Deusas, mulheres e autoconhecimento - Viver Bem

Por Adriana Tanese Nogueira

deusa

O politeísmo grego tem um importante efeito sobre a psique: pelo fato de haver muitos deuses com personalidades, estilos e vidas diferentes, o ser humano ganha um espectro amplo (e divino!) para expressar a variedade e até as contradições de sua natureza. Assim, a multiplicidade das deusas dá às mulheres um leque legítimo de modos de ser que a tradicional teologia cristã lhes tirou. Quantas mulheres poderiam se identificar com a azulada e impalpável Virgem Maria? Quantas mulheres sofreram e sofrem a amputação de grandes fatias de si, na tentativa desesperada de ser como ela, sempre “boa, paciente, imaculada e compassiva”?

Usar os arquétipos das deusas para mapear a psíque feminina é um estratagema para compreendermos a nós mesmas numa perspectiva criativa e imaginativa. Apelando para a diversidade e as oposições entre elas, temos um meio para encontrar nosso equilíbrio, montar nosso quebracabeça de mulheres de hoje e de agora. Quebracabeça sempre renovante-se. Não se trata, pois, dos estereótipos femininos aos quais estamos acostumadas, mas de arquétipos. A psicologia das deusas deve ser abordada com flexibilidade mental. O conceito de arquétipo remonta à antiguidade clássica grega e é o resultado da união de duas palavras; “tipo” que significa “imagem”, no sentido de modelo, marca, exemplar; e “arché” que quer dizer “original”. O arquétipo é, então, a primeira marca, o modelo original, a forma pré-existente e primitiva, de onde todas as demais surgem. Podemos imaginar o arquétipo como a forma de um bolo. Pode-se mudar os ingredientes, a textura, a quantidade, mas a forma é aquela e, nesse caso, é uma forma que modifica seu conteúdo ou, vamos dizer, o sabor que o bolo vai ter.

De fato, para a psicologia analítica junguiana, arquétipo é a forma universal do pensamento dotada de conteúdo afetivo. Ou seja, é uma marca original que traz pensamento-e-afeto, ideia-e-paixão. Esta é uma característica muito importante, pois arquétipos não são concepções abstratas da mente que deixam o sentimento indiferente, mas padrões originais carregados afetivamente, podendo nos envolver, afastar, irritar, atrair, deliciar, assustar.

Por este motivo, chamamos também de padrões existenciais. Ao estarmos sob sua influência, tendemos a fazer determinadas escolhas, adotamos específicos valores, conduzimos e pensamos a vida numa maneira e não em outra. Como fossem lentes de visão, através dos arquétipos enxergamos o mundo e a nós mesmos. De modo que os arquétipos produzem modelos de comportamento e percepção da realidade sobre os quais não mais refletimos, simplesmente os vivemos. São-nos tão íntimos que se tornam “naturais”.

Conhecer as deusas que “guiam” nossa vida significa individuar padrões de comportamento que geralmente não percebemos e que precisam ser equilibrados por outros aspectos da personalidade. Na psique, saúde equivale à totalidade, no sentido que quanto mais integramos do que temos dentro, mais saudáveis psicologicamente estamos. É como ter uma casa confortável e espaçosa na qual todos os cômodos estão à disposição, cada um com seu mundo de atividades, escolhas e necessidades. Realizar a alquimia interna não só é importante como gratificante, pois tem como resultado nos fazer sentir mais fortes, seguras, capazes e decididas.

Workshop: Alquimia das Deusas: 29 de junho de 2014, em Coconut Creek.