Curiosamente, nos últimos dias, dois grandes veículos da mídia impressa norte-americana, o influente New York Times e o relevante Sun-Sentinel dedicaram enormes espaços, com manchetes de primeira página, focando aspectos diametralmente opostos da imigração brasileira na América.
Os enfoques não poderiam ter sidos mais diferentes.
O New York Times, conhecido por sua causticidade, deu tom exagerado e tintas carregadas à questão do retorno de brasileiros ao Brasil.
Por outro lado, o Sun-Sentinel, veículo norte-americano muito mais envolvido e cons-
ciente da realidade imigratória brasileira no país, enfatizou o impressionante crescimento da nossa presença no sul da Flórida.
Enquanto a matéria do New York Times veio totalmente destituída de estatísticas rele-vantes, baseando-se em opiniões pessoais e especulativas, a reportagem do Sun-Sentinel exibiu números, estatisticas e conceitos baseados em uma realidade objetiva.
Dessa forma, pode-se avaliar como a atua-ção de um veículo de comunicação varia e tem conseqüências dependendo da seriedade e precisão na manipulação de informações e averiguação de dados.
Não sei exatamente qual o interesse do New York Times em pintar com tons dramáticos o que foi chamado de “o fim do sonho americano para os brasileiros”. A reportagem causou celeuma e gerou uma outra, ainda mais controversa, no Fantástico, da TV Globo. A combinação dessas duas matérias chegou a ser devastadora para algumas comunidades brasileiras, por passar uma sensação de que a comunidade estaria se “retirando em massa”.
Sim, é verdade que um número acima do habitual de brasileiros está retornando ao Brasil. De fato, o impacto da recessão econômica norte-americana e da demora na legalização imigratória, são fatores que elevaram o estresse de algumas famílias residentes nos EstadosUnidos.
Entretanto, quem se der ao trabalho de analisar números e estatísticas verá que este volume de retornos acima da média, está longe, mas muito longe de ser considerado um êxodo em massa. Proporcionalmente arrisco dizer que é bem menor do que o ocorrido no final dos anos 90, quando a maxivalorização do dólar, em relação à nossa moeda, “quebrou” todo o comércio que viria do turismo em Miami, Orlando e New York.
Naquele momento, foram, sim, milhares de brasileiros retornando. Eram brasileiros que estavam aqui única e exclusivamente para ganhar dinheiro em cima do “boom” turístico.
Curiosamente, toda vez que ocorrem esses “fenômenos sazonais” de retorno de brasileiros, a comunidade permanente cresce e se fortalece. De 1999 para 2007 a comunidade brasileira nos Estados Unidos cresceu mais de 500%.
O que a reportagem do “Sun Sentinel” revela é justamente a “outra face” desta mesma moeda. Uma presença brasileira cada vez maior e mais influente na economia, cultura e demais aspectos de vida no Sul da Flórida. Em quem acreditar? Em primeiro lugar, em seu próprio bom senso.
Dependendo do lugar onde você viva, do tipo de trabalho que você faça, do seu círculo de amizades e relacionamentos, você terá uma sensação bem diferente do tal “êxodo de brasileiros”. Certamente os setores de nossa comunidade mais sensíveis à questão imobiliária, de emprego na construção civil, ou totalmente impossibilitados de uma chance de legalização, esses apresentarão um percentual muito mais alto de pessoas que pensam na volta como uma alternativa prática. Mesmo entre esses, a distância entre os que pensam na possibilidade e os que a executam, é enorme.

