Dilma: entre o continuísmo e a grandeza - Editorial

Por Carlos Borges

A presidenta Dilma Roussef foi eleita em meio a uma “quase certeza” da grande maioria da população brasileira - os que votaram nela e os que votaram em José Serra - de que seria uma ardorosa e fiel continuadora da administração de Lula. Mesmo tendo uma personalidade bastante diferente do ex-presidente, Dilma, em sua forma discreta de conduzir sua atuação, não dava indícios de que o seu governo poderia, sim, caminhar em um sentido bem diferente, pelo menos em alguns setores, do que caminhou Lula em oito anos de mandato.

Perto de completar um ano de governo, a marca até agora firmemente deixada por Dilma é a do combate ‘a corrupção nos mais altos níveis de governo’. O governo Lula, de tantos e tantos méritos em diversas áreas, teve entretanto essa nódoa que se manteve como imagem forte: uma indisfarçável incapacidade de encarar o “monstro corrupção”, e viu sua presidência açodada por inúmeros escândalos, ministros corruptos, esquemas dos mais variados de roubos, etc e etc. Ao não coibir esses lamentáveis episódios, a presidência de Lula foi contaminada, pelo menos em nível de opinião pública, por eles.

Com Dilma, tem sido diferente. Pelo menos até aqui e agora, radicalmente diferente. A “dança dos ministros”, acusados de corrupção, envolvimento em escândalos de todo o tipo, virou uma marca de seu estilo que não privilegia os - ‘às vezes infames - “acordos partidários e “distribuição política dos cargos públicos”. Na verdade, Dilma tem “testado” com sucesso, a sua propalada “governabilidade” garantida pelas alianças partidárias, na medida em que pune os ministros acusados de corrupção, sem levar em conta os possíveis prejuízos na base de apoio.

Prejuízos que têm sido mínimos porque a ação “saneadora” de Dilma tem enorme respaldo popular. A populardade de Dilma está altíssima e todos sabem que uma boa dose dessa aprovação vem dos golpes certeiros contra os minstros “decapitados”. E, por ironia, todos os ministros “decapitados” eram “herança” dos acordos políticos da “era Lula”. Se este processo de depuração é rigorosamente genuíno ou não, só o tempo dirá. Queremos acreditar que, sim, o povo brasileiro sonha com a probidade administrativa. A nação precisa saber e sentir que o mais alto escalão do governo não é composto de ratazanas da roubalheira, desrespeito ao contribuinte e total panaceia da qual se completam os políticos da esfera moral e cívica mais baixa do país.

Em função das atitudes que tomou e segue tomando na área de moralização do governo e da administração pública, Dilma Roussef está se dirigindo a um patamar inédito na História do Brasil. Nunca antes, pelo menos desde o restabelecimento da Democracia no Brasil, com o final da ditadura militar, um presidente combateu “de fato” e não apenas “no palanque” um dos mais graves problemas do Brasil: corrupção.

Quem defende a tese de que a corrupção no Brasil se tornou um “hábito crônico” ou até como os mais radicais propõem “ter a corrupção se incorporado ao DNA do brasileiro” não conhece o Brasil e menos ainda o povo brasileiro. Esse mesmo povo brasileiro que está surpreendendo o mundo ao fazer com que o nosso país se revele uma das futuras nações líderes do planeta, é um povo extraordinariamente honesto em sua rotina diária de vida. São na verdade as chamadas “elites” que prazerosamente “hospedam” , promovem e se beneficiam dos diversos níveis de corrupção que se instalaram secularmente no país.

Dilma tem conseguido fazer com que o povo brasileiro se identifique com ela, justamente ao “pegar pesado” com os ladrões, mentirosos e salafrários instalados - por herança ou por arranjos políticos eleitorais.

O “loteamento de cargos públicos”, prática e praga institucionalizada no Brasil em nome de uma “governabilidade” que é, na verdade, um patético “jogo de acomodação”, tem prestado enormes desserviços ao nosso povo e à nação. Cada vez mais temos menos ministros técnicos em suas áreas. Ao invés deles, temos chefes políticos fruto de indicações partidárias bizarras.

Ministros que nada sabem das pastas que lhes são confiadas. Presidentes de estatais que pouco ou nada sabem sobre a área de enormes responsabilidades que irão comandar.

Se aproveitar o “expurgo” dos ladrões na Esplanada dos Ministérios, para substiuir os ministros “degolados” por nomes de inegável capacidade técnica, Dilma estará prestando um enorme serviço ao país. Ainda que para garantir a sua “governabilidade”, que seja Dilma capaz de convencer esses partidos “sanguessugas” de que somente com indicações técnicas e de mérito, poderão ter seus ministeriáveis aprovados pelo governo. Nisto se inclui, e principalmente, o seu partido, o PT, que muito perdeu a aura de “campeão das causas da probidade” com a qual cresceu no coração do eleitor, para se igualar na prática do mais escancarado fisiologismo.

Torçamos para que Dilma tenha a grandeza que, desconfiamos, ela realmente é capaz de ter e exercer.

Nós, brasileiros, merecemos isto.

O Brasil, precisa disso.