Descubra o idioma português na Flórida

Por Gazeta Admininstrator

A Doral Middle School faz parte do seleto grupo de escolas, no Sul da Flórida, que oferecem o idioma português como alternativa de ensino de língua estrangeira. A implantação do programa aconteceu no ano letivo de 2007-2008, por iniciativa da diretora, Tatiana de Miranda.

A escola, na ocasião, já oferecia os cursos de espanhol e francês. Miranda buscava uma terceira língua estrangeira para incluir no currículo como matéria eletiva. “Como o colégio tem, aproximadamente, 100 alunos brasileiros e/ou de famílias brasileiras matriculados, a diretora achou que português seria a melhor língua a ser integrada ao currículo. A diretora fez uma pesquisa entre os alunos e 500 dos 1,5 mil se interessaram pelo curso”, conta a professora Beatriz Cariello, contratada para lecionar no curso.

Nos Estados Unidos há oito anos e meio, sendo quatro morando em Miami, Cariello é a única professora de português da escola, e dá aulas para alunos das sexta, sétima e oitava séries, com idades entre 11 e 14 anos.
O curso de português faz, agora, parte do Departamento de Eletivas, junto com Artes, Música, Educação Física, Espanhol, Francês, Dança, entre outras. “O programa, faz parte do currículo das escolas públicas de Miami, e a verba aplicada ao curso é o salário do professor e os livros didáticos utilizados pelos alunos”, explica Cariello.

A cada ano, os alunos cursam, obrigatoriamente, duas matérias eletivas.
No ano letivo de 2007 – 2008, quando o programa começou, a escola tinha143 alunos matriculados no curso de Português I. Para cursar Português I não há exigências. “Havia seis alunos que já falavam português, nove alunos eram falantes de inglês apenas e 128 alunos falavam espanhol. Isto significa que menos de 5% dos alunos sabiam falar português”, conta Cariello.

Neste ano letivo de 2008 – 2009, a escola está oferecendo Português II para aqueles alunos que querem continuar estudando o idioma. “Temos duas turmas de Português II e quatro turmas de Português I. São 131 alunos matriculados mas, neste ano, 16 deles são falantes de português (um pouco mais de 11%), 4 falam apenas inglês e 111 falam espanhol”, detalha a professora.

O programa de português é desenvolvido de acordo com os parâmetros curriculares estabelecidos pelo Sistema de Escolas Públicas da Flórida para ensino de Língua Estrangeira. Como só há parâmetros curriculares de Português para High School, a adaptação para Middle School é feita pela professora Beatriz Cariello, que utiliza o currículo de espanhol e francês como base para o planejamento.

Nos cursos de Português I e II os alunos desenvolvem a expressão oral e escrita, são expostos a diferentes tipos de texto, aprendem aspectos gramaticais importantes para a fala e escrita e conhecem a história, geografia e cultura do Brasil. A escola recebe uma verba para a compra de livros didáticos, mas estes devem ser livros didáticos adotados pelo estado da Flórida porque seguem os parâmetros curriculares. “Infelizmente, o único livro de português aceito é para falantes de português, não podendo ser usado pelos alunos de nível básico. Eu, então, traço os objetivos do curso, planejo as unidades de ensino, seleciono e produzo materiais, proponho experiências com a língua-alvo na sala de aula e fora dela e ainda defino o melhor modo de conduzir a avaliação dos alunos, tendo o livro apenas como apoio para as turmas de Português II”, explica Cariello.

Cariello é coordenadora acadêmica da Fundação Vamos Falar Português, desde 2004, e explica que a organização de atividades e programas envolvendo a língua portuguesa, inicialmente, visava a crianças brasileiras e filhos de brasileiros. “Eu sou mãe e educadora e sei que se as crianças não estão expostas à língua não há como falar fluentemente o idioma, seja ele qual for. Fizemos um programa de aulas de português duas vezes por semana, depois do horário escolar em uma escola pública em Derfield Beach e foi um sucesso. Implementar um programa com aulas de português cinco vezes por semana é o desejo de todo professor de português. Com a paixão pela língua e o amor ao meu país, com a iniciativa da diretora (que não é brasileira), consegui iniciar de forma exitosa o ensino de português na Doral Middle. Há mais do que 130 alunos interessados em aprender nossa língua, mas não há verbas, agora, para contratar mais um professor”, conta.

A professora conta que, para a maioria dos seus alunos, a aquisição de um terceiro idioma (falam inglês, espanhol e aprendem português) é sucesso garantido em uma sociedade diversa. Para os alunos brasileiros ou descendentes de brasileiro, a aprendizagem do português é também reconhecimento da identidade, das suas raízes. “Os avós, tios, primos continuam no Brasil, mas muitos dos meus alunos não conseguiam se comunicar com os familiares que não falam inglês. Eles, na verdade, nem falavam português em casa. Posso dizer que sou a “causadora”do reencontro com a família, com as origens e são vistos com os olhos maravilhados dos outros alunos americanos e hispanos, que os “bombardeiam”com perguntas sobre o Brasil e querem falar “rápido e bonito”como eles”, relata.