Desafio "Momo" reacende segurança das crianças na internet

Por Arlaine Castro

A criança abre um inocente vídeo infantil no Youtube Kids e, por alguns segundos, se depara com a "Momo", uma boneca assustadora que dá "dicas" de como fazer para matar alguém e tirar a própria vida. Esse fato vem causando pânico no mundo inteiro, mas, embora pareça mais uma mentira da internet, esses vídeos, mesmo que muitos deles sejam montagens, existem. O cientista da computação e especialista em segurança virtual, Fernando Azevedo, analisa os riscos da internet, principalmente para as crianças. "Embora a Internet tenha possibilitado que as pessoas se conectem umas com as outras e obtenham informações rapidamente, ela também tem seus riscos. Assim como no mundo real, há um lado da Internet do qual é preciso proteger as crianças e os adolescentes", explica em seu livro "Como se defender contra cyberbullying e trolls: O que os pais devem saber sobre o funcionamento da Internet". Mortes Há casos de mortes recentes que estão sendo investigadas porque podem estar ligadas ao desafio da Momo relatados na Flórida e no Brasil. Uma menina de 11 anos usou uma arma do pai, um policial militar, para atirar contra a própria cabeça, no Mato Grosso do Sul, no domingo, 17. Ela estaria vendo vídeos no You Tube momentos antes. No Paraná, um garoto de 4 anos cortou os dois pulsos, superficialmente, com uma faca no dia 9 de março. No sul da Flórida, um menino de 12 anos foi encontrado enforcado no quarto. Ele também tinha o hábito de assistir a vídeos na plataforma. Mãe da Flórida encontra instruções de suicídio no YouTube Kids Proibição de vídeos no You Tube Depois da repercussão de casos da "Momo", a maior parte dos pais está proibindo, mesmo que temporariamente, os filhos de assistirem vídeos no Youtube. É o caso de Fernanda Rocha, moradora da Flórida e mãe de duas crianças de 9 e 11 anos, que proibiu temporariamente os filhos de assistirem vídeos na plataforma principalmente depois que um colega de sala da sua filha tirou a própria vida na semana passada e ela acredita que a morte esteja relacionada. "Minha filha me ligou desesperada chorando e pedindo para eu buscá-la na escola e por dois dias seguidos pediu para ir comigo para minha escola", disse. Segundo Rocha, o menino de 12 anos era aluno da Bridge Preparatory Academy, em Miami Gardens, e foi encontrado enforcado em seu quarto. "Muito triste e preocupante esta história. Por este motivo (vídeos no youtube), o amiguinho da sala da minha filha se matou na semana passada". Como qualquer criança do mundo moderno, a brasileira conta que os filhos gostam de assistir vídeos na internet. "Minha filha normalmente assiste 'As aventuras de Poliana' e vídeos de maquiagens, já o filho assiste pegadinhas, momentos incríveis e vídeos de games narrados", explica a mãe que disse ainda que os filhos estão receosos de assistirem pela repercussão. Além da proibição temporária, Rocha encontrou também no diálogo, a saída para que os filhos entendam o que está acontecendo. "Converso muito com meus filhos sobre isso, temos que ficar de olho. Por enquanto, cortei o acesso deles ao YouTube em outros aparelhos, acessam somente em um e perto de mim para que eu possa monitorar... melhor eles bravos comigo, mas vivos e saudáveis!", aponta. Para a mãe, o amadurecimento para entender e distinguir o mundo real do virtual é necessário. "Eu penso em liberar de novo mais para frente, quando eles tiverem um pouco mais maduros e entenderem que estes hackers não têm acesso a nós fisicamente. Por que estou falando isso? Porque as crianças acreditam que se elas não fizerem o que eles estão 'orientando', vão matar os pais delas", salienta. Afinal, o que é a Momo? Momo é uma obra de arte japonesa que mistura a imagem de uma mulher com um pássaro. A escultura de silicone foi feita pelo artista japonês Keisuke Aiso, de 46 anos. Em 2016, ela foi exibida numa exposição no Vanilla Gallery, em Tóquio, capital do Japão. No entanto, a imagem da obra de arte viralizou depois que ameaças pelo WhatsApp com números de celular de países como México e Japão começaram a ser relatadas e mortes de crianças estariam ligadas ao desafio "Momo", onde mensagens eram enviadas a números desconhecidos com orientações sobre como matar alguém e depois se matar em nome da "Momo". O “Desafio da Momo” foi relatado pela primeira vez em julho do ano passado, quando a Unidade de Investigação de Delitos Informáticos do Estado de Tabasco, no México, abriu uma investigação. “Vários usuários disseram que, ao enviar uma mensagem à Momo pelo celular, ela respondia com imagens violentas e agressivas. Há também quem afirme que ela respondeu as mensagens com ameaças”, explicou o departamento mexicano, em mensagem no Twitter. Momo no lixo De acordo com a Associated Press, o criador jogou a obra de arte no lixo depois de ver o mau uso que fizeram da sua criação na internet. "Ela não existe mais, não foi feita para durar. Estava desgastada e joguei fora. As crianças podem ter certeza de que Momo está morta. Ela não existe e a maldição se foi. Eu tenho uma criança pequena, então entendo como os pais estão preocupados", afirmou Aiso ao jornal britânico "The Sun". O que diz o You Tube O YouTube, porém, negou que haja tal tipo de conteúdo publicado na plataforma. "Não vimos nenhuma evidência recente de vídeos promovendo o Desafio Momo no YouTube", disse a empresa no Twitter completando ainda para que usuários do site denunciem."Vídeos que incentivam desafios prejudiciais e perigosos são contra nossas políticas", escreveu. Responsabilidade dos pais e responsáveis O fato é que crianças, de bebês a pré-adolescentes, têm passado tanto tempo online sem acompanhamento que essa nova onda da boneca "Momo" serviu para o alarde. Crianças precisam de um adulto monitorando seu acesso à internet. Os pais devem estar cientes do que seus filhos veem e ouvem, quem eles conhecem e o que eles compartilham sobre si mesmos no mundo virtual. Diante disso, qual grau de consciência dos pais sobre a responsabilidade que têm no uso que seus filhos fazem das telinhas? Aqueles inocentes minutos que as crianças dão "descanso" porque estão "quietinhas" conectadas podem ser fatais. A probabilidade de a criança absorver a imagem e a mensagem como no caso da "Momo" existe, garantem especialistas. Sendo assim, "assumir um papel ativo nas atividades de Internet dos filhos ajuda a garantir que eles sejam beneficiados sem estarem expostos aos perigos da rede", finaliza Azevedo. Veja sobre a morte do garoto em Miami e o que dizem especialistas sobre o caso.