Editorial- A ideia de suicídio mascarada pelo mundo virtual

Por Arlaine Castro

Quando se fala em cuidar do corpo e da alma há que se incluir nesse combo a mente. Por quê? Porque nem sempre uma pessoa que parece esbanjar saúde, tem um corpo saudável, leva uma vida acima de qualquer suspeita de fraquezas e decepções, está realmente bem. O que nos faz refletir são casos de pessoas que até então, aos olhos da maioria, deveriam estar superfelizes e de bem com a vida, mas acabam com a própria vida. Como a recente morte do coach e personal trainer Roberto Bueno, 46 anos, encontrado morto, na semana passada, na casa onde morava em Miami. O profissional tirou a própria vida, segundo pessoas próximas, e o caso chocou o público. Entre amigos e clientes, conquistou mais de 2 milhões de seguidores no Instagram e era considerado 'guru das famosas'. Bueno ajudou milhares de pessoas a melhorar a saúde, a autoestima, o conquistar o autocontrole, mas ele mesmo sucumbiu a tudo isso. Estima-se que mais de 300 milhões de pessoas sofram com a depressão no Brasil, de acordo com a OMS, e 800 mil cometem suicídio. No mundo, segundo a Organização Mundial de Saúde, o suicídio é a segunda causa de mortes entre jovens entre 15 e 29 e já é considerado uma epidemia. Estar bem por dentro entende-se estar bem com a sua mente. A saúde mental, hoje ainda mais discutida e mostrada sua importância, faz vítimas o tempo todo. As pessoas que escondem que estão sofrendo não conseguem, por 'N' motivos, expor o que estão sentindo - são as principais vítimas. Por trás de tudo isso existe uma "alavanca" - o preconceito. Até quando falar sobre depressão sem ser julgado pela sociedade como incapaz ou preguiçoso será considerado um tabu? A ideia de ter sempre que passar a imagem de sucesso, autocontrole e felicidade é avassaladora. Mais ainda para quem sofre da doença, mas precisa se manter firme nas redes sociais. "É como se os suicídios se tornassem invisíveis, por serem um tabu sobre o qual mantemos silêncio. Os homicídios são uma epidemia. Mas os suicídios também merecem atenção porque alertam para um sofrimento imenso, que faz o jovem tirar a própria vida", alerta Waiselfisz, coordenador da Área de Estudos da Violência da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso). Segundo a OMS, a depressão será a doença mental mais incapacitante do mundo até 2020. De acordo com dados da OMS, a quantidade de casos de depressão cresceu 18% em dez anos. Tudo isso, aliado ao mundo das redes sociais, no qual muitas pessoas tentam passar uma vida que não é a que elas realmente vivem, pode ser a chave para uma depressão e uma falta de vontade de viver. Tudo porque, ao navegar nas redes sociais, têm-se a ideia de que todo mundo é muito feliz e só você está ali, com problemas e lotado de boletos para pagar. "A postagem dos outros se torna uma provocação e é preciso se mostrar melhor. Mudar a aparência não é mais suficiente, é preciso fingir outra vida", define Cleonio Dourado no texto "A linda falsa vida que muitos sentem a necessidade de mostrar". Infelizmente, há uma cobrança coletiva para sempre sermos felizes e iguais a todos. Por trás de cada foto postada espalhando sorrisos, pode haver uma pessoa que não está bem. E tentar competir nesse mundo é o que pode trazer obstáculos e sem muita demora, uma depressão. Dessa forma, o limite entre o real e o virtual deve ser respeitado. A busca por uma vida boa e saudável pode e deve ser o mais importante. Não existe a vida perfeita como tentam mostrar nas redes. E Ninguém sabe o que se passa na mente de uma pessoa. Até a que parece feliz. Eis o segredo - a vida virtual não pode ser diferente da que realmente se vive.