Dilma, pulando a fogueira - Opinião

Por Carlos Borges

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O que o Brasil menos precisa é justamente o que mais parece que nossa classe política tem a oferecer nesse momento. O acirramento de uma oposição sistemática à presidente Dilma Rousseff, com base nunca em questões ideológicas, mas puramente em função das eternas barganhas e politicagens que, infelizmente, se definiram como “cara” de nossos políticos, com raríssimas exceções.

Quem procurou conhecer a trajetória e as ideias de Dilma, antes, durante e agora, no posto de presidente, sabe que a fama “durona” nao é à toa. E a sociedade brasileira precisava mesmo de uma liderança forte, capaz de seguir administrando a fase positiva da economia e as inegáveis conquistas geradas nos governos FHC e Lula. Mas quem acompanha a política no Brasil sabe que a “paz” entre o executivo e o legislativo passa, necessariamente, pelo vergonhoso “ escambo” de verbas, cargos, conchavos e etc.

O período de “lua de mel” entre a presidente e o legislativo acabou há muito tempo, com a chamada “base aliada” (na verdade uma coalizão esdrúxula que nada tem de ideológica e, menos ainda, de sólida liga pelo interesse público) reagindo fisiologicamente às seguidas demissões de ministros “indicados” e claramente sem competência ou moral para servir o povo brasileiro.

Ao “bombardear” os conchavos que nomearam ministros, Dilma foi sistematicamente irritando os partidos da base aliada. Até mesmo o PT, partido da presidente, engoliu com muita má vontade o expurgo público de algumas de suas figuras presentes no governo.

Foi justamente a ação rápida e enérgica de Dilma nessas demissões, gerando um recorde histórico de mudanças ministeriais em apenas um ano e poucos meses de governo, que fez a presidente atingir níveis de popularidade até maiores do que Lula, coisa que ninguém jamais imaginaria ser possível. Lembra quando Dilma era apenas a “candidata tirada do bolso do colete de Lula” e que muitos apostaram que jamais seria eleita?

Agora, a presidente está vivendo o outro lado da moeda na convivência com um Congresso que se comporta claramente com um cassino e quase nunca como o foro de debates pelos interesses reais do povo e da nação brasileira.

O episódio da vaia à presidente na reunião com os prefeitos em Brasília, ocorrida no dia 16 de maio, espelha bem essa animosidade desrespeitosa e vulgar. Mas, qual a surpresa? Afinal, Dilma estava falando sobre uma das questões mais polêmicas do panorama atual no Brasil, a divisão dos “royalties” do petróleo, incluindo o “sonho dourado” dos políticos, que são os bilhões do pré-sal. Quer dizer, mercado-futuro, porque o pré-sal ainda está bem lá no fundo e enquanto não tivermos a tecnologia adequada para a sua exploração, ainda é uma enorme riqueza em projeto.

A vaia teve motivação para além da questão dos “royalties”. Foi a primeira manifestação - grosseira e chacrinesca - de que a tal base aliada irá rapidamente, se é que não já foi, as favas. Porque as eleições de 2012 já estão mais do que na ordem do dia, com novas e ainda mais esdrúxulas coalizões e os verdadeiros interesses nacionais dançam facilmente diante da busca nica e exclusiva dos interesses pessoais e grupais.

Dilma pode estar ficando de mãos atadas e se ver forcada a usar a estratégia que garantiu por muitos anos a governabilidade sob a batuta de Lula: as negociações em que, nem sempre o interesse maior do país é o que conta. Houveram muitos momentos em que essas articulações quase destruíram os mandatos de Lula. O presidente teve habilidade e sorte para não se chamuscar fatalmente.

O desafio de Dilma, agora, é o mesmo. O estilo da presidente, é outro.

Aproveitando que estamos quase em época de festas juninas, vamos ver como ela “pula” essa fogueira.