Editorial: Operação Carne Fraca é mais um ponto negativo para o Brasil no exterior

Por Arlaine Castro

Após alguns dias da Operação Carne Fraca ganhar proporções incontroláveis e colocar o Brasil novamente como assunto mundial, a Polícia Federal veio a público informar que os problemas de fiscalização alardeados, na verdade, são pontuais, e que o sistema de inspeção federal não pode ser questionado de maneira generalizada.

“Embora as investigações da Polícia Federal visem apurar irregularidades pontuais identificadas no Sistema de Inspeção Federal (SIF), tais fatos se relacionam diretamente a desvios de conduta profissional praticados por alguns servidores e não representam um mal funcionamento generalizado do sistema de integridade sanitária brasileiro”, disse a PF em nota.

A operação investiga há dois anos o esquema de pagamento de propina a fiscais federais para burlar a fiscalização em empresas produtoras de carne, entre outras irregularidades. De acordo com as informações divulgadas, o esquema abastecia o caixa de campanha de partidos políticos como o PP e PMDB, mas não soube dizer quem foram os beneficiados e nem tem noção do volume de propina movimentado.

Com o assunto circulando na mídia globalmente desde a última sexta-feira, a visão de um Brasil que não funciona ou, quando funciona é na base da corrupção, a exportação da carne brasileira foi proibida e o próprio mercado internacional consumidor já não está tão confiante. Alguns países chegaram a cancelar importações, mesmo que temporariamente.

Mesmo assim, a explicação da PF de que o problema foi detectado em alguns frigoríficos e não em todos do país se deu quando os veículos de comunicação já tinham passado a ideia de que a carne podre é comercializada em todos os supermercados e açougues do país e quiçá, no exterior.

Descobriu-se que alguns frigoríficos, na verdade os maiores do país, com outras dezenas de empresas, montaram uma rede de corrupção no Ministério da Agricultura para que fiscais agropecuários emitissem licenças para que carne podre, regada a ácido, fosse vendida sem problema. Mas não são todos os frigoríficos do país envolvidos, diga-se de passagem.

Governo tenta amenizar o prejuízo Agora, depois do escândalo divulgado mundialmente, na tentativa de não perder muito dinheiro, o governo se prepara para enviar missões ao exterior para dirimir a ideia de que a carne brasileira é podre.

O modo generalizado como a investigação foi divulgada pela PF não agradou o Palácio do Planalto que considerou um estardalhaço sem precedentes, uma vez que estavam sendo investigados fiscais e alguns frigoríficos, não todos do país, como foi passada a ideia inicial. Para o governo, fraudes localizadas foram transformadas em um problema sistêmico com ampla repercussão internacional.

A disputa mundial é um jogo pesado, onde os aspectos sanitários são essenciais e nem sempre aceitos por todas as regiões do mundo. Foi uma luta árdua do país para assumir um protagonismo no mercado mundial de alimentos e, especialmente, no comércio mundial de carnes.

Por toda a corrupção descoberta e também pelo modo como a operação foi divulgada para a mídia, essa repercussão econômica negativa custará caro ao Brasil. É só mais uma. Mais uma vez em que a imagem do país repercute no exterior e agora bate “de frente” com um mercado consumidor que estava em expansão. Estava. Agora é também pagar pra ver mais essa crise.

Com informações da Revista GGN e Folha de São Paulo.