Editorial: Brumadinho - O rastro de destruição que se repete

Por Arlaine Castro

barragem brumadinho Foto Washington Alves Reuters
[caption id="attachment_179977" align="alignleft" width="372"] Barragem devastou Brumadinho. Foto: Washington Alves/Reuters.[/caption] Mais uma vez o Brasil vê um “rio de lama” preencher o lugar das águas e do solo natural. E, novamente, chora. Foi outro dia mesmo que uma comunidade inteira foi levada pelos rejeitos de minério de uma barragem da mesma mineradora que se rompeu. Não estamos falando de Brumadinho, em Belo Horizonte. Ainda não. Mas de Bento Gonçalves, um distrito de Mariana, cidade histórica, também em Minas Gerais, que viu o mesmo sofrimento há três anos. Agora, com mais esse desastre de Brumadinho, a Vale do Rio Doce, a segunda maior mineradora do mundo, que vale no mercado financeiro mais de $300 bilhões de dólares, conseguiu mostrar que um monte de fatores, somados à falta de compromisso com a vida humana, acabam em um rastro de destruição, mortes e pessoas desaparecidas. Tragédia ambiental é furacão, tsunami. Brumadinho e Mariana, não. E nem acidente. Ambos poderiam ter sido evitados com manutenção, investimentos em itens de segurança e fiscalização. Foi um crime mesmo. A empresa é reincidente e os responsáveis precisam ser punidos com severidade. É nisso que acreditamos. Que deve haver punição para algo que poderia ter sido evitado, e não foi. Tanto é que as vítimas de Mariana ainda clamam por justiça e lutam contra as manobras judiciais da direção da companhia para receber suas indenizações. “Desde o rompimento de Fundão, nada foi feito para evitar que esse tipo de desastre aconteça”, afirmou o procurador Carlos Eduardo Ferreira Pinto, chefe da força-tarefa que investigou o rompimento em 2015 da barragem do Fundão, em Mariana, ao tomar conhecimento do novo desastre. A frase publicada pela Folha de São Paulo mostra claramente como tudo continuou funcionando perfeitamente no que se refere à companhia. Pelo contrário, a Vale recuperou rapidamente o valor de mercado depois da tragédia em Mariana. Ou seja, o lucro das grandes empresas continuam operando em detrimento de vidas. O G1 publicou um levantamento dos ganhos da Vale depois de 2015, feito por um professor da Fundação Instituto de Administração (FIA), Marcos Piellusch, “com base em dados divulgados pelas próprias empresas, que mostra que a remuneração da diretoria da companhia também cresceu desde 2015. Naquele ano, foram pagos R$ 93,3 milhões aos executivos, sendo R$ 22,28 milhões em salário. No ano seguinte, a remuneração total paga caiu para R$ 57,98 milhões – mas voltou a subir nos anos seguintes, para R$ 161,38 milhões em 2017, e R$ 170,54 milhões em 2018”, cita a publicação de 28 de janeiro. Além da busca por lucro, apesar de ter uma boa legislação ambiental, falta fiscalização. A falha e a impunidade levam a novas tragédias, já alertam especialistas. “A legislação que temos é suficiente. O problema não está nela, mas em fazer com que ela seja aplicada na prática, porque faltam investimentos nos órgãos de controle. Um segundo acidente em tão pouco tempo mostra que a fiscalização é deficiente e não está conseguindo evitar vazamentos”, afirmou Rômulo Sampaio, professor de direito ambiental da Fundação Getúlio Vargas no Rio de Janeiro à BBC. Enfim, o Brasil chora por Brumadinho - um dos maiores crimes ambientais do mundo e que, lamentavelmente, coloca o país na lista dos que mais não conseguem evitar essas grandes tragédias.