Dilma dá lições a um Brasil que precisa abandonar a safadeza - Editorial

Por Carlos Borges

Ninguém de bom senso é a favor de desonestidade, safadeza, corrupção e prevaricação.

No Brasil, depois de décadas e décadas dos piores exemplos possíveis em termos de trato com os interesses do país, dinheiro público, educação básica e seriedade no trato com a população brasileira, parecia que a única alternativa a quem sonha com um Brasil próspero e sério, era mesmo seguir o malfadado conselho da ex-Ministra do turismo, Marta Suplicy, ao se referir, a certa altura, a um dos momentos mais dramáticos do caos aéreo em nosso país: “relaxar e gozar”.

A frase-piada da Ministra entrou para a história das declarações mais infelizes de um político em hora de agonia popular. Virou folclore.

No Brasil, tememos que tudo acaba sempre em folclore, ou em pizza como rebatizaram o tema nossos queridos paulistas.

Dos dinheiros nas cuecas às obras superfaturadas. Do descarado e escancarado tráfico de influências à distribuição de cargos e benesses a parentes e amigos, dos mais desqualificados, que se bem enfatize.

O Presidente Lula teve, graças a sua enorme popularidade e carisma, oportunidade de fazer ainda mais do que fez em seus oito anos de mandato, se não tivesse baixado a guarda e perigosamente se deixasse confundir com os sucessivos escândalos de corrupção ocorridos em seu governo.

Lula deixou Brasília como um campeão de uma nova mentalidade brasileira de progresso, avanço, oportunidades e busca de maior equanimidade social. Mas no quesito “rechaço à corrupção” receberia uma nota muito, mas muito baixa mesmo. Teve sorte de que, no país das “lambanças impunes”, esses deslizes não tenham manchado a incrível folha de serviços que prestou à Nação.

Agora estamos vendo em Dilma Rousseff uma atitude que nos anima. Completamente diferente do que a maioria dos brasileiros imaginavam. Dilma está marcando seu governo com uma personalidade forte, avessa aos estrelismos e à badalação e combatendo sem dó nem piedade qualquer que seja o indício de canalhices no governo.

A surpresa é tão grande que já existe quem rotule o estilo Dilma como um “casuísmo”, sem querer admitir que sim, existem pessoas sérias, existem brasileiros que querem a decência, a honestidade e a seriedade como norma de conduta.

Outros já abriram as portas do “cassino de apostas”, acreditando que as atitudes saneadoras da presidente terão vida curtíssima e que estaria se armando no Congresso Nacional uma poderosa frente “imobilizadora” do atual governo.

Seria um desserviço à Nação, se esses “piquetes em defesa da picaretagem”, em vez de aproveitarem a oportunidade e dar apoio ao indispensável processo de saneamento da menta-lidade avacalhada e promíscua do meio político brasileiro, se unam para eternizar a plataforma que tem mantido o povo brasileiro refém de verdadeiras quadrilhas organizadas em função do benefício próprio.

Cabe a nós, brasileiros, que adoramos fazer piada de nós mesmos (afinal, os políticos que elegemos são brasileiros como nós) , os que devem apoiar, das formas mais evidentes e enérgicas, a atitude da presidente em busca da moralização.

Ninguém pense que somos ingênuos. Como diria o folclório ex-Presidente Jânio Quadros – sempre invocando os poderosos que controlam os bastidores do cenário político – existem “forças ocultas”, nem tanto ocultas assim, que trabalham 24/7 para destruir qualquer tentativa de moralização.

Da mesma forma que a indústria automobilística norte-americana gasta bilhões em “lobby” para impedir que projetos de transporte público avancem nos Estados Unidos, a indústria da corrupção e do uso capicioso do dinheiro público, está “armada até os dentes” para, se for preciso, tentar derrubar esse aspecto da presidência de Dilma. Se for preciso, vão tentar derrubar a própria Dilma.

Basta que a presidente leve adiante, com punho cerrado e determinação gaúcha, o plano de moralização. Porque também está para ser conferido, até onde será possível à Dilma enfrentar esses inescrupulosos bandidos, que como gangues do tráfico, são capazes de qualquer ato para defender suas capitanias hereditárias de roubalheira e indignidade pública.