O dilema do conservadorismo - Negócios & Empresas

Por BBG

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À medida que se aproximam as eleições gerais nos Estados Unidos, as pesquisas apontam uma tendência estável e crescente em favor da reeleição do presidente Barack Obama. A um mês para a realização do pleito, só mesmo uma catástrofe pode tirar a vitória de Obama e colocar Mitt Romney na Casa Branca nos próximos quatro anos. E esta tendência está estendendo-se aos candidatos democratas, supreendendo até mesmo os analistas políticos que previam a manutenção da maioria republicana na Câmara Federal e uma eventual maioria no Senado.

Os mais afoitos, dentro do Partido Republicano, já começaram a criticar o candidato, alegando que ele não tem carisma e não consegue conectar-se com o eleitor comum por causa de sua origem abastada. Isto pode contribuir, é claro, mas o que realmente está no cerne da questão é algo maior e menos perceptível: o dilema do conservadorismo.

O que seria isto? Numa democracia, é importante que a sociedade mantenha um equilíbrio entre as forças conservadoras e as forças transformadoras, que geram comportamentos rebeldes, mas servem para mostrar novos meios para se atingir os mesmos fins. Ambas têm sua parcela de negativismo e de positivismo, portanto, a ciência é saber equacioná-las para que uma sociedade bem resolvida seja fruto de uma perfeita química entre estas duas correntes.

Transportando esta teoria para os dias atuais, vemos que o Partido Republicano representa o paradigma do conservadorismo, enquanto o Partido Democrata veste o traje do partido das transformações e das preocupações sociais. Como foi dito anteriormente, eles não seriam antagônicos; pelo contrário, poderiam (e deveriam) ser complementares.

No entanto, um elemento nocivo infiltrou-se no Partido Republicano, minando suas bases conservadoras: o radicalismo da facção Tea Party. Levando ao extremo a luta contra o pagamento dos impostos, seus partidários confundem taxas – necessárias para a arrecadação e o consequente funcionamento da máquina pública – com tributos que servem apenas para manter pessoas que não têm a índole de buscar soluções por si mesmas. Além de ser uma visão desumana, chega a ser ingênua, uma vez que ninguém, em sã consciência, escolhe estar na base da pirâmide social.

Do lado comportamental, os seguidores do Tea Party revelam-se fanáticos religiosos, brandindo dogmas que em essência assemelham-se aos extremistas islâmicos. Como se voltassem no tempo da Inquisição, com Torquemada e seus seguidores, eles condenam os homossexuais, as mulheres que praticam abortos e os partidários da teoria evolucionista de Charles Darwin. Estas pessoas são taxadas como hereges e merecedoras do fogo do inferno, como profetiza a Bíblia.

Ora, com essas visões distorcidas do sistema econômico e da moral social, não é de se estranhar que a candidatura de Mitt Romney e Paul Ryan esteja indo a pique. Eles querem tirar qualquer tipo de colchão social para os menos favorecidos, que atualmente formam quase a metade da população do país – os tais 47% que Romney mencionou no fatídico vídeo captado num fundraising em Boca Raton – e oferecer em troca um sistema de mercado no qual as pessoas saem em busca das melhores condições em vez de serem dependentes do governo. A ideia seria interessante se a sociedade não fosse tão desigual. E, caso isto venha a ser adotado, a desigualdade entre os ricos e os pobres aumentará ainda mais. De quebra, parecem ignorar a evolução social e científica como a descoberta da célula tronco, que pode ajudar na cura de doenças degenerativas.

A solução é mesmo o governo exercer o papel de provedor para insumos básicos – saúde, educação, alimentação e moradia – para que seja possível dar oportunidades àqueles que estão à margem da sociedade. Deste modo, eles podem ter acesso àquilo que a sociedade tem de melhor e consequentemente também se tornarem elementos transformadores desta mesma sociedade. Quebraria-se assim o círculo vicioso e abriria-se a possibilidade do círculo virtuoso.

E é exatamente deste conservadorismo que os EUA estão sentindo falta. O conservadorismo que defende seus valores tradicionais, mas sabe criar entidades e organizações para ajudar as vítimas da sociedade. Afinal, ninguém sabe quando as pessoas que criticam “os preguiçosos” podem algum dia vir a integrar este exército dos enjeitados.

Coluna do BBG - Brazilian Businness Group Luigi Pardalese