por Henrique Matthiesen*
A ação chantagista, irresponsável e golpista de Eduardo Cunha e a oposição brasileira desprovida de projetos e votos no Brasil, nos remetem aos tempos indigestos de nossa história.
Além de rasgarem a Constituição, jogaram o Brasil em uma crise gravíssima e de consequências imprevisíveis.
Neste mesmo cenário algum tempo atrás, um personagem que também fora representante de nossas elites e do coronelismo: Fernando Collor de Mello. Vale a pena fazermos uma análise, já que as gerações contemporâneas não conhecem a história como ela se deu de fato.
Collor foi um candidato construído e abastecido pelo império de Roberto Marinho e sua Rede Globo, e sob o slogan de “Caçador de Marajás” foi transvestido de moderno.
O receio de Roberto Marinho era que Leonel Brizola vencesse a eleição de 1989, o que seria uma retomada de uma visão do Brasil soberano, com desenvolvimento e distribuição de renda, fundamentados numa educação honesta de tempo integral. Um verdadeiro pesadelo para nossas elites conservadoras e patrimonialistas.
Brizola não foi para o segundo turno, perdendo para Lula por uma diferença mínima de votos, onde a manipulação das urnas até hoje não foi esclarecida; mas enfim, Lula era muito mais fácil de ser batido do que Brizola, e as elites se manteriam no poder.
Hoje, muitos, de forma desonesta, com intenções inconfessáveis, tentam correlacionar a presidente Dilma Rousseff ao Fernando Collor de Mello, uma verdadeira agressão à biografia de Dilma e à história do Brasil.
As diferenças entre ambos são insofismáveis, pois Dilma, desde muito nova, optou por lutar pelas causas mais caras do nosso povo e uma delas é a democracia, pagando um preço caríssimo, pois foi presa e torturada pelo arbítrio dos gorilas de nossa ditadura.
Dilma foi eleita presidente da República por um partido que, com todos os erros - e não são poucos -, tem uma história no Brasil.
Concorde você ou não com o PT, Collor inventou um PRN sem lastro algum na vida política brasileira.
Collor foi o candidato das elites e do patrimonialismo. Dilma foi a candidata de uma frente progressista que tem uma visão de desenvolvimento, distribuição de renda, e elevação social de nosso povo, apesar do geu governo, hoje, ser a síntese das forças que a apoiaram, e que, agora, a rejeitam.
Dilma tem raiz nas lutas sociais, Collor é filho do conservadorismo.
Dilma tem apoio de setores importantes da sociedade brasileira, Collor se isolou e ficou só, não foi capaz de dialogar com o país.
Dilma tem o conceito, mesmo de adversários, que é uma pessoa honrada e digna, Collor não tinha e, ainda hoje, não o tem.
Enfim, as diferenças são enormes e qualquer associação biográfica destas duas figuras é um ato desonesto e digno de crime. Afinal, não podemos corromper a história.
Henrique Matthiesen é bacharel em direito e vive em Brasília.