Muita gente aderiu, em diversos estados dos EUA, ao movimento “Dia Sem Imigrantes”, nesta quinta-feira, 16, e não foi ao trabalho. Como resultado, comércios fechados e muita discussão nas redes sociais sobre os desdobramentos do protesto, além de questionamentos sobre a postura de alguns estabelecimentos brasileiros que decidiram não fechar as portas.
Para a maioria, a mobilização – que também acontece na comunidade hispana – é histórica e marca um posicionamento claro dos imigrantes quanto às políticas imigratórias anunciadas pelo presidente Donald Trump. “Em todos esses anos que resido aqui, nunca vi nada parecido. É um movimento que tomou todo o país, algo que há poucos dias achávamos improvável de acontecer”, disse Marcelo Moraes, morador de Long Branch, em New Jersey, ao GAZETA.
Ainda de acordo com ele, o movimento ganhou proporções enormes a ponto de não se restringir apenas aos grupos de Facebook e aos imigrantes – muitos americanos defenderam o protesto nas redes sociais - , indo parar na TV aberta. “Sim, conseguimos efetuar a paralisação com sucesso”, comemorou.
As paralisações aconteceram em estados como a Flórida, Massachussets, New Jersey, Nova York, Washington e Connecticut, onde centenas de restaurantes se recusaram a abrir as portas. Até em escolas há registros de apoio aos protestos dos imigrantes. Ana Paula Vaz, de Malden, MA, contou que no colégio da filha os americanos também estavam apoiando a causa. “Os professores pediram para as crianças não irem à escola e avisar aos pais que são imigrantes para aderirem ao movimento”.
Ana Paula acredita que muitos americanos já estão arrependidos de terem votado em Trump. “Agora chegou a vez de dar a eles a certeza de que fizeram uma escolha errada e fazer o povo americano lutar pela nossa causa também”, resumiu.
É a mesma opinião de Rose Couto. A brasileira acredita que, estando legal ou indocumentado, se não nasceu nos EUA, continua sendo imigrante. E, de acordo com ela, sua patroa – americana – não apenas aceita como “assina embaixo” a postura de lutar pela causa. “Apesar de ela ser americana e ser filha de pais americanos, seus avós foram imigrantes e ela sabe bem como é isto. A união faz nossos sonhos se concretizarem”, frisou.
O outro lado
Apesar das adesões, há também os que não participaram do movimento. E as razões que justificam a postura são diversas. Farley Silva, por exemplo, trabalha na construção civil e não deixou de ir ao trabalho. Para ele, tudo foi feito “às pressas” nestas duas semanas de convocação. Além disso, o brasileiro – que vive em Deerfield Beach – acredita que o que traria impacto de fato ao governo americano, no que diz respeito à situação dos imigrantes, é “mexer no bolso” a longo prazo.
Farley defende que tanto os legais quanto os indocumentados deveriam se manter movilizados por longo tempo. Ele sugere que todos apresentem declarações de imposto de renda num ano e que no outro nenhum imigrante o faça. Segundo explicou ao GAZETA, assim o governo saberia o real impacto dos estrangeiros na economia dos EUA.
?Menos radical, Christina Pinto também não apoiou o “Dia Sem Imigrantes”. A personal trainer, que vive em Fort Lauderdale. “As pessoas para quem trabalho tem um respeito enorme por mim. Algumas são americanas e não tem que pagar o pato por mim; não é justo para elas. Isso sem falar no dinheiro que vou perder”, argumentou.
Além disso, a brasileira também destacou que a escola dos filhos dela não aceitaria esse argumento como justificativa para a ausência deles. “E mentir eu não vou. Aprendi a caminhar aqui ou em qualquer lugar do mundo confiando em Deus. Acho que orar, ser um bom cidadão, pagar as contas e os impostos - coisa que muito ilegal não faz achando que não é obrigado a fazer – é muito mais eficiente. “Sabe exigir, mas não quer dividir as obrigações de qualquer cidadão que vive aqui? Tá fazendo o que aqui então?”, questiona sobre a postura de indocumentados que aderiram ao movimento.