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- “Espiritualidade saudável é aquela de quem encontra o sentido das coisas que faz e não faz, nos “sims” e “nãos” que dá, nas escolhas e repulsas”
Historicamente, existiram duas formas de espiritualidade: uma através de dogmas, aos quais uma pessoa aderia ao se tornar membro de uma congregação religiosa; a outra através de experiências místicas individuais e íntimas, compreendidas, porém, dentro do paradigma teórico de alguma religião.
O que uma religião oferece? Uma religião dá uma perspectiva à nossa vida na terra, à dor e ao sofrimento. Dá norte, valores, padrões e ideais de comportamento que deveriam agir como referências. A religião dá, portanto, um sentido. Ele é válido para todos os que nela acreditam. Trata-se necessariamente de um sentido geral, por isso, genérico. Este sentido não responde às perguntas sobre o por que isto ou aquilo está acontecendo comigo. Respostas gerais, porém, não podem satisfazer ao indivíduo, o saciam sua fome de sentido.
Fazer o download de um conjunto de crenças sugere orientações aproximadas para situações concretas, específicas e individuais. Como poderiam dar respostas satisfatórias? Até as respostas que demos ontem aos problemas de ontem se tornam, muitas vezes, insuficientes e desviantes para os problemas e as perguntas de hoje. Precisamos de mais do que explicações gerais para problemas pessoais e íntimos. A dor de cada um merece mais atenção e cuidado. Merece uma compreensão individualizada e profundamente significativa. Só assim ela pode ser curada.
No século XXI, mais e mais pessoas estão fartas de sentidos gerais para suas vidas particulares: elas querem entender o que é que está de fato acontecendo com elas, querem sentir uma conexão profunda com si mesmas e encontrar o sentido de suas vidas dentro de si. Quando encontrado esse sentido dá ânimo, força e alegria. Gera movimento real para conquistas reais.
A resposta a esta busca se encontra na jornada interior. Pelo olhar junguiano, chega-se a uma nova forma de espiritualidade onde “novo” coincide com totalmente individualizada, customizada, pessoal, consciente, encarnada, completa e nutritiva.
Com Silvia Montefoschi, essa direção é aprofundada e expandida. Fica claro com ela que espiritualidade é duas coisas:
1) sentido: a resposta que procuramos ao por quê da vida, e sobretudo ao por que e como da nossa vida.
2) direção: saber para onde vamos, qual é a direção de nossa vida.
Sem sentido estamos perdidos e sem razão de ser.
Espiritualidade saudável é aquela de quem encontra o sentido das coisas que faz e não faz, nos “sims” e “nãos” que dá, nas escolhas e repulsas.
Espiritualidade doentia é aquela de quem não encontra sentido nas coisas que faz e não faz, nos sims e nãos que dá, nas escolhas e repulsas. Ora porque não conhecem o sentido do que fazem, ora porque o sentido que conhecem é fictício e artificial, uma sobreposição forçada que não satisfaz de verdade. É como ter fome e encher a barriga de balas. No momento, a barriga dá a sensação de estar cheia, mas logo percebemos que na verdade está cheia de porcarias que não nutrem. E o vazio interior continua.
A doença espiritual é uma característica do nosso tempo, um tempo cheio de coisas e vazio de significado. Crianças e adultos com muitos objetos, muitas atividades e muitas certezas e com pouca consciência, pouco autoconhecimento e pouca sabedoria.
“Às crianças pertence o Reino dos Céus” porque elas não acreditam e não seguem. Elas simplesmente são. Não prestam contas a autoridades e “ao que os outros vão pensar”. Elas singelamente são o que seu ser interior mandar, sem dogmas e sem decretos.