O que é a felicidade? - Viver Bem
Os animais presos no zoológico não são felizes. Lentos nos movimentos, imóveis ou agitados, olhos apagados, expressão passiva: são os sinais de quem está deprimido. Um leão numa jaula não pode ser feliz; um urso entre paredes de cimento de um espaço artificial pintado de branco também não pode ser feliz; assim como não o é uma abelha impedida de produzir mel; uma águia tolhida de voar alto; e um jacaré obrigado a ficar na areia seca. Eles não podem ser felizes porque são impossibilitados de seguir e realizar sua natureza. Vivem em condições que violam aquilo que são, reprimindo suas necessidades essenciais. Recebem comida e abrigo, mas e daí? É evidente que não são suficientes para um animal ser feliz, o que dirá de nós, humanos.
Uma criança trancada em casa vai entrar em depressão, porque crianças precisam se movimentar e explorar o território a fim de conhecer e se conhecer. Lembro de um caso sobre o qual fui consultada: um bebê, de poucos meses, “vivia chorando”. A mãe era uma jovem do Nordeste, sem educação alguma. Quem me contou o caso foi a vizinha, preocupada que havia notado que o bebê parava de chorar durante o único passeio diário que a mãe fazia com ele no carrinho. No resto do tempo, esse recém-nascido o transcorria em seu berço, num quarto pequeno e sozinho…
O que aprendemos com isso? Que um ser humano de poucos meses instintivamente rejeita uma vida circunscrita, desinteressante e isolada. Já tão pequeno ele é intolerante à imobilidade e à ausência de estímulo/aprendizado visual, auditivo, emocional, táctil e cognitivo.
Na troca com o mundo que promove o conhecimento, na autodescoberta e a expansão do ser consiste a felicidade. Ter dinheiro, cultura e companhia são instrumentos para promover esse crescimento e desabrochamento, mas não fazem a felicidade, pois pode-se ter isso tudo, como vemos em tantos exemplos de vida a nossa volta, e não sermos felizes.
O cerne da felicidade está nesse intercâmbio consciente e no aprendizado que dele se pode fazer, entre experiência e conhecimento que leva ao brotar e florescer de cada um, o que se torna expansão da consciência. A essência humana está em sua consciência. Em todo o resto os animais são superiores a nós. Somente o conhecimento e a experiência acendem a faísca da consciência.
Cada um tem um tipo de experiência e de conhecimento a fazer. Sua alma sabe o que é, tem a ver com a unicidade de cada indivíduo – se ele conseguir sair dos caixotes e entrar em contato consigo mesmo, o descobrirá. Somos todos faces da mesma humanidade, mesma raiz e mesma vocação humana. Como flores do mesmo jardim, nosso destino é florescer. Florescendo vem a felicidade. Florescer é felicidade. No que cada um vai florescer é surpresa. Diferentemente das flores, porém, esse florescer precisa ser acompanhado pelo trabalho de consciência e de conhecimento.
Tudo é bom. É preciso se permitir ser o nosso verdadeiro EU e para isso os caixotes e estereótipos devem ser jogados no lixo. Quem vai começar?
