Dúvidas e autoestima - Viver Bem

Por Gazeta News

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Adriana Tanese Nogueira*

"A dúvida não deve ser nada além da atenção, caso contrário pode tornar-se  perigosa". Georg Christoph Lichtenberg (físico e escritor alemão 1742-1799)

Quando se está tomando um caminho novo, ter dúvidas é normal. E a dúvida é útil porque serve para esclarecer e averiguar com mais informações e reflexão a situação na qual nos encontramos e o que temos à disposição. Lidar com a dúvida, porém, não é tão simples. Por um lado, ela parece ser racional, exigindo raciocínio e informações para ser resolvida. Por outro, ela pode se tornar uma espinha no pé que impede o caminhar. Isso acontece porque por trás da dúvida se esconde outra questão mais séria.

Digamos, por exemplo, que temos dúvidas em relação a qual caminho tomar, se o da serra ou aquele da beira-mar para chegar em um determinado lugar. Não sabemos qual é mais rápido e seguro numa determinada hora do dia. Uma vez que juntarmos as informações sobre distância, trânsito e condições da estrada, sobre experiências passadas e parecer dos outros, a resposta final vai nascer de um ato de fé. Não temos como ter certeza de nada, portanto, a dúvida não pode nunca ser extinguida por completo (a menos que não seja uma dúvida matemática!). Essa fé, por sua vez, é fé na vida, mas também é, sobretudo, na fé-no-que-se-sente-da-vida. A fé na vida é mediada pela nossa percepção, que no fundo se resume à fé que temos em nós mesmos. A confiança que depositamos em nossas percepções (internas e externas) está ligada à nossa autoestima.

Ao focar na busca por certezas e seguranças, estamos demonstrando não ter boa autoestima, porque essa busca alimenta, como num círculo vicioso, a própria dúvida. Sabemos que não há certezas absolutas fora as equações numéricas, portanto, procurar por certezas eleva automaticamente o grau de nossa insegurança, além de nos iludir. Mascarados de racionalidade, bom senso e cautela, os discursos da dúvida cozinham em fogo a falta de confiança que uma pessoa tem em si, no que sente, no que pensa, no que quer e no como age. Ou seja: na baixa autoestima. Como é, então, que se tomam as decisões mais difíceis? Uma vez que a razão fez seu dever de casa – o que é importante – tendo esclarecido tudo o que estava ao seu alcance, tomar a decisão nasce de algo irracionalmente positivo que move (ou não) nossas pernas e nos leva adiante (ou nos mantém firmes), fieis ao que nosso ser sente como verdade. E as coisas acontecem. Conforme as dúvidas são enfrentadas racionalmente no sentido de atraírem atenção para um determinado tópico que necessida de aprofundamento e reflexão, na pessoa com boa autoestima vai ao mesmo tempo crescendo  um sentimento de confiança na direção de determinada escolha. E o que ela faz? Ela segue. E segue alegre porque quando se encontra o caminho surge ao mesmo tempo o sentimento de alegria. Mas a mente pode continuar perturbada, torturada pela dúvida e aí o sentimento de alegria é criticado como leviandade e, portanto, sufocado. Nesse caso, a pessoa volta à estaca zero e se diz que está empacada. Geralmente, ela permanecerá assim até um novo ciclo da vida a impulsionar a tentar dar o salto de confiança, o que às vezes demora muitos anos. E a vida vai passando. Dúvidas em doses oportunas são adequadas e importantes para tomar decisões, mas quando se arrastam por muito tempo revelam que o que impede de ir adiante não são as circunstâncias externas, mas algo dentro da pessoa. Ou seja, o problema é psicológico e deve ser abordado nesse sentido para ter chances de ser resolvido. Fazer diferente é só mais uma armadilha daquele aspecto humano enrolão e medroso que precisa ser mantido sob controle se se quer ter sucesso na vida.

*Adriana Tanese Nogueira é psicanalista e life coach www.ATNHumanize.com