Descubra o que o seu corpo está tentando lhe dizer

Por Gazeta Admininstrator

Seria bom se, assim como os terapeutas corporais, tivéssemos a percepção de que a dor é uma linguagem que pode ser decifrada. Isso porque o corpo, sábio, dá sinais de alerta antes que um determinado problema se configure na consciência. As terapias corporais, a dança e algumas linhas da psicologia defendem que nosso corpo expressa sentimentos, situações de vida, que nem sempre o cérebro tem coragem de revelar. Isso oferece uma poderosa ferramenta para quem busca se conhecer melhor.

Então, que tal afinar a percepção e ouvir com toda a clareza o que seu corpo está tentando lhe dizer?

O psicólogo Waldemar Magaldi Filho, professor da Faculdade de Ciências da Saúde de São Paulo (Facis), costuma explicar, em suas aulas, a base da psicossomática pela seguinte frase: “O que a boca cala, o corpo fala, e o que a boca fala, o corpo sara”. Na prática, isso significa que algumas doenças têm a capacidade de dizer muito sobre as emoções de alguém e vice-versa.

As relações entre o físico e o psíquico são muito mais complexas, mas servem como ponto de partida para o diálogo mais aprofundado com o corpo. “O organismo expressa as queixas mais íntimas de uma pessoa, que estão associadas a um sofrimento psicológico”, afirma o professor. O que os críticos argumentam é que a exposição a substâncias nocivas ao corpo, como drogas, corantes, conservantes, poluição, radiação, pode determinar doenças que independem das emoções.

É preciso estar presente, ter consciência de cada movimento. Quando conseguimos fazer isso, damos um grande passo em relação a nós mesmos – bingo! Você pode encontrar esse caminho para decifrar melhor a linguagem do corpo por meio das terapias corporais. “São métodos que permitem às pessoas desenvolverem uma amizade com o corpo e negociar seus limites”, diz Débora Bolsanello, pesquisadora de métodos de reeducação motora pela Universidade de Québec, no Canadá. Nesses métodos, o terapeuta desata nós musculares, e ensina como a relação com o corpo pode ser reveladora. Por exemplo, aprende-se que a respiração pausada e profunda é uma aliada e tanto para acalmar não apenas as aflições da mente mas também as tensões.

Para a fisioterapeuta Patrícia Lacombe, presidente da Associação Brasileira de Ginástica Holística, o corpo traduz o que a pessoa é e, conhecendo os padrões que ele assume frente a situações de medo, ansiedade ou insegurança, é possível reeducá-lo.

Cidadão dançante
Nem só com as terapias é possível encontrar essa relação mais próxima com o corpo. Há mais de 30 anos, o coreógrafo Ivaldo Bertazzo realiza o que chamou de Cidadãos Dançantes, um método para educação e percepção do corpo. Em sua escola, em São Paulo, há pessoas de todas as idades. Elas usam bolas e almofadas, saltam e correm como se a idade fosse um mero detalhe. Os movimentos são amplos e a sensação é que cada um acabou de descobrir quão gostoso é abrir os braços de maneira ampla. Enfim, é a tal percepção do corpo. Bertazzo costuma dizer que é no corpo que nossas transformações acontecem. “Ele é nosso instrumento, nosso primeiro limite, e nos ensina o senso primário de organização e desorganização”, diz.

Bate-papo com os ombros
A fisioterapeuta paulistana Simone Marques Coltri, 35 anos, é uma dessas mu-lheres que não levam desaforo para casa. Sem perceber, encontrou uma maneira diferente de tentar disfarçar esse temperamento: escondia-se atrás dos ombros, projetando-os para a frente juntamente com os braços, uma postura típica de alguém acanhado. As coisas começaram a mudar quando ela conheceu a ginástica holística, um tipo de terapia corporal. “Só percebi o quanto enrolava meus ombros depois de começar a fazer trabalhos corporais específicos”, conta. O mais interessante é que ela chegou a essa conclusão sozinha, apenas dialogando com seu corpo. “Durante a terapia, o corpo foi me mostrando que eu poderia ser eu mesma, sem me preocupar com o que os outros iriam pensar. Sinto também que estou mais tole-rante, procurando ouvir as pessoas e evitando as discussões.”

Nossos medos, dificuldades e ansiedades podem deixar marcas na pele, no coração, em diferentes partes do organismo. Veja algumas associações que o psicólogo Waldemar Magaldi Filho estabelece.

Cada função, uma emoção:
• Problemas de pele e pulmão: dificuldade de relacionamento.
• Problemas de fígado e intestino: raiva contida.
• Problemas no rim: dificuldade de adaptação a novos espaços.
• Problemas no coração e nos vasos sanguíneos: dificuldade para lidar com a pressão do dia-a-dia.
• Problemas em músculos, ossos e cartilagens: angústia diante dos altos e baixos do cotidiano.
• Problemas na tireóide: excesso ou falta de vontade de realizar qualquer atividade.

Cada doença, uma sentença
• Hipertrofia (obesidade e câncer): enfrentamento de adversidades.
• Disfunções (problemas gastrintestinais e epilepsia): fuga de situações ameaçadoras.
• Inflamações (doenças autoimunes e ação de bactérias e vírus): resignação diante da necessidade de se submeter a algo.
• Escleroses (reumatismo e cálculo nos rins): paralisia ante uma imposição da vida.