Dilma, 60 dias

Por Gazeta Admininstrator

Talvez seja muito cedo para se fazer qualquer tipo de avaliação mais consequente ou até mesmo séria e responsável sobre a presença da primeira mulher no mais alto posto do país. Seria no mínimo injusto ou até calhorda, submeter a presidente Dilma Rousseff a qualquer tipo de escrutínio, estando à frente da “máquina” governamental há apenas dois meses.

Esses 60 dias iniciais de Dilma no Planalto, como seria para qualquer presidente em primeiro mandato, são de aprofundamento no conhecimento das melindres e idiossincrasias do exercício da Presidência da República do que é hoje o Brasil, um dos 10 países mais relevantes e importantes do planeta. Gostem ou não.

A intricada, diversa e porque não admitir, polêmica “costura partidária” que garantiu a Dilma uma vitória incontestável no segundo turno, depois de um inesperado “susto”, no primeiro, está sendo “revisitada” pelos setores de coordenação política da presidente. Essa parece ser, claramente, a prioridade de Dilma, no sentido de construir uma plataforma capaz de lhe dar menos dores de cabeça na aprovação de projetos e na condução do governo, sem as muitas dores de cabeça vividas por seu antecessor, Luis Inácio Lula da Silva.

Nesse contexto, o surgimento de um novo partido, o PDB – auditivamente lembrando o PMDB – se encaixa como uma luva nessa estratégia governista. O PT, que entra em seu terceiro mandato presidencial ininterrupto, segue não sendo o maior partido do país, longe de ter predominância, seja nos governos municipais e estaduais, seja nas Câmaras de Vereadores, Câmara de Deputados e Senado.

Nem mesmo no maior bastião eleitoral do que se convencionou chamar de “lulismo” – mais uma dessas “pobrezas” que marcam a necessidade da mídia em criar rótulos para tudo e todos – que são os estados Nordestinos, o PT reina eleitoralmente.

Naquela região do Brasil, a sigla forte é o PSB.

Afora o claro intento de gerência do processo político no Congresso, o que os 60 dias iniciais do governo Dilma deixam transparecer é uma completa distância do estilo Lula, no que ele tinha de mais bombástico, permanentemente exposto à mídia, para o bem e para o mal. Dilma se preserva, consolida a imagem de mulher trabalhadora, chega cedo ao gabinete e sai sempre tarde, segundo testemunhos de sua equipe, tem “botado o povo para trabalhar”, cobrando medidas a serem implantadas, ideias que possam fazer o Brasil avançar econômica e socialmente, em um momento em que perigosas nuvens cinzas se aproximam do território econômico.

Como militante experiente que é, Dilma sabe do poderoso impacto que qualquer desaceleração brusca ou contínua do chamado “novo milagre brasileiro” terá sobre seu projeto administrativo e político. E trata de dar os passos adequados ao enfrentamento de uma crise que o Brasil tem “driblado” com maestria de Pelé.

Dos bastidores do novo governo, chegam observações elogiosas quanto ao rigor e disciplina da nova chefe de Estado e de Governo, fazendo a alegria dos que deploravam a perspectiva de um continuismo fisiológico, e um novo governo sem personalidade própria, refém do ideário e estilo de seu antecessor.

Pode ser que tenhamos que refazer radicalmente essas considerações que, de fato, são muito prematuras e, como tal, são facilmente questionáveis. Mas como sabemos que o pior cego é o que não quer enxergar, eu penso que Dilma já está, em apenas oito semanas, sinalizando para aqueles que a consideravam um “fantoche” dentro de uma proposta de perpetuação petista no poder, que ela é muito mais que isso.

Ou melhor, que poderá surpreender a seus críticos ou aos incertos de sua habilidade gerencial, com um governo de personalidade tão forte quanto o anterior e, eventualmente, menos centrado no culto a personalidade – pelo menos para o consumo da mídia e massa, como magistralmente o presidente Lula proporcionou.

Desejemos nós, sorte e sabedoria a Dilma. O Brasil avançou substancialmente em muitas áreas, nos oito anos com Lula. Dilma pode aprimorar o que foi feito de bom, investir onde foi totalmente esquecido ou negligenciado e, de quebra, nos dar um governo sóbrio. Uma grande maioria dos brasileiros, povo que ama as festas, alegria, descontração e bom humor, torce por um exemplo de seriedade, certo grau indispensável de austeridade, na figura de quem tem a responsabilidade de liderar o país rumo a um patamar de justiça social, educação, segurança, saúde pública e emprego, que nos dê tanto orgulho quanto a capacidade de realizar Copas e Olimpíadas.