Drama de pernambucana é exibido na Universidade de Harvard

Por Gazeta News

Um documentário sobre o drama vivido pela pernambucana Severina, na sua luta pelo direito a abortar um feto sem cérebro, foi exibido na escola de direito da universidade de Harvard, MA, na noite do dia 8, durante um evento chamado “Interpretação do Aborto”. As informações são do “Comunidade News”.

“Uma História Severina”, de autoria de Débora Diniz e Eliane Brum, tem 22 minutos. O filme narra a dolorosa peregrinação de Severina, moradora de Chã Grande, no interior de Pernambuco, em busca do direito de abortar o feto sem cérebro que carregava no útero. No dia em que o Supremo cancelou o direito ao aborto, Severina estava internada em um hospital para interromper a gravidez de quatro meses. A cirurgia então foi cancelada – e começou a via-crúcis de Severina e seu marido, Rosivaldo.

A cena mais forte do documentário é filmada na sala de parto. Alí, Severina, já com sete meses de gravidez e depois de incontáveis idas e vindas da burocracia, fica mais de trinta horas em trabalho de parto induzido e dá à luz uma criança morta, com pouco mais de 1 quilo. Ao lançar seu primeiro olhar para o filho morto, no qual a ausência de cérebro está fisicamente evidente, ela revela todo o seu desespero: “Meu filho, ai meu pai, meu Deus”.

“É muito importante que a comunidade de Harvard pense sobre o aborto de uma forma mais sutil”, disse Lisa M. Kelly, estudante de doutorado da escola de direito e organizadora do evento. “A Política de aborto tem impacto real na vida das pessoas e é muitas vezes uma questão mais complexa que nosso debate sugere”.

Os organizadores disseram que desejaram apresentar um debate que tratasse do aborto de vários ângulos.

A diretora do documentário, Débora Diniz, que também é professora de bioética na Universidade de Brasília, participou do debate. Ela disse que “Severina é humana, ela não é uma tese feminista. Isso nos permite ter uma conexão com ela”. Débora também disse que um documentário similar não seria produzido nos Estados Unidos.

A professora de direito Jeannie C. Y. Suk, que fez parte do debate, disse que o filme enfatiza a improvisação e incerteza que mulheres como Severina encontram. “Existe uma ambiguidade intensa sobre o que está acontecendo”, disse Jeannie sobre o parto de Severina. “É um nascimento ou uma morte?”.

Kate M. Aizpuru, membro do conselho de Estudantes de Direito de Harvard para Reprodutiva Justiça, disse que ela pensou que o documentário destacou uma questão complexa muito bem. “Eu acho que é muito importante mostrar que em geral, a mulher casada também faz abortos, especialmente nos EUA onde existe um estigma que são apenas as solteiras que fazem abortos”, disse Kate.