democrata e por isso eles estão me acusando falsamente de qualquer coisa. Eu irei lidar com isso da maneira apropriada... meus advogados me instruíram... Se qualquer brasileiro teve qualquer problema, por que não veio até mim? Alguns me encontraram e me disseram que outras pessoas vieram até eles pedindo que mentissem sobre mim... Eles darão essa informação sob juramento”.

Situação do Brazilian American Democratic Club hoje

De acordo com Hugo, John Ramos, do Committee State Democratic of Palm Beach, disse que a certificação do clube está pendente no momento, até que a situação se regularize. Robin afirma que a partir do momento que recebeu reclamações, tanto ela como Isabel, pararam tudo para resolvê-las.

“Eu não quero me antecipar a fazer um julgamento, todos podem julgar, mas sei que as provas certas sobre essa história virão”, disse Robin. “Tudo que posso dizer é que fizemos muito pela comunidade, e que o partido ainda quer que eu lute pelos brasileiros”.

Os membros listados no site do Brazilian American Democratic Club no momento são somente Robin Blanchard (diretora) e Isabel Santos (presidente), o que indica que o clube está realmente em fase de reestruturação.