Dicas para manter os filhos falando português

Por Gazeta News

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Se criar filhos já é um desafio, criá-los fora do país de origem é mais ainda. Quem não se pergunta se está fazendo o certo para manter acesa a cultura brasileira e a língua portuguesa dentro de seus filhos?

A professora Lílian Pavesi, mãe de três filhos, formada em Magistério, Licenciatura em Pedagogia com Habilitação em Orientação Educacional e Psicologia da Educação, mora nos Estados Unidos e sente a mesma coisa. Foi para manter a cultura brasileira e pelo português, nossa Língua de Herança, bem como a importância de criar filhos bilíngues, que ela desenvolve um projeto de Oficinas de Português: “1,2,3, Vamos falar Português!!!”. Veja as dicas de Lílian para manter seus filhos falando português.*

1. Quebre a resistência com a memória afetiva Aprender o português é sempre um desafio enriquecedor e um processo demorado que exige paciência e sutileza. Para quebrar a resistência em aprender português, precisamos desenvolver as memórias afetivas da criança, agindo com naturalidade, mas com intenção.

Mostrando que o português, como língua de herança, é um privilégio, um fator de diferenciação, e não uma obrigação. Algumas atitudes que podemos tomar:

• Falar sobre sua história familiar; • Lembrar de situações que você vivenciou quando criança; • Contar sobre as brincadeiras da sua infância; • Mostrar fotos de lugares, produtos, roupas, brinquedos; • Fazer receitas de família; • Cantar as músicas populares, cantigas de roda e de ninar; • Contar histórias da vovó, como era sua casa, sua escola; • Conversar sobre as características físicas e afetivas dos familiares, amigos, professores; • Relembrar histórias engraçadas, tristes, de superação; • Contar sobre as coisas que você sente saudade, gostos, perfumes, toques, presentes. 2. Idade ideal Temos poucos estudos sobre a educação bilíngue e sobre o ensino do Português como Língua de Herança. Alguns estudiosos dizem que a melhor idade é quando criança já está alfabetizada, porém, estudos recentes mostram, que a partir dos 3 anos começam abrir as janelas de oportunidades e que entre 7 a 11 anos as sinapses acontecem com mais frequência e intensidade e na adolescência e fase adulta acontece a aprendizagem, porém apresenta maior dificuldade. 3. Ensine com afeto O ato de aprender precisa ser prazeroso, divertido, lúdico e permeado de afeto. Para estabelecer o interesse, a criança precisa perceber o significado e as vantagens de ser bilíngue. Toda criança gosta de aprender fazendo, se divertindo, aprender com música e ritmo, com movimentos, falando uns com os outros, refletindo, provando, de forma relaxada, mas desafiadora. 4. Materiais em diferentes formas e estímulos Para apoiar o ensino-aprendizagem utilizo materiais de tradição oral e escrita, tais como: livros de literatura, filmes, jogos, sites, músicas, artesanato, folclore, culinária, sempre preocupada em oferecer diferentes formas de estímulos.

Planejo nossos encontros com um tema central, por exemplo: culinária, “Aprendendo a fazer brigadeiro”, com vídeos com a história do docinho mais famoso do Brasil, a receita escrita e leitura, interpretamos o modo de fazer, compreendemos o passo a passo, preparamos o brigadeiro. Partimos da teoria para a prática, trabalhando a criatividade, as memórias afetivas (gosto, cheiro, tato, visão, audição).

5. Use a criatividade, brincadeiras e jogos criativos Temos muitas brincadeiras e jogos criativos e provocativos, como o uso de bonecos de pano para contar historinhas e divertir os pequenos com vozes engraçadas, “elefante colorido”; “telefone sem fio”, caça-palavras, bingo temático, “o que é, o que é?”, “caça-tesouro”, “jogo das rimas”, ler gibis com as crianças e fazê-las recriar a fala dos personagens, jogos de expressão corporal, das emoções. 6. O resgate deve ser gradual Procure vivenciar o amor pela nossa cultura de forma temática, o resgate deve ser gradual e consistente. Aprender não é apenas um processo cognitivo, mas também uma atividade social e cultural, essencial para a criação de vínculos entre cultura e conhecimento. Sugestões: • Crie situações para a exploração e captação de vocabulário; • Incentive as apresentações (exposição oral ) com  temas da atualidade; • Promova a vivência da nossa cultura através de atividades dinâmicas; • Exercícios de audição:  música, cantigas de rodas; • Exercícios de visualização: filmes, desenhos animados; • Pesquisa sobre hábitos, eventos, personalidades e costumes que caracterizam a nossa identidade; • Desenvolva a curiosidade pelas obras e autores de referência da cultura brasileira. 7. Aprender brincando Toda criança merece espaços vivos de diversão, afeto e aprendizado. Por isso, acredito que a aula formal e estruturada possa ser um caminho para os adultos, no caso da criança o processo precisa ser diferenciado. O ato de aprender deve ser divertido.

“Quanto mais divertido for aprender uma língua, mais a criança vai querer continuar. Aprender enquanto brinca é a melhor maneira de aprender porque cria laços emocionais e emoção é a porta para a  aprendizagem”. (Jensen, 1994; Dryden & Vos, 1997; Dryden & Rose, 1995).

8. Incentivando o português em casa Acredito que mães-educadoras são fundamentais na fase do encantamento pela nossa cultura e pelo português como língua de herança, precisamos estimular as memórias afetivas no dia a dia, pouco a pouco, exemplos:

•  Na preparação do jantar; • No jeito que organiza a casa; • Nas conversas com amigos; • Quando vamos às compras; • Organizando álbuns de família; • Quando receber familiares, pedir que tragam fotos de infância, aniversário, casamentos, batizados; • Incentivar o envio de cartas, cartões nas datas importantes; • Participar de eventos culturais brasileiros; • Promover encontros típicos e temáticos do nosso país, (festa junina, matinê, Ano Novo); • Fazer vídeo (contando histórias, fazendo entrevistas, com mensagens de carinho, felicitações); • Usar meios tecnológicos, (Skype, Facebook, Whatsapp entre outros); • Ver vídeos e desenhos animados no YouTube.

*Esta matéria foi originalmente publicada no blog Cantinho Da Cy.