Dois anos depois, EUA mantêm vivo o debate sobre a guerra

Por Gazeta Admininstrator

O início da guerra contra o Iraque completa dois anos amanhã, sábado, em meio a um intenso debate nos Estados Unidos sobre se o custo humano, político e econômico compensou a derrubada de Saddam Hussein.

O governo do presidente George W. Bush se esforçou para afirmar que essa guerra representou a libertação de uma sangrenta ditadura e o início de uma onda de reformas e democratização, não só no Iraque, mas em todo o Oriente Médio.

"Os capítulos finais (da guerra) serão lucros históricos: o fim de um dos principais estados terroristas e a expansão da liberdade por toda essa região", afirmou hoje o secretário de Defesa, Donald Rumsfeld, no Pentágono.

Bush, em sua entrevista coletiva de quarta-feira, destacou como um "momento brilhante" a reunião da Assembléia iraquiana depois das eleições de 30 de janeiro e assegurou que não buscava "uma justificativa" para sua decisão de promover a guerra, cujo julgamento - disse - ficará a cargo da História.

No entanto, Sibley Telhami, um professor da Universidade de Maryland e analista da Brookings Institution, diz que a guerra no Iraque "aumentou a repressão na região nos últimos dois anos".

"As eleições do Iraque podem ter sido animadoras para alguns, mas a maioria dos árabes, que são sunitas, vêem no Iraque um estado de anarquia e violência que não querem para eles e detestam a marginalização dos sunitas. Para eles, o Iraque não é um modelo de inspiração", disse esta semana Telhami à cadeia pública de rádio.

Já o governo de Washington esqueceu convenientemente que as justificativas iniciais para a guerra foram as armas de destruição em massa do Iraque (que depois ficou provado que não existiam) e os laços do regime de Saddam com a Al Qaeda (que também não foram comprovados).

Na noite de 19 de março de 2003, as primeiras bombas da aviação americana caíam sobre um restaurante de Bagdá, numa tentativa de assassinar Saddam Hussein.

Pouco depois, as tropas americanas e britânicas cruzaram a fronteira do Kuwait e ocuparam Bagdá em quatro semanas, sofrendo no caminho pouco mais de 100 mortes, muitas deles em acidentes.

O conflito teve início, apesar da firme oposição que Washington e Londres (líderes de uma coalizão que oferecia sobretudo apoio político) encontraram na ONU e em grande parte da comunidade internacional, que causou uma grave crise nas relações entre EUA e muitos de seus aliados tradicionais, principalmente os europeus.

As relações foram remendadas, já que a vitória de Bush nas eleições de novembro obrigou as duas partes a conviver, mas Washington continua sem convencer muitos de seus aliados a apoiarem a reconstrução do Iraque.

A guerra e a ocupação (infestada de atentados terroristas contra a presença militar estrangeira) custaram aos EUA mais de 1.500 mortes e deixou mais de 11 mil americanos feridos, com quase 180 mortes de indivíduos de outros países.

Do lado iraquiano, as vítimas militares e civis chegam a dezenas de milhares, mas sem que haja um número exato.

Os EUA estão reduzindo seu contingente militar no Iraque de cerca de 150 mil soldados para um pouco menos de 138 mil. O Pentágono calcula que terá uma quantidade considerável de soldados pelo menos até o final de 2006, mas com toda certeza grande parte deles não deixará o país antes de 2008.

A ocupação custa a Washington mais de 4 bilhões de dólares por mês.

Contando com o financiamento extraordinário de 82 bilhões de dólares autorizado pelo Congresso, os EUA destinaram até agora cerca de 300 bilhões de dólares para o Iraque e o Afeganistão.

O líder da minoria democrata na Câmara de Representantes, Nancy Pelosi, criticou hoje a concessão de contratos sem licitação, sobretudo à Halliburton - empresa que foi dirigida pelo vice-presidente Dick Cheney.

A democrata lembrou que "não foram prestadas contas sobre quase 9 bilhões de dólares gastos na reconstrução do Iraque (...) É uma desgraça".

E o custo dos longos conflitos está derrubando os níveis de recrutamento das Forças Armadas, que não estão cumprindo seus objetivos, apesar do forte aumento das gratificações de alistamento e dos seguros de vida das tropas.

No plano exterior, vários países que enviaram tropas para a ocupação do Iraque se retiraram (como a Espanha) ou anunciaram sua retirada (como Ucrânia, Holanda e Bulgária), apesar de a violência continuar. Bush afirma, no entanto, que a coalizão não está rachando.