O que é a piometra? - Saúde Animal

Por Dra. Paula Ferreira

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A piometra é uma infecção uterina que afeta cadelas e gatas que não são castradas. Esse processo pode acontecer em qualquer fase da vida do animal após o primeiro cio, mas é mais comum em animais de meia idade.

A palavra piometra deriva do latin “pio”, que significa pus; e “metra”, que significa útero. Portanto, a piometra é a presença de pus dentro do útero. O pus é uma mistura de glóbulos brancos e bactérias. Quando o cervix do útero está aberto, a piometra é chamada “aberta” e o pus fica saindo aos poucos pelo canal vaginal. Mas o pus pode ficar preso dentro do útero se a piometra for do tipo “fechada”, e por isso o perigo de ruptura do útero é maior na piometra fechada. Essa ruptura dentro do abdômen causa risco de vida à fêmea por seus efeitos tóxicos (peritonite).

Quando a fêmea entra no cio, os níveis do hormônio progesterona se elevam para preparar o útero para uma possível gravidez. Durante a vida do animal, esse ciclo se repete várias vezes e as paredes uterinas começam a engrossar e a formar quistos, que produzem um líquido que fica retido no interior do útero. Este líquido cria um ambiente favorável ao crescimento de bactérias. Todas a fêmeas possuem uma flora bacteriana normal ao redor da vagina, e essas bactérias penetram a cervix uterina e se multiplicam dentro do útero.

Os sintomas da piometra aberta são bastante óbvios, pois a fêmea apresenta descarga vaginal de cor amarela, marrom ou rosada, e às vezes com mal cheiro muito forte. Mas se a piometra for do tipo fechada, os sintomas são de fraqueza, falta de apetite, sede e micção constante, e até mesmo vômito e diarreia.

O veterinário faz o diagnóstico da piometra baseado na história clínica (sintomas aparecem geralmente 1 ou 2 meses após o último cio), sintomas apresentados, exames laboratoriais e exames de raios-X. Nos exames de laboratório, o hemograma pode demonstrar um aumento significativo da contagem de glóbulos brancos (leucócitos). Nas radiografias, muitas vezes é possível visualizar o útero inchado. Numa cadela ou gata normal, o útero não é visível no raio-X.

O tratamento da piometra mais usado atualmente é o cirúrgico, ou seja, a castração da fêmea. Infelizmente, antes da cirurgia, o animal está doente e quase sempre precisa de estabilização com soro intravenoso, antibióticos e eletrólitos balanceados para que possa suportar a anestesia e o procedimento cirúrgico. A grande vantagem do tratamento cirúrgico é a retirada completa do útero com o seu conteúdo tóxico. Além disso, as chances de retorno da infecção são quase nulas. Como qualquer cirurgia, existem riscos de complicações anestésicas e pós-operatórias.

Às vezes, o veterinário se encontra diante de um animal extremamente valioso, no qual o dono não permite a castração, pois tem planos de voltar a usar a fêmea para fins reprodutivos. Nestes casos, o objetivo do tratamento é a expulsão do pus e toxinas para fora, via canal vaginal. Obviamente, este tratamento requer um cervix aberto. Drogas que estimulam a contração uterina combinadas com antibióticos são usadas para tentar preservar o útero da fêmea com piometra. Este tratamento geralmente leva uma semana ou mais para resolver a infecção, e a ruptura do útero com consequente peritonite é um risco possível. Além disso, se o tratamento funcionar, a cadela pode sofrer outras piometras no futuro. Esse tratamento não garante que o útero da fêmea será apto a uma futura gravidez, pois pode ter lesões irreversíveis em consequência da piometra.

As gatas, de uma forma geral, se recuperam da cirurgia com mais facilidade que as cadelas, que requerem mais tempo de hospitalização para reidratação e correção de anormalidades dos eletrólitos.

A prevenção da piometra é a castração (ovário-histerectomia). A recomendação é fazer a cirurgia logo antes do primeiro cio, mas se a fêmea já entrou no cio algumas vezes, a cirurgia também pode ser feita sem problemas, assim como não há nenhum mal em castrar uma fêmea que já teve filhotes no passado. Eu sempre recomendo a castração dos filhotes por volta de 5-6 meses de idade, a não ser que o animal tenha algum valor reprodutivo, como no caso de cães e gatos de exposição. A grande diferença entre fazer uma castração planejada cedo e fazer uma castração durante uma piometra é o delicado estado de saúde da fêmea com piometra, e isso pode significar a diferença entre a vida e a morte. Além do mais, as cirurgias planejadas não requerem períodos de hospitalização extensos nem tratamentos intensivos, o que significa um custo muito mais alto para o dono do animal.